Eleições presidenciais de 2022 no Brasil: a demanda ainda espera a oferta
38% dos brasileiros não querem votar nem em Lula, nem em Bolsonaro, mas o universo político carece de alternativas que atendam essa importante fatia do eleitorado
Fabiane Stefano
Publicado em 12 de março de 2021 às 18h34.
Última atualização em 12 de março de 2021 às 18h41.
Adam Smith foi um dos mais influentes economistas da era moderna. Por muitos foi batizado como pai do liberalismo econômico. Sua publicação, a “Riqueza das Nações”, é leitura obrigatória para os interessados em história das nações (independente das crenças ideológicas). Nesse livro, o economista escocês deu luz a alguns conceitos marcantes para a ciência econômica como por exemplo a “Lei da Oferta e da Procura” e a “mão invisível”. Para ele, havia uma “mão invisível” que pesava sobre o mercado, determinando seus rumos. Um conceito bem simples: sempre que a oferta de um bem no mercado supera sua demanda (procura), o valor do produto cai; e sempre que a demanda de um bem no mercado ultrapassa sua oferta, o valor do produto sobe. Nesse contexto de maneira simplória, um equilíbrio geral de preços é atingido. Nas especulações das eleições presidenciais brasileiras de 2022 temos, até o presente momento, um fenômeno de desequilíbrio geral da oferta da política com a demanda da opinião pública.
De um lado, não nos enganemos, temos um favorito: o presidente Jair Bolsonaro. Além de manter um grupo de apoiadores fiéis que aprovam seu governo ( atualmente no patamar de 26% de avaliação positiva ), o mesmo ainda lidera todas as pesquisas de intenção de voto da Exame/IDEIA. A sua popularidade depende da velocidade de vacinação e da gestão da economia. Ambos desafios gigantescos. Todavia, nessas frentes se imagina que não faltarão recursos para garantir um melhor posicionamento para sua campanha de seguir no Planalto. Se isso acontecer, a conta fiscal virá em 2023 e não será branda. Manobras econômicas semelhantes já aconteceram antes nas re-eleições de Dilma em 2014 e Fernando Henrique em 1998. Nunca é demais lembrar que o presidente em exercício além de pautar o debate público ainda tem a caneta.
Do outro lado, e agora legalmente pré-candidato, temos o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem dúvida o maior líder político brasileiro dos últimos cinquenta anos e com enorme capacidade de aglutinar parte do eleitorado brasileiro e chegar ao segundo turno. Todavia, o ícone petista ainda carrega uma enorme rejeição na classe média brasileira em função dos escândalos de corrupção durante os governos do PT e um passivo relevante por ter indicado Dilma Rousseff como sua sucessora. Em segmentos mais populares de eleitores(as), a crise econômica que país viveu nos últimos anos (antes da pandemia) se deve a gestão da ex-presidente. Nada triviais são os obstáculos que separam São Bernardo de Brasília.
Dito isso e colocados os dois polos “dominantes”, enorme fatia dos(as) brasileiros(as) não quer nem Bolsonaro e nem Lula (os “nem-nem”). São 38%, segundo a pesquisa nacional Exame/IDEIA publicada dia 12/03/21, os que adorariam despertar em 01/01/2023 com outro(a) residente do Alvorada. Seguramente há uma demanda da opinião pública que não represente o presente bolsonarista ou o passado petista. E uma demanda que nunca houve mesmo quando comparamos ao auge da polarização PSDB-PT.
Porém, a oferta da política para essa polarização ainda é diluída e difusa no imaginário da opinião pública. Para derrotar presidente (e/ou ex-presidentes) é preciso “ofertar” soluções disruptivas. Sem mencionar os Estados Unidos (cujo sistema eleitoral é bem particular) podemos citar a Argentina, a Ucrânia e a França como exemplos de caminhos alternativos bem sucedidos para vencer projetos políticos no poder.
Na Argentina, a ex-presidente Cristina Kirchner abriu mão de sua candidatura (apesar de ser mais conhecida e reconhecida que Alberto Fernandez) para ser vice. Com isso demonstrou enorme maturidade política e conduziu sua chapa a uma acachapante vitória sobre Mauricio Macri que tentava a re-eleição. Na Ucrania, Volodymyr Zelensky, um comediante de televisão (que tinha um programa humorístico se fazendo de presidente) se apresentou como um candidato totalmente fora da política e venceu o presidente em exercício Petro Poroshenko. Nada mais disruptivo que o piadista vencer o sistema. Na França, Emmanuel Macron, para vencer a centro-esquerda no poder e a candidata de extrema direita Marina Le Pen, criou um partido absolutamente novo (La Republique En Marché!) e organizou um movimento que dialogou com os “nem esquerda-nem direita” franceses.
