Ceticismo com os investimentos de impacto: e agora?
Investimento de impacto é a alocação de recursos que buscam retornos financeiros e, ao mesmo tempo, direcionam esforços para desafios socioambientais
Colunista
Publicado em 7 de dezembro de 2023 às 08h00.
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis , o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Recentemente, o professor da NYU, Aswath Damodaran, o papa das finanças corporativas, compartilhou em suas redes sociais um artigo em que aborda, mais uma vez com ceticismo, os reais impactos dos investimentos de impacto. No artigo intitulado “ Good Intentions, Perverse Outcomes: The Impact of Impact Investing! ”, o professor reafirma o seu desdém pela sigla ESG e questiona quais são os reais impactos gerados pelos chamados investimentos de impacto.
Por investimento de impacto entende-se a alocação de recursos por investidores em oportunidades que buscam retornos financeiros e, ao mesmo tempo, direcionam esforços para desafios socioambientais. Nesse sentido, o investimento de impacto tem o objetivo de atingir um impacto social claramente definido e mensurável.
De acordo com dados levantados pela GIIN, que acompanha o crescimento dos investimentos de impacto, foram destinados mais de US$ 1,16 bilhão por investidores de impacto em 2021 e quase dois terços dos investidores de impacto acreditam que podem tanto obter retorno financeiro quanto gerar impacto socioambiental positivo.
Segundo o professor Damodaran, esperar ganhar tanto ou mais do que um retorno ajustado ao risco e ainda gerar impacto positivo é, em suas palavras, uma ilusão. Ele afirma que para que os investimentos de impacto sejam bem-sucedidos, uma série de “boas intenções” dos investidores precisaria funcionar:
- No caso do chamado screening positivo, onde os investidores alocam recursos em negócios ou empresas que tenham maior probabilidade de ter um impacto positivo na sociedade, existe um risco de seleção onde o investidor alocaria recursos em empresas que são prejudiciais às questões socioambientais, fazendo com que elas tivessem mais capital para agravar as condições que se busca proteger;
- No caso do screening negativo, em que os investidores de impacto alienam sua participação em empresas controversas, tal alienação levaria os preços dessas empresas para patamares abaixo dos seus valores “justo”, fazendo com que investidores que não se importam com o impacto obtivessem retornos mais elevados investindo em tais empresas;
- Já no caso do investimento ativista, em que os investidores buscam comprar participações em empresas que consideram contribuir para o problema social e depois utilizam essa participação para impulsionar mudanças nas operações e no comportamento para reduzir o impacto social ou ambiental negativo, é possível que a ausência de aliados entre outros acionistas significará que as suas tentativas de mudar o curso dos negócios serão em grande parte malsucedidas.
Para os interessados no tema, vale a pena ler o artigo e fazer suas próprias ponderações. Apesar de as preocupações do professor Damodaran serem válidas, como ele próprio diz no início do seu texto, ele possui um certo ceticismo em relação aos investimentos ESG. Com isso, é pouco propositivo ao indicar como o investimento de impacto poderia gerar os resultados que ele indica que não estão sendo alcançados e ainda ironiza a prática, afirmando que tais investimentos de impacto “têm menos a ver com impactar a sociedade e mais com aliviar a culpa e limpar as consciências dos investidores de impacto”.
Em uma tentativa de ver o copo meio cheio, necessário em tempos desafiadores para as questões socioambientais, a leitura do artigo chega como uma provocação: sendo o investimento de impacto aquele que tem o objetivo de atingir um impacto social claramente definido e mensurável e ainda gerar retorno financeiro aos investidores, como são mensurados os alegados impactos gerados, uma vez que o acompanhamento do retorno financeiro já é observado pelos investidores?
Nesse sentido, o professor indica que se a intenção é investir com o objetivo de gerar impacto positivo, é necessário que se seja explícito sobre qual é o problema que se está tentando resolver e ainda especificar métricas de medição que serão acompanhadas para avaliar se o investimento está gerando o impacto prometido.
Apesar de discordar da visão pessimista do autor sobre o avanço da agenda ESG, sendo que ele mesmo traz dados acalentadores aos corações que trabalham por um mundo mais justo, a pergunta final do seu artigo é muito pertinente e o convite aos leitores é que se debrucem um pouco sobre ela: “Após 15 anos e bilhões investidos em seu nome, o investimento de impacto, tal como é praticado agora, fez poucos progressos nos problemas sociais e ambientais que pretende resolver. Não é hora de tentar algo diferente?”
Até o próximo artigo!
* Mariana Palandi Medeiros Pacheco é mestre em Administração de Empresas pelo Insper e Bacharel em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Possui experiência em estratégia de negócios e finanças corporativas, além de estudar e pesquisar temas relacionados à agenda ESG. Atualmente, atua como consultora na Tendências Consultoria.
