Fome e desigualdade no acesso à alimentação saudável: um grande desafio
Estudo analisa o acesso a estabelecimentos alimentares na capital paulista e constata elevada desigualdade na oferta de alimentos com efeitos na saúde.
Da Redação
Publicado em 28 de junho de 2022 às 00h05.
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis , o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Por Thiago Teixeira de Castro Piovan*
De acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil [1], publicado recentemente, apenas quatro em cada dez famílias brasileiras têm acesso pleno à alimentação e 33 milhões de brasileiros passam fome. Trata-se de um problema que afeta municípios pequenos e grandes, como São Paulo, por exemplo. Na capital paulista, por um lado há locais com alto índice de privação e escassez de fontes de alimentação saudáveis, chamados desertos alimentares, outros com abundância na venda e exposição de alimentos considerados não saudáveis, ricos em calorias, mas pobres em nutrientes (ultraprocessados). Estes locais são definidos como pântanos alimentares e um bom exemplo é o metrô paulistano.
Para entender melhor essas desigualdades e o que justifica determinados locais possuírem resultados nutricionais favoráveis ou desfavoráveis é essencial compreender as iterações do indivíduo com seu ambiente alimentar. Nesse sentido, abordei essa temática na minha dissertação de Mestrado em Políticas Públicas (MPP [2] ), mapeando os estabelecimentos alimentares nos distritos da cidade e dividindo-os em categorias, de acordo com sua oferta predominante de alimentos, conforme a classificação de atividade econômica registrada e a literatura existente.
Dessa forma, os dados coletados mostraram que, em 2020, havia 186 mil estabelecimentos alimentares em São Paulo, o que traduz em 16 estabelecimentos a cada 1.000 habitantes. Ao comparar as densidades dos distritos, verifica-se elevada desigualdade entre eles: 10,7 vezes entre o maior e menor valor, podendo chegar a mais de 30 vezes, a depender da categoria de alimentos. Além disso, foi feita uma análise quantitativa adotando os 96 distritos da capital como amostra e realizando uma regressão linear múltipla. Os resultados evidenciaram que uma maior oferta de estabelecimentos que vendem alimentos majoritariamente saudáveis em relação à disponibilidade de estabelecimentos alimentares da categoria ultraprocessados está associada a uma menor taxa de mortalidade por doenças do aparelho circulatório, ressaltando a importância de reduzir pântanos alimentares.
Por fim, o trabalho agrupou os distritos em alta, média e baixa densidade de estabelecimentos alimentares por meio de uma análise de cluster. Destaca-se que o grupo de baixa densidade ficou com mais de 50% dos distritos (61), enquanto o de alta corresponderam a menos de 10% (8). Distritos mais próximos da região central, com alta movimentação de pessoas e maior acesso a meios de transporte em massa, entre eles Sé, Brás, República e Pari mostraram ter densidade alta de estabelecimentos alimentares. Além desses, o grupo composto por localidades com alta densidade inclui Barra Funda, Pinheiros, Itaim Bibi e Santo Amaro. Por outro lado, os distritos periféricos ficaram com baixas densidades.
A divisão proposta, somada às desigualdades identificadas, tanto entre os distritos como na oferta de alimentos do próprio distrito, pode guiar diferentes focos de políticas públicas de segurança alimentar e nutricional, necessários para solução desse grande desafio.
* Thiago Teixeira de Castro Piovan é engenheiro civil pela Unesp e mestre em Políticas Públicas pelo Insper. Possui experiência em gestão para resultados no governo do Ceará e atualmente trabalha com educação pública no terceiro setor, com projetos que visam ao fortalecimento e sustentabilidade da política de ensino médio integral.
Link: https://olheparaafome.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Relatorio-II-VIGISAN-2022.pdf
Link: https://www.insper.edu.br/pos-graduacao/mestrado/politicas-publicas/
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis , o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Por Thiago Teixeira de Castro Piovan*
De acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil [1], publicado recentemente, apenas quatro em cada dez famílias brasileiras têm acesso pleno à alimentação e 33 milhões de brasileiros passam fome. Trata-se de um problema que afeta municípios pequenos e grandes, como São Paulo, por exemplo. Na capital paulista, por um lado há locais com alto índice de privação e escassez de fontes de alimentação saudáveis, chamados desertos alimentares, outros com abundância na venda e exposição de alimentos considerados não saudáveis, ricos em calorias, mas pobres em nutrientes (ultraprocessados). Estes locais são definidos como pântanos alimentares e um bom exemplo é o metrô paulistano.
Para entender melhor essas desigualdades e o que justifica determinados locais possuírem resultados nutricionais favoráveis ou desfavoráveis é essencial compreender as iterações do indivíduo com seu ambiente alimentar. Nesse sentido, abordei essa temática na minha dissertação de Mestrado em Políticas Públicas (MPP [2] ), mapeando os estabelecimentos alimentares nos distritos da cidade e dividindo-os em categorias, de acordo com sua oferta predominante de alimentos, conforme a classificação de atividade econômica registrada e a literatura existente.
Dessa forma, os dados coletados mostraram que, em 2020, havia 186 mil estabelecimentos alimentares em São Paulo, o que traduz em 16 estabelecimentos a cada 1.000 habitantes. Ao comparar as densidades dos distritos, verifica-se elevada desigualdade entre eles: 10,7 vezes entre o maior e menor valor, podendo chegar a mais de 30 vezes, a depender da categoria de alimentos. Além disso, foi feita uma análise quantitativa adotando os 96 distritos da capital como amostra e realizando uma regressão linear múltipla. Os resultados evidenciaram que uma maior oferta de estabelecimentos que vendem alimentos majoritariamente saudáveis em relação à disponibilidade de estabelecimentos alimentares da categoria ultraprocessados está associada a uma menor taxa de mortalidade por doenças do aparelho circulatório, ressaltando a importância de reduzir pântanos alimentares.
Por fim, o trabalho agrupou os distritos em alta, média e baixa densidade de estabelecimentos alimentares por meio de uma análise de cluster. Destaca-se que o grupo de baixa densidade ficou com mais de 50% dos distritos (61), enquanto o de alta corresponderam a menos de 10% (8). Distritos mais próximos da região central, com alta movimentação de pessoas e maior acesso a meios de transporte em massa, entre eles Sé, Brás, República e Pari mostraram ter densidade alta de estabelecimentos alimentares. Além desses, o grupo composto por localidades com alta densidade inclui Barra Funda, Pinheiros, Itaim Bibi e Santo Amaro. Por outro lado, os distritos periféricos ficaram com baixas densidades.
A divisão proposta, somada às desigualdades identificadas, tanto entre os distritos como na oferta de alimentos do próprio distrito, pode guiar diferentes focos de políticas públicas de segurança alimentar e nutricional, necessários para solução desse grande desafio.
* Thiago Teixeira de Castro Piovan é engenheiro civil pela Unesp e mestre em Políticas Públicas pelo Insper. Possui experiência em gestão para resultados no governo do Ceará e atualmente trabalha com educação pública no terceiro setor, com projetos que visam ao fortalecimento e sustentabilidade da política de ensino médio integral.
Link: https://olheparaafome.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Relatorio-II-VIGISAN-2022.pdf
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