Para encarar o favorito Presidente Bolsonaro nas urnas e ofertar uma alternativa de poder, a política brasileira terá de buscar a maturidade política de Kirchner, a sagacidade histórica de Zelensky e capacidade de mobilizar do En Marché! de 2017. Não será esperando a “mão invisível" que isso irá se resolver.
Adam Smith foi um dos mais influentes economistas da era moderna. Por muitos foi batizado como pai do liberalismo econômico. Sua publicação, a “Riqueza das Nações”, é leitura obrigatória para os interessados em história das nações (independente das crenças ideológicas). Nesse livro, o economista escocês deu luz a alguns conceitos marcantes para a ciência econômica como por exemplo a “Lei da Oferta e da Procura” e a “mão invisível”. Para ele, havia uma “mão invisível” que pesava sobre o mercado, determinando seus rumos. Um conceito bem simples: sempre que a oferta de um bem no mercado supera sua demanda (procura), o valor do produto cai; e sempre que a demanda de um bem no mercado ultrapassa sua oferta, o valor do produto sobe. Nesse contexto de maneira simplória, um equilíbrio geral de preços é atingido. Nas especulações das eleições presidenciais brasileiras de 2022 temos, até o presente momento, um fenômeno de desequilíbrio geral da oferta da política com a demanda da opinião pública.
De um lado, não nos enganemos, temos um favorito: o presidente Jair Bolsonaro. Além de manter um grupo de apoiadores fiéis que aprovam seu governo ( atualmente no patamar de 26% de avaliação positiva ), o mesmo ainda lidera todas as pesquisas de intenção de voto da Exame/IDEIA. A sua popularidade depende da velocidade de vacinação e da gestão da economia. Ambos desafios gigantescos. Todavia, nessas frentes se imagina que não faltarão recursos para garantir um melhor posicionamento para sua campanha de seguir no Planalto. Se isso acontecer, a conta fiscal virá em 2023 e não será branda. Manobras econômicas semelhantes já aconteceram antes nas re-eleições de Dilma em 2014 e Fernando Henrique em 1998. Nunca é demais lembrar que o presidente em exercício além de pautar o debate público ainda tem a caneta.
Do outro lado, e agora legalmente pré-candidato, temos o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem dúvida o maior líder político brasileiro dos últimos cinquenta anos e com enorme capacidade de aglutinar parte do eleitorado brasileiro e chegar ao segundo turno. Todavia, o ícone petista ainda carrega uma enorme rejeição na classe média brasileira em função dos escândalos de corrupção durante os governos do PT e um passivo relevante por ter indicado Dilma Rousseff como sua sucessora. Em segmentos mais populares de eleitores(as), a crise econômica que país viveu nos últimos anos (antes da pandemia) se deve a gestão da ex-presidente. Nada triviais são os obstáculos que separam São Bernardo de Brasília.
Dito isso e colocados os dois polos “dominantes”, enorme fatia dos(as) brasileiros(as) não quer nem Bolsonaro e nem Lula (os “nem-nem”). São 38%, segundo a pesquisa nacional Exame/IDEIA publicada dia 12/03/21, os que adorariam despertar em 01/01/2023 com outro(a) residente do Alvorada. Seguramente há uma demanda da opinião pública que não represente o presente bolsonarista ou o passado petista. E uma demanda que nunca houve mesmo quando comparamos ao auge da polarização PSDB-PT.
Porém, a oferta da política para essa polarização ainda é diluída e difusa no imaginário da opinião pública. Para derrotar presidente (e/ou ex-presidentes) é preciso “ofertar” soluções disruptivas. Sem mencionar os Estados Unidos (cujo sistema eleitoral é bem particular) podemos citar a Argentina, a Ucrânia e a França como exemplos de caminhos alternativos bem sucedidos para vencer projetos políticos no poder.
Na Argentina, a ex-presidente Cristina Kirchner abriu mão de sua candidatura (apesar de ser mais conhecida e reconhecida que Alberto Fernandez) para ser vice. Com isso demonstrou enorme maturidade política e conduziu sua chapa a uma acachapante vitória sobre Mauricio Macri que tentava a re-eleição. Na Ucrania, Volodymyr Zelensky, um comediante de televisão (que tinha um programa humorístico se fazendo de presidente) se apresentou como um candidato totalmente fora da política e venceu o presidente em exercício Petro Poroshenko. Nada mais disruptivo que o piadista vencer o sistema. Na França, Emmanuel Macron, para vencer a centro-esquerda no poder e a candidata de extrema direita Marina Le Pen, criou um partido absolutamente novo (La Republique En Marché!) e organizou um movimento que dialogou com os “nem esquerda-nem direita” franceses.
Para encarar o favorito Presidente Bolsonaro nas urnas e ofertar uma alternativa de poder, a política brasileira terá de buscar a maturidade política de Kirchner, a sagacidade histórica de Zelensky e capacidade de mobilizar do En Marché! de 2017. Não será esperando a “mão invisível" que isso irá se resolver.