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis , o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Recentemente, o professor da NYU, Aswath Damodaran, o papa das finanças corporativas, compartilhou em suas redes sociais um artigo em que aborda, mais uma vez com ceticismo, os reais impactos dos investimentos de impacto. No artigo intitulado “ Good Intentions, Perverse Outcomes: The Impact of Impact Investing! ”, o professor reafirma o seu desdém pela sigla ESG e questiona quais são os reais impactos gerados pelos chamados investimentos de impacto.
Por investimento de impacto entende-se a alocação de recursos por investidores em oportunidades que buscam retornos financeiros e, ao mesmo tempo, direcionam esforços para desafios socioambientais. Nesse sentido, o investimento de impacto tem o objetivo de atingir um impacto social claramente definido e mensurável.
De acordo com dados levantados pela GIIN, que acompanha o crescimento dos investimentos de impacto, foram destinados mais de US$ 1,16 bilhão por investidores de impacto em 2021 e quase dois terços dos investidores de impacto acreditam que podem tanto obter retorno financeiro quanto gerar impacto socioambiental positivo.
Segundo o professor Damodaran, esperar ganhar tanto ou mais do que um retorno ajustado ao risco e ainda gerar impacto positivo é, em suas palavras, uma ilusão. Ele afirma que para que os investimentos de impacto sejam bem-sucedidos, uma série de “boas intenções” dos investidores precisaria funcionar:
- No caso do chamado screening positivo, onde os investidores alocam recursos em negócios ou empresas que tenham maior probabilidade de ter um impacto positivo na sociedade, existe um risco de seleção onde o investidor alocaria recursos em empresas que são prejudiciais às questões socioambientais, fazendo com que elas tivessem mais capital para agravar as condições que se busca proteger;
- No caso do screening negativo, em que os investidores de impacto alienam sua participação em empresas controversas, tal alienação levaria os preços dessas empresas para patamares abaixo dos seus valores “justo”, fazendo com que investidores que não se importam com o impacto obtivessem retornos mais elevados investindo em tais empresas;
- Já no caso do investimento ativista, em que os investidores buscam comprar participações em empresas que consideram contribuir para o problema social e depois utilizam essa participação para impulsionar mudanças nas operações e no comportamento para reduzir o impacto social ou ambiental negativo, é possível que a ausência de aliados entre outros acionistas significará que as suas tentativas de mudar o curso dos negócios serão em grande parte malsucedidas.
Para os interessados no tema, vale a pena ler o artigo e fazer suas próprias ponderações. Apesar de as preocupações do professor Damodaran serem válidas, como ele próprio diz no início do seu texto, ele possui um certo ceticismo em relação aos investimentos ESG. Com isso, é pouco propositivo ao indicar como o investimento de impacto poderia gerar os resultados que ele indica que não estão sendo alcançados e ainda ironiza a prática, afirmando que tais investimentos de impacto “têm menos a ver com impactar a sociedade e mais com aliviar a culpa e limpar as consciências dos investidores de impacto”.
Em uma tentativa de ver o copo meio cheio, necessário em tempos desafiadores para as questões socioambientais, a leitura do artigo chega como uma provocação: sendo o investimento de impacto aquele que tem o objetivo de atingir um impacto social claramente definido e mensurável e ainda gerar retorno financeiro aos investidores, como são mensurados os alegados impactos gerados, uma vez que o acompanhamento do retorno financeiro já é observado pelos investidores?
Nesse sentido, o professor indica que se a intenção é investir com o objetivo de gerar impacto positivo, é necessário que se seja explícito sobre qual é o problema que se está tentando resolver e ainda especificar métricas de medição que serão acompanhadas para avaliar se o investimento está gerando o impacto prometido.
Apesar de discordar da visão pessimista do autor sobre o avanço da agenda ESG, sendo que ele mesmo traz dados acalentadores aos corações que trabalham por um mundo mais justo, a pergunta final do seu artigo é muito pertinente e o convite aos leitores é que se debrucem um pouco sobre ela: “Após 15 anos e bilhões investidos em seu nome, o investimento de impacto, tal como é praticado agora, fez poucos progressos nos problemas sociais e ambientais que pretende resolver. Não é hora de tentar algo diferente?”
Até o próximo artigo!
* Mariana Palandi Medeiros Pacheco é mestre em Administração de Empresas pelo Insper e Bacharel em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Possui experiência em estratégia de negócios e finanças corporativas, além de estudar e pesquisar temas relacionados à agenda ESG. Atualmente, atua como consultora na Tendências Consultoria.