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“Ainda há muito a ser feito para que o eco da sociedade reflita no Parlamento”

Há muitas formas de se definir a política. Sob o ponto de vista linguístico, a palavra política deriva da expressão grega “politikós” que significa aquilo que pertence aos cidadãos. Nesse sentido, parece ser óbvio que os representantes da administração pública, os políticos, devam respeitar os anseios da sociedade. Mas essa regra não se aplica ao Brasil. Aqui é possível que o presidente do Senado seja eleito mesmo com a reprovação […] Leia mais

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Da Redação

Publicado em 7 de março de 2013 às 16h23.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 09h07.

Há muitas formas de se definir a política. Sob o ponto de vista linguístico, a palavra política deriva da expressão grega “politikós” que significa aquilo que pertence aos cidadãos. Nesse sentido, parece ser óbvio que os representantes da administração pública, os políticos, devam respeitar os anseios da sociedade. Mas essa regra não se aplica ao Brasil. Aqui é possível que o presidente do Senado seja eleito mesmo com a reprovação de parte expressiva da opinião pública.

Para entender o impacto da eleição dos novos líderes do Congresso, Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, sobre a percepção dos cidadãos a respeito da validade das conquistas legais como a Lei da Ficha Limpa, o Imil entrevistou a diretora do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Jovita José Rosa. A diretora do MCCE não acredita que a eleição dos presidentes do Senado e da Câmara, que respondem a processos na Justiça, afastará os cidadãos do processo político.  “Ainda há muito a ser feito para que o eco da sociedade reflita no Parlamento. Mas, em nenhum momento penso que a nossa luta e a nossa mobilização foram em vão”, afirma. Jovita cita a realização da 1ª Conferência Nacional sobre Transparência e Controle Social, a Consocial, como um avanço importante para o Brasil.

Instituto Millenium: A senhora acredita que a eleição dos novos líderes do Congresso, Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, promovem uma descrença do cidadão brasileiro no que diz respeito a sua capacidade de transformar a política nacional?
Jovita José Rosa: Participei ativamente da mobilização pela implementação da Lei da Ficha Limpa e percebo que a eleição de Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves mostra que ainda há muito a ser feito para que esse eco da sociedade reflita no Parlamento. Em nenhum momento penso que a nossa luta e a nossa mobilização foram em vão. De forma alguma. A Ficha Limpa trouxe um debate político que não estávamos acostumados a ver na sociedade brasileira. Mas, ainda temos que avançar muito na luta pela transparência e pela probidade.

Imil: Mesmo com a Lei da Ficha Limpa esses políticos foram eleitos para a presidência do Senado e da Câmara. Há uma separação entre a política nacional e as demandas da população brasileira, por quê?
Jovita: As coisas ainda não estão acontecendo da forma como a população deseja. Acredito que a cultura da transparência e do acompanhamento do legislativo precisa “pegar”. Não temos que nos manifestar apenas contra a eleição dos presidentes do Senado e da Câmara. Também precisamos saber para onde estão sendo enviadas e para que estão sendo criadas as emendas parlamentares. Precisamos acompanhar o Legislativo mais de perto. Há uma memória curta dos eleitores brasileiros. Não fazemos cobranças aos políticos que elegemos.

Espero que toda essa movimentação, que reuniu quase 2 milhões de assinaturas contra a eleição de uma pessoa, se propague junto a todos os parlamentares que não exercem a prerrogativa da fiscalização do poder Executivo, que é uma obrigação deles.  Carecemos de uma oposição responsável que fiscalize e cobre do Executivo maior transparência e melhorias das políticas públicas. Não temos um grupo de parlamentares para fazer esse tipo de cobrança. Podemos usar a saúde publica como exemplo, pois mesmo com os repasses feitos pelo Ministério da Saúde não temos visto melhorias no atendimento à população brasileira. O que os parlamentares tem feito em relação a isso?

Então todas as pessoas que assinaram o abaixo assinado contra o Renan Calheiros devem voltar-se para a fiscalização dos parlamentares em seus estados. Porque a partir do momento que eles se sentirem acompanhados vamos conseguir avançar.

Imil: A internet facilitou a mobilização e participação dos cidadãos na agenda política. No entanto, ainda notamos a repetição de velhos problemas da esfera pública. A tendência é que os movimentos populares aumentem diante da democratização cada vez maior dos meios de comunicação, via web, ou haverá um enfraquecimento dessas iniciativas devido a permanência dos maus hábitos?
Jovita: Acho que estamos diante de um novo movimento social no Brasil. Temos feito um controle social mais independente e mais autônomo. Esse movimento tem cobrado transparência e probidade, tem feito denuncias ao Ministério Público. A tendência desse tipo de movimento é crescer a partir da democratização do acesso às redes sociais. Não podemos ficar apenas reclamando de braços cruzados. Temos que agir.

O Brasil tem muitas organizações não governamentais que trabalham exclusivamente com o controle social como a Rede Amarribo, que já resultou na convocação de uma conferência sobre transparência e controle social. Foi uma solicitação da sociedade que foi aprovada pelo governo federal e resultou na 1ª Consocial, em 2012, quando foram aprovadas 80 propostas.  Agora estamos cobrando a execução dessas propostas do governo.

Imil: A senhora falou do surgimento de um novo movimento social no Brasil. Historicamente, os movimentos sociais ficaram restritos aos centros urbanos e às camadas mais esclarecidas da população como os estudantes e os membros de organizações sociais. Há um movimento de ampliação do alcance dos movimentos sociais?
Jovita: Com o avanço da internet acho que esses movimentos vão se alastrar, mesmo que não seja em uma velocidade muito grande. Creio que a tendência é que esse novo movimento social seja crescente. Mesmo que ele não cresça na mesma proporção que teve na classe média e da classe média alta nesse momento. Mesmo porque essa realidade de classe média tem se modificado nos últimos anos no Brasil. Muitas pessoas de classe menos favorecidas têm tido mais acesso à educação por intermédio da internet. A conscientização política tem se formado e não há como voltar atrás nesse processo. Estamos em um caminho sem volta. Ou é transparência ou é transparência.

Há muitas formas de se definir a política. Sob o ponto de vista linguístico, a palavra política deriva da expressão grega “politikós” que significa aquilo que pertence aos cidadãos. Nesse sentido, parece ser óbvio que os representantes da administração pública, os políticos, devam respeitar os anseios da sociedade. Mas essa regra não se aplica ao Brasil. Aqui é possível que o presidente do Senado seja eleito mesmo com a reprovação de parte expressiva da opinião pública.

Para entender o impacto da eleição dos novos líderes do Congresso, Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, sobre a percepção dos cidadãos a respeito da validade das conquistas legais como a Lei da Ficha Limpa, o Imil entrevistou a diretora do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Jovita José Rosa. A diretora do MCCE não acredita que a eleição dos presidentes do Senado e da Câmara, que respondem a processos na Justiça, afastará os cidadãos do processo político.  “Ainda há muito a ser feito para que o eco da sociedade reflita no Parlamento. Mas, em nenhum momento penso que a nossa luta e a nossa mobilização foram em vão”, afirma. Jovita cita a realização da 1ª Conferência Nacional sobre Transparência e Controle Social, a Consocial, como um avanço importante para o Brasil.

Instituto Millenium: A senhora acredita que a eleição dos novos líderes do Congresso, Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, promovem uma descrença do cidadão brasileiro no que diz respeito a sua capacidade de transformar a política nacional?
Jovita José Rosa: Participei ativamente da mobilização pela implementação da Lei da Ficha Limpa e percebo que a eleição de Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves mostra que ainda há muito a ser feito para que esse eco da sociedade reflita no Parlamento. Em nenhum momento penso que a nossa luta e a nossa mobilização foram em vão. De forma alguma. A Ficha Limpa trouxe um debate político que não estávamos acostumados a ver na sociedade brasileira. Mas, ainda temos que avançar muito na luta pela transparência e pela probidade.

Imil: Mesmo com a Lei da Ficha Limpa esses políticos foram eleitos para a presidência do Senado e da Câmara. Há uma separação entre a política nacional e as demandas da população brasileira, por quê?
Jovita: As coisas ainda não estão acontecendo da forma como a população deseja. Acredito que a cultura da transparência e do acompanhamento do legislativo precisa “pegar”. Não temos que nos manifestar apenas contra a eleição dos presidentes do Senado e da Câmara. Também precisamos saber para onde estão sendo enviadas e para que estão sendo criadas as emendas parlamentares. Precisamos acompanhar o Legislativo mais de perto. Há uma memória curta dos eleitores brasileiros. Não fazemos cobranças aos políticos que elegemos.

Espero que toda essa movimentação, que reuniu quase 2 milhões de assinaturas contra a eleição de uma pessoa, se propague junto a todos os parlamentares que não exercem a prerrogativa da fiscalização do poder Executivo, que é uma obrigação deles.  Carecemos de uma oposição responsável que fiscalize e cobre do Executivo maior transparência e melhorias das políticas públicas. Não temos um grupo de parlamentares para fazer esse tipo de cobrança. Podemos usar a saúde publica como exemplo, pois mesmo com os repasses feitos pelo Ministério da Saúde não temos visto melhorias no atendimento à população brasileira. O que os parlamentares tem feito em relação a isso?

Então todas as pessoas que assinaram o abaixo assinado contra o Renan Calheiros devem voltar-se para a fiscalização dos parlamentares em seus estados. Porque a partir do momento que eles se sentirem acompanhados vamos conseguir avançar.

Imil: A internet facilitou a mobilização e participação dos cidadãos na agenda política. No entanto, ainda notamos a repetição de velhos problemas da esfera pública. A tendência é que os movimentos populares aumentem diante da democratização cada vez maior dos meios de comunicação, via web, ou haverá um enfraquecimento dessas iniciativas devido a permanência dos maus hábitos?
Jovita: Acho que estamos diante de um novo movimento social no Brasil. Temos feito um controle social mais independente e mais autônomo. Esse movimento tem cobrado transparência e probidade, tem feito denuncias ao Ministério Público. A tendência desse tipo de movimento é crescer a partir da democratização do acesso às redes sociais. Não podemos ficar apenas reclamando de braços cruzados. Temos que agir.

O Brasil tem muitas organizações não governamentais que trabalham exclusivamente com o controle social como a Rede Amarribo, que já resultou na convocação de uma conferência sobre transparência e controle social. Foi uma solicitação da sociedade que foi aprovada pelo governo federal e resultou na 1ª Consocial, em 2012, quando foram aprovadas 80 propostas.  Agora estamos cobrando a execução dessas propostas do governo.

Imil: A senhora falou do surgimento de um novo movimento social no Brasil. Historicamente, os movimentos sociais ficaram restritos aos centros urbanos e às camadas mais esclarecidas da população como os estudantes e os membros de organizações sociais. Há um movimento de ampliação do alcance dos movimentos sociais?
Jovita: Com o avanço da internet acho que esses movimentos vão se alastrar, mesmo que não seja em uma velocidade muito grande. Creio que a tendência é que esse novo movimento social seja crescente. Mesmo que ele não cresça na mesma proporção que teve na classe média e da classe média alta nesse momento. Mesmo porque essa realidade de classe média tem se modificado nos últimos anos no Brasil. Muitas pessoas de classe menos favorecidas têm tido mais acesso à educação por intermédio da internet. A conscientização política tem se formado e não há como voltar atrás nesse processo. Estamos em um caminho sem volta. Ou é transparência ou é transparência.

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