Sonhe, sim, mas planeje e execute seu plano por meio de uma estratégia sólida
Na coluna desta semana, conheça a história de Henrique Joji Sei, CEO na Epson do Brasil
Laura Pancini
Publicado em 29 de dezembro de 2022 às 10h56.
Por Fabiana Monteiro
A edificação da minha carreira sempre foi permeada pela busca de novos desafios, pela constante evolução pessoal e profissional e, principalmente, muito foco em fazer de forma correta. Ao longo de mais de vinte anos de trajetória profissional, tive o privilégio de transitar entre diversos segmentos do universo corporativo, permitindo-me amealhar conhecimentos distintos, amplificando o meu repertório de habilidades com interações culturais variadas. Essa conjunção de fatores e o meu perfil multidisciplinar pavimentaram a base para que eu me tornasse um líder de sucesso, no momento, como CEO da Epson do Brasil.
Nasci em 19 de julho de 1970, em São Paulo, oriundo de uma família japonesa, sendo que meu pai, Fujio Sei, trabalhava na área de seguros, enquanto a minha mãe, Mieko Sei, era profissional liberal de vendas. Considero que adquiri um pouco desse “espírito empreendedor”, justamente, por causa da ocupação de ambos, embora tenha iniciado minha jornada, instigado pelas minhas próprias decisões, inquietude e curiosidade.
Meus pais me ensinaram muito sobre valores, e realçavam constantemente que jamais faltaria comida e livros dentro de casa. Roupa da moda e outros itens supérfluos passavam longe de representar algo primordial em minha formação, mas o foco em educação, saúde e princípios sempre fora garantido.
Desde jovem, com cerca de 13 anos, já trabalhava – comecei manuseando engradados em supermercados, dediquei minhas férias em uma plantação de flores, criei e vendi artigos em silk screen, e até me aventurei vendendo cosméticos. Ou seja, envolvi-me em atividades, geralmente, voltadas para o comércio, colocando em prática o sonho de empreender, como forma de validar os meus desejos.
Algo relevante em meu processo de desenvolvimento inclui o fato de ter sido escoteiro. Esta experiência ajudou no molde do meu perfil em diversas áreas, como aprender a lidar com hierarquia, desenvolver estratégias para trabalhar em equipe, respeitando a diversidade e as limitações de cada um, além de ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião.
A partir de determinada etapa da vida, como sempre gostei de arte, de desenhar, considerei prestar vestibular para Arquitetura. Poderia não somente trabalhar na profissão, mas também expandir os conhecimentos assimilados no curso para outras ocupações, como planejamento urbano e design de produtos. Sendo assim, ingressei na Universidade de São Paulo (USP), para estudar na prestigiada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), porém por questões familiares, tranquei a faculdade momentaneamente, e parti com destino ao Japão, para trabalhar. Na terra dos meus antepassados, atuei como soldador elétrico, produzindo caixas de metal para transportar peças de automóvel da Toyota. Foram dois anos bem interessantes, pois, obviamente, com esta experiência no exterior, pude exercitar o idioma japonês, além de todos os benefícios cultivados com o intercâmbio cultural.
O início da jornada com ênfase na Tecnologia e no Design
Todavia, coloquei em prática o plano de regressar ao Brasil para retomar o curso de Arquitetura, mas isso exigia a demanda de tempo integral, ao passo que, neste ínterim, havia começado a estagiar em uma gráfica. Considerei a experiência muito singular e, assim, reprogramei a minha rota para estudar Design Industrial na Faculdade de Belas Artes, em que graduei em 2000.
Assevero que no segmento de design, iniciei de fato a minha trajetória profissional. Nesta empresa, implementei o Departamento de Editoração Eletrônica – pensava em não somente vender o produto, mas também cuidar das etapas pertinentes ao design, à criação de logotipos, ao cuidado com a identidade visual da marca. Como estava comprometido com tais demandas, assim me envolvi bastante com os provedores das ferramentas do setor, como Apple, Photoshop, PageMaker,QuarkXPresse Illustrator, dentre outros. Essas relações me proporcionaram a abertura de portas significativas, considerando que os próprios fabricantes solicitavam a minha presença para palestrar em feiras e em mostras do mercado.
Após quatro anos nesta gráfica, uma multinacional chegou ao mercado brasileiro para vender computadores por catálogo, algo bastante inovador na época. Sendo assim, erigimos uma estrutura a qual imprimíamos e distribuíamos um milhão e duzentos mil catálogos gratuitos mensais, para vendas por telefone. De imediato, fui considerado como uma boa opção para administrar essa iniciativa, por ser um amplo conhecedor de tecnologia, marketing e ter vasta experiência no setor gráfico.
Em menos de um ano, começamos a faturar aproximadamente US$ 400 mil mensais, uma fortuna naquele momento. Mas a corporação resolveu deixar o Brasil. Friso como as relações são fundamentais e utilizo de exemplo o fato de ter recebido ofertas de emprego de quatro grandes clientes logo que isso ocorreu: uma agência de publicidade, uma gráfica, um fabricante e a Editora Abril que era um dos nossos maiores clientes. Amparado por essa conexão e o anseio de trabalhar numa grande empresa nacional, aceitei o desafio da Editora Abril, em 1998, e fui para a área de tecnologia na revista Veja, sendo o responsável pelo parque de Macintosh Apple, além de cuidar das ferramentas de editoração da publicação. Esse foi o primeiro grande ciclo da minha vida, englobando tecnologia, design e setor gráfico.
