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Ensinar, replicar e mensurar: melhorando a educação pública através da gestão

Práticas de gestão incluem, por exemplo, ter um planejamento claro, com metas definidas e rotinas de monitoramento

(Amanda Perobelli/Reuters)
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marianamartucci

Publicado em 2 de fevereiro de 2021 às 15h00.

Última atualização em 2 de fevereiro de 2021 às 21h19.

Práticas de gestão são simples e notoriamente conhecidas. Elas incluem, por exemplo, ter um planejamento claro, com metas definidas e rotinas de monitoramento. E elas comprovadamente funcionam. Organizações que as adotam vão melhor do que as que não implementam esses instrumentos. Ao considerar os desafios de produtividade enfrentados na gestão pública, olhar para essas práticas parece ser uma boa ideia. Vejamos então!

Parcerias público-privadas e empresas que interagem com esferas governamentais e não governamentais frequentemente fazem o uso dessas práticas ao redor do mundo. Organizações com expertise em gestão transferem esse conhecimento para empreendimentos que ainda não adotam tais práticas e utilizam medidas de avaliação de impacto ( veja mais aqui ) para propriamente mensurar o efeito desses programas. E, bingo: eles funcionam. Quem recebeu as práticas aprende e consegue implementá-las, melhorando o desempenho.

Temos um excelente exemplo em nossa realidade. O Instituto Unibanco é uma entidade com essa expertise em gestão que transfere tais práticas. Um dos principais objetivos do Instituto é melhorar a educação pública no Brasil por meio da gestão. Nos últimos anos, firmaram (e continuam) parcerias com Secretarias de Educação ao redor do país através do programa Jovem de Futuro. O programa mostrou-se bem-sucedido desde o início e apresentou impactos positivos no que mais importa dentro de uma escola: os alunos. Esses vão melhor na escola (notas mais altas) e têm menor chance de evadir. Alunos que estavam no programa durante todo o ensino médio tiveram, em média, um desempenho superior que corresponde a um ano extra na escola. É isso mesmo: práticas de gestão resultaram em estudantes de ensino médio com notas equivalentes a se tivessem estudado um ano a mais!

Um estudo recente que realizei em colaboração com pesquisadores do Insper, HEC Paris e Instituto Unibanco mostra que esses efeitos podem ir além. De certa forma, procuro responder à pergunta: se o Instituto Unibanco encerrasse a parceria, será que os dirigentes escolares conseguiriam continuar a implementar as práticas? A resposta parece ser sim. Tais práticas de gestão estão mais para “aprender a pescar” do que “dar o peixe”. O estudo mostrou que dirigentes públicos conseguem internalizar as práticas e as replicar praticamente de imediato para demais escolas da rede. Ao fazer isso, disseminam os ensinamentos por conta própria, impactando ainda mais estudantes. E melhor, essas práticas são aplicáveis e funcionam mesmo em escolas com poucos recursos (como bibliotecas, computadores ou mesmo professores capacitados).

Mas nem tudo são flores. Há um grande desafio de mensuração pela frente. Os métodos de avaliação não são tão preparados para lidar com esse efeito, dado que a disseminação de práticas, ainda que desejável sob o ponto de vista de valor público, influencia o cômputo da contribuição do parceiro externo. Isso porque pode diminuir o impacto aferido no grupo de tratamento, dado que o grupo sem a intervenção (de controle) acaba também sendo beneficiado com as mesmas práticas. Há, portanto, o desafio para garantir replicação das práticas e, ao mesmo tempo, uma precisa avaliação da contribuição dos parceiros externos. Afinal, avaliar é uma das práticas chaves de uma boa gestão!

*Fernando Deodato é pesquisador do Insper Metricis, doutorando em economia dos negócios.

 

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Práticas de gestão são simples e notoriamente conhecidas. Elas incluem, por exemplo, ter um planejamento claro, com metas definidas e rotinas de monitoramento. E elas comprovadamente funcionam. Organizações que as adotam vão melhor do que as que não implementam esses instrumentos. Ao considerar os desafios de produtividade enfrentados na gestão pública, olhar para essas práticas parece ser uma boa ideia. Vejamos então!

Parcerias público-privadas e empresas que interagem com esferas governamentais e não governamentais frequentemente fazem o uso dessas práticas ao redor do mundo. Organizações com expertise em gestão transferem esse conhecimento para empreendimentos que ainda não adotam tais práticas e utilizam medidas de avaliação de impacto ( veja mais aqui ) para propriamente mensurar o efeito desses programas. E, bingo: eles funcionam. Quem recebeu as práticas aprende e consegue implementá-las, melhorando o desempenho.

Temos um excelente exemplo em nossa realidade. O Instituto Unibanco é uma entidade com essa expertise em gestão que transfere tais práticas. Um dos principais objetivos do Instituto é melhorar a educação pública no Brasil por meio da gestão. Nos últimos anos, firmaram (e continuam) parcerias com Secretarias de Educação ao redor do país através do programa Jovem de Futuro. O programa mostrou-se bem-sucedido desde o início e apresentou impactos positivos no que mais importa dentro de uma escola: os alunos. Esses vão melhor na escola (notas mais altas) e têm menor chance de evadir. Alunos que estavam no programa durante todo o ensino médio tiveram, em média, um desempenho superior que corresponde a um ano extra na escola. É isso mesmo: práticas de gestão resultaram em estudantes de ensino médio com notas equivalentes a se tivessem estudado um ano a mais!

Um estudo recente que realizei em colaboração com pesquisadores do Insper, HEC Paris e Instituto Unibanco mostra que esses efeitos podem ir além. De certa forma, procuro responder à pergunta: se o Instituto Unibanco encerrasse a parceria, será que os dirigentes escolares conseguiriam continuar a implementar as práticas? A resposta parece ser sim. Tais práticas de gestão estão mais para “aprender a pescar” do que “dar o peixe”. O estudo mostrou que dirigentes públicos conseguem internalizar as práticas e as replicar praticamente de imediato para demais escolas da rede. Ao fazer isso, disseminam os ensinamentos por conta própria, impactando ainda mais estudantes. E melhor, essas práticas são aplicáveis e funcionam mesmo em escolas com poucos recursos (como bibliotecas, computadores ou mesmo professores capacitados).

Mas nem tudo são flores. Há um grande desafio de mensuração pela frente. Os métodos de avaliação não são tão preparados para lidar com esse efeito, dado que a disseminação de práticas, ainda que desejável sob o ponto de vista de valor público, influencia o cômputo da contribuição do parceiro externo. Isso porque pode diminuir o impacto aferido no grupo de tratamento, dado que o grupo sem a intervenção (de controle) acaba também sendo beneficiado com as mesmas práticas. Há, portanto, o desafio para garantir replicação das práticas e, ao mesmo tempo, uma precisa avaliação da contribuição dos parceiros externos. Afinal, avaliar é uma das práticas chaves de uma boa gestão!

*Fernando Deodato é pesquisador do Insper Metricis, doutorando em economia dos negócios.

 

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