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É possível avaliar o impacto de lideranças políticas?

Avaliar as consequências de políticas públicas ou de lideranças políticas é parte importante desta temática

Um bom líder é aquele que, em sua gestão e tomadas de decisão, consegue conciliar os interesses de três stakeholders: os clientes, o time, e os acionistas.  (Klaus Vedfelt/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2021 às 10h00.

Por Sandro Cabral, Nobuiuki C. Ito e Leandro S. Pongeluppe

Avaliação de impacto não deve ser uma temática restrita a projetos do setor privado ou mesmo do terceiro setor. Avaliar as consequências de políticas públicas ou de lideranças políticas é parte importante desta temática. Contudo, como avaliar de forma adequada o posicionamento e as atitudes de líderes governamentais? Neste sentido, utilizamos a crise sanitária da covid-19 no Brasil como forma de exemplificar eventuais relações entre conduta de lideranças políticas e resultados observados.

Durante praticamente a totalidade da crise do novo coronavírus (SARS-CoV-2) no Brasil, a presidência da república negou a gravidade da situação, recorrentemente estimulou a população a voltar às atividades regulares e recomendou a utilização de tratamentos sem comprovação científica. É sem dúvida muito complexo verificar quais são os efeitos das atitudes de autoridades públicas sobre a disseminação de doenças e mortes relacionadas. Contudo, técnicas econométricas nos permitem uma tentativa.

O trabalho recentemente elaborado pelos autores desta coluna analisou as relações entre pronunciamentos oficiais do presidente brasileiro [2] e evolução de casos e mortes por covid-19 nos 5.570 municípios brasileiros ao longo das 52 semanas epidemiológicas iniciais. Utilizando a técnica de diferenças-em-diferenças, amparada por uma série de testes de robustez, conseguimos nos aproximar de uma resposta.

Verificamos a inexistência de tendências prévias aos pronunciamentos presidenciais, possibilitando a validação da implementação da técnica utilizada e a verificação do efeito dos pronunciamentos presidenciais sobre dois grupos de municípios, aqueles em que o presidente teve mais e menos apoiadores nas eleições presidenciais de 2018. Além disso, variamos a margem de apoio ao presidente para verificar a consistência dos resultados.

Os resultados são óbvios para alguns e surpreendentes para outros. Os municípios que demonstraram mais apoio ao presidente no pleito de 2018 estão associados a maiores números de casos e mortes por covid-19 ao longo das 52 primeiras semanas do surto da doença no Brasil.

Tais achados sugerem que se, por um lado, atitudes dos líderes políticos podem ter consequências desastrosas sobre os cidadãos, por outro, parcelas da população não são isentas de responsabilidade. Com efeito, ao fornecer apoio a atitudes que negam os riscos e desdenham das consequências severas do vírus, parte da população molda e retroalimenta comportamentos de líderes políticos. Ao fim e ao cabo, todos, independentemente de orientação política e de como encaram a pandemia, saem perdendo.

Conforme o Guia de Avaliação de Impacto Socioambiental do Insper Metricis, há vários níveis para avaliação de impacto. Independente da escolha do método empregado, avaliar impacto requer análises embasadas em dados e que respeitem as premissas das técnicas escolhidas. Desta forma, é possível contribuir para um debate saudável e informativo.

 

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Por Sandro Cabral, Nobuiuki C. Ito e Leandro S. Pongeluppe

Avaliação de impacto não deve ser uma temática restrita a projetos do setor privado ou mesmo do terceiro setor. Avaliar as consequências de políticas públicas ou de lideranças políticas é parte importante desta temática. Contudo, como avaliar de forma adequada o posicionamento e as atitudes de líderes governamentais? Neste sentido, utilizamos a crise sanitária da covid-19 no Brasil como forma de exemplificar eventuais relações entre conduta de lideranças políticas e resultados observados.

Durante praticamente a totalidade da crise do novo coronavírus (SARS-CoV-2) no Brasil, a presidência da república negou a gravidade da situação, recorrentemente estimulou a população a voltar às atividades regulares e recomendou a utilização de tratamentos sem comprovação científica. É sem dúvida muito complexo verificar quais são os efeitos das atitudes de autoridades públicas sobre a disseminação de doenças e mortes relacionadas. Contudo, técnicas econométricas nos permitem uma tentativa.

O trabalho recentemente elaborado pelos autores desta coluna analisou as relações entre pronunciamentos oficiais do presidente brasileiro [2] e evolução de casos e mortes por covid-19 nos 5.570 municípios brasileiros ao longo das 52 semanas epidemiológicas iniciais. Utilizando a técnica de diferenças-em-diferenças, amparada por uma série de testes de robustez, conseguimos nos aproximar de uma resposta.

Verificamos a inexistência de tendências prévias aos pronunciamentos presidenciais, possibilitando a validação da implementação da técnica utilizada e a verificação do efeito dos pronunciamentos presidenciais sobre dois grupos de municípios, aqueles em que o presidente teve mais e menos apoiadores nas eleições presidenciais de 2018. Além disso, variamos a margem de apoio ao presidente para verificar a consistência dos resultados.

Os resultados são óbvios para alguns e surpreendentes para outros. Os municípios que demonstraram mais apoio ao presidente no pleito de 2018 estão associados a maiores números de casos e mortes por covid-19 ao longo das 52 primeiras semanas do surto da doença no Brasil.

Tais achados sugerem que se, por um lado, atitudes dos líderes políticos podem ter consequências desastrosas sobre os cidadãos, por outro, parcelas da população não são isentas de responsabilidade. Com efeito, ao fornecer apoio a atitudes que negam os riscos e desdenham das consequências severas do vírus, parte da população molda e retroalimenta comportamentos de líderes políticos. Ao fim e ao cabo, todos, independentemente de orientação política e de como encaram a pandemia, saem perdendo.

Conforme o Guia de Avaliação de Impacto Socioambiental do Insper Metricis, há vários níveis para avaliação de impacto. Independente da escolha do método empregado, avaliar impacto requer análises embasadas em dados e que respeitem as premissas das técnicas escolhidas. Desta forma, é possível contribuir para um debate saudável e informativo.

 

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