O valor de saber se adaptar e incorporar culturas distintas
O meu perfil, permeado de inquietude, conduziu-me a outro patamar, o qual almejava integrar uma organização de porte multinacional. Assim, o segundo ciclo profissional se deu na Gradiente, companhia nacional e familiar, que estava iniciando uma parceria com a poderosa Nokia.
Esta parceria me propiciou esse contato internacional, porque gerenciava uma unidade de negócios voltada ao aluguel de celulares no exterior e cobrança no Brasil, numa época em que o roaming internacional ainda não era prioridade para as operadoras. Precisei viajar e estabelecer negociações na França, Itália, Alemanha e Estados Unidos, para aumentar a eficiência e para ampliar o negócio. O objetivo era gerar o máximo de resultado possível, antes que as operadoras resolvessem ampliar sua oferta de serviços.
Já preparado para dar um “salto na carreira”, comecei a buscar novas possibilidades, e foi neste período que a Dell desembarcou no Brasil. Dentro dessa magnífica empresa, construí uma bela carreira de 15 anos, a partir de março de 2001, iniciando como gerente de vendas e fechando o meu ciclo já na condição de Diretor de Soluções Latam, em 2015.
Exerci nove funções em áreas diferentes dentro da corporação, sempre tendo em vista aumentar meu portfólio de conhecimentos para poder almejar uma função de Chief Experience Officer (CXO). Para a empresa, eles buscavam um profissional que pudesse consertar uma área que não estava funcionando, identificar oportunidades de melhoria, implementar mudanças significativas, preparar a área para o crescimento e redirecionar o foco para o cliente, e não apenas nos processos internos.
Segui adiante e, nesse processo, destaco como o meu terceiro grande ciclo o momento que, enfim, decidi dar uma guinada vigorosa na carreira. Após 15 anos de muito sucesso, considerei positivo me movimentar, migrando para a área de serviços, ambicionando conhecer um novo segmento. Embasado nessa estratégia, rumei em novembro de 2015 para a G4S, empresa do ramo de segurança privada, de capital aberto, com 400 mil funcionários, atuante em 113 países. Trata-se de uma instituição que cresceu a partir da aquisição de outras companhias, compondo um conglomerado de empresas. Logo, assumi o cargo de COO e CCO América Latina, com o objetivo de criar a cultura, a governança e os processos de uma empresa globalizada, reestruturando a área comercial e de operações, que contava com mais de 75 mil funcionários, espalhados em 23 países.
Ademais, precisávamos pensar no futuro e, pelas minhas experiências anteriores, expandimos a área de tecnologia, agregando inovações, soluções de monitoramento e segurança e novas abordagens num segmento bastante acostumado a trabalhar apenas com “horas-homem”.
O trabalho realizado na América Latina surtiu efeito, portanto, o headquarter decidiu criar um modelo único que funcionasse no mundo inteiro, para uma operação com mil e duzentos ou cento e vinte mil guardas. Fui designado para desenvolver esse trabalho, alocado em Londres, e meu grande êxito foi o de ter conseguido desenhar este modelo e o de implementar em alguns países em tempo recorde. Estava na matriz, considerado algo marcante, principalmente por poder atuar ao lado do CEO global e de todo o board da companhia, alinhado com as quatro regiões do mundo.
Como fruto desse case bem-sucedido, era incumbido de implementar o mesmo formato em outros setores, incluindo Comercial, Recursos Humanos, Operação de Transportes e Valores, além da área de Finanças. Neste período, foi detectado um problema no Chile, e aceitei ser transferido com a missão de dirimir as falhas, retomando também a área comercial de toda a América Latina.
Em Londres, onde permaneci durante um ano, a minha família me acompanhou, mas na operação chilena fui sozinho – um grande desafio pessoal. Não foi algo fácil, com manifestações populares de cunho político e social ocorrendo, além de pandemia, mas pude reverter a fase adversa da empresa. Permaneci nessa posição até 2021, quando considerei meus compromissos devidamente concluídos.
Adoro o Chile e estava me divertindo bastante na G4S, mas além dos riscos da Covid-19 e, por conseguinte, da distância da família, ainda sofri um grave acidente de bicicleta. Enfim, percebi a necessidade de estar mais próximo da minha esposa Carla e dos meus filhos Marcella e Leonardo. Tudo isso me levou a pensar em promover outra movimentação e me encontrei novamente em busca de opções que pudessem aquiescer às minhas aspirações.
Os desafios e os aprendizados como CEO da Epson
Em julho de 2021, a Epson surgiu em minha vida, incorporando um universo de possibilidades com as quais já era proficiente. Detinha as aptidões requeridas por ter atuado com tecnologia, gráfica e, além disso, tratava-se de uma empresa japonesa, alocada em São Paulo. Enfim, jamais descartaria essa chance de estabelecer outra transição com tantos pontos positivos, com a meta de alcançar níveis mais elevados.
Enalteço o fato de que preciso lidar com desafios que somente me auxiliam a incrementar o meu desenvolvimento. Na Epson, faço com que as pessoas compreendam o valor agregado e conheçam o portfólio da empresa. Tornar esse portfólio mais visível é um dos meus objetