Pode o trabalho remoto ser uma oportunidade de política de revitalização econômica?
Nos Estados Unidos, algumas cidades viram uma oportunidade para atrair pessoas talentosas e reinventar sua economia local
Da Redação
Publicado em 30 de junho de 2022 às 00h04.
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis , o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Por Thomaz Teodorovicz*
A ascensão do trabalho remoto trouxe novas oportunidades para moradores de grandes centros urbanos: a possibilidade de morar no interior sem abrir mão do emprego em municípios maiores. Isso aconteceu não apenas no Brasil, mas em diversas localidades do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, algumas cidades viram uma oportunidade para atrair pessoas talentosas e reinventar sua economia local. Programas como o Ascend WV (na Virgínia Ocidental) e o Tulsa Remote (em Oklahoma) começaram a oferecer uma recompensa financeira para que trabalhadores de atividades remotas se mudem para cidades específicas do interior. Esse cenário abriu espaço para perguntas relativas ao impacto desses tipos de programa sobre os participantes e a localidade afetada.
Em um estudo recente conduzido por mim e pelos professores Raj Choudhury ( Harvard Business School ) e Evan Starr ( University of Maryland ), analisamos o efeito do programa Tulsa Remote [1] . O Tulsa Remote é uma ação que oferece US$ 10.000 para que trabalhadores qualificados de atividades remotas se mudem, por ao menos um ano, para a cidade de Tulsa, em Oklahoma. O programa surgiu com o objetivo de reverter o êxodo de talentos para centros maiores, via o fortalecimento do empreendedorismo e do mercado de trabalho local.
Em nosso estudo, desenvolvemos e aplicamos um instrumento de pesquisa com perguntas sobre preferências e comportamentos atuais (2021) e passadas (2018, ano antes da criação do Tulsa Remote). Estas perguntas abordavam temas como renda, produtividade, local de residência e engajamento social. Idealmente para uma avaliação de impacto, nossa equipe compararia repostas de pessoas aleatoriamente selecionadas para participar do Tulsa Remote e de pessoas que, também por motivos aleatórios, não foram selecionadas. Essa comparação nos permitiria estimar o efeito causal do Tulsa Remote sobre os diversos aspectos mensurados pelo nosso instrumento. No entanto, participação no programa não é aleatória. Participantes passam por um longo processo seletivo e, ultimamente, devem decidir se mudar para Tulsa se forem aprovados.
Para achar grupos comparáveis aos participantes, nossa equipe fez uma parceria com o Tulsa Remote que nos permitiu coletar dados não somente de 411 participantes, mas também de 417 “quase-participantes”, isto é, pessoas que passaram no processo seletivo do programa e que ou decidiram não se mudar no último momento ou estavam com a mudança para a Tulsa agendada para depois de nossa pesquisa. A comparação de participantes com “quase-participantes” permite uma avaliação mais adequada – apesar de não perfeita – sobre o efeito do Tulsa Remote em seus participantes.
De acordo com nossos resultados, o impacto do programa pode ser resumido em três lições-chave:
- Trabalhadores que participaram do Tulsa Remote reportaram preferências mais fortes por continuar residindo em suas respectivas cidades no médio/longo prazo,
- Trabalhadores que participaram do Tulsa Remote são mais engajados socialmente em atividades como suporte a organizações locais, voluntariado e conversas sobre discriminação e
- Trabalhadores que participaram do Tulsa Remote não são menos produtivos, mas experienciam um aumento em sua renda real e poder de compra devido aos menores custos de se morar em Tulsa em relação aos grandes centros urbanos onde eles residiam anteriormente.
Este projeto exemplifica, portanto, o potencial que o trabalho remoto tem para aspectos que vão além das empresas. Governos locais podem se utilizar desta “revolução” no onde e como as pessoas trabalham para atrair talentos e desenvolver suas comunidades.
--
* Thomaz Teodorovicz é pesquisador na Harvard University ( Laboratory for Innovation Science at Harvard) e foi recém-contratado como Professor Assistente pela Copenhagen Business School. Ph.D. em Economia dos Negócios pelo Insper. É especialista em gestão estratégica de capital humano e gestão estratégica em setores de impacto social. Seu principal interesse de pesquisa é compreender como organizações podem alavancar o papel de pessoas em suas atividades e como novas habilidades de gestão podem gerar impacto social e alto desempenho.
[1] Link: https://tulsaremote.com/
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis , o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Por Thomaz Teodorovicz*
A ascensão do trabalho remoto trouxe novas oportunidades para moradores de grandes centros urbanos: a possibilidade de morar no interior sem abrir mão do emprego em municípios maiores. Isso aconteceu não apenas no Brasil, mas em diversas localidades do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, algumas cidades viram uma oportunidade para atrair pessoas talentosas e reinventar sua economia local. Programas como o Ascend WV (na Virgínia Ocidental) e o Tulsa Remote (em Oklahoma) começaram a oferecer uma recompensa financeira para que trabalhadores de atividades remotas se mudem para cidades específicas do interior. Esse cenário abriu espaço para perguntas relativas ao impacto desses tipos de programa sobre os participantes e a localidade afetada.
Em um estudo recente conduzido por mim e pelos professores Raj Choudhury ( Harvard Business School ) e Evan Starr ( University of Maryland ), analisamos o efeito do programa Tulsa Remote [1] . O Tulsa Remote é uma ação que oferece US$ 10.000 para que trabalhadores qualificados de atividades remotas se mudem, por ao menos um ano, para a cidade de Tulsa, em Oklahoma. O programa surgiu com o objetivo de reverter o êxodo de talentos para centros maiores, via o fortalecimento do empreendedorismo e do mercado de trabalho local.
Em nosso estudo, desenvolvemos e aplicamos um instrumento de pesquisa com perguntas sobre preferências e comportamentos atuais (2021) e passadas (2018, ano antes da criação do Tulsa Remote). Estas perguntas abordavam temas como renda, produtividade, local de residência e engajamento social. Idealmente para uma avaliação de impacto, nossa equipe compararia repostas de pessoas aleatoriamente selecionadas para participar do Tulsa Remote e de pessoas que, também por motivos aleatórios, não foram selecionadas. Essa comparação nos permitiria estimar o efeito causal do Tulsa Remote sobre os diversos aspectos mensurados pelo nosso instrumento. No entanto, participação no programa não é aleatória. Participantes passam por um longo processo seletivo e, ultimamente, devem decidir se mudar para Tulsa se forem aprovados.
Para achar grupos comparáveis aos participantes, nossa equipe fez uma parceria com o Tulsa Remote que nos permitiu coletar dados não somente de 411 participantes, mas também de 417 “quase-participantes”, isto é, pessoas que passaram no processo seletivo do programa e que ou decidiram não se mudar no último momento ou estavam com a mudança para a Tulsa agendada para depois de nossa pesquisa. A comparação de participantes com “quase-participantes” permite uma avaliação mais adequada – apesar de não perfeita – sobre o efeito do Tulsa Remote em seus participantes.
De acordo com nossos resultados, o impacto do programa pode ser resumido em três lições-chave:
- Trabalhadores que participaram do Tulsa Remote reportaram preferências mais fortes por continuar residindo em suas respectivas cidades no médio/longo prazo,
- Trabalhadores que participaram do Tulsa Remote são mais engajados socialmente em atividades como suporte a organizações locais, voluntariado e conversas sobre discriminação e
- Trabalhadores que participaram do Tulsa Remote não são menos produtivos, mas experienciam um aumento em sua renda real e poder de compra devido aos menores custos de se morar em Tulsa em relação aos grandes centros urbanos onde eles residiam anteriormente.
Este projeto exemplifica, portanto, o potencial que o trabalho remoto tem para aspectos que vão além das empresas. Governos locais podem se utilizar desta “revolução” no onde e como as pessoas trabalham para atrair talentos e desenvolver suas comunidades.
--
* Thomaz Teodorovicz é pesquisador na Harvard University ( Laboratory for Innovation Science at Harvard) e foi recém-contratado como Professor Assistente pela Copenhagen Business School. Ph.D. em Economia dos Negócios pelo Insper. É especialista em gestão estratégica de capital humano e gestão estratégica em setores de impacto social. Seu principal interesse de pesquisa é compreender como organizações podem alavancar o papel de pessoas em suas atividades e como novas habilidades de gestão podem gerar impacto social e alto desempenho.
[1] Link: https://tulsaremote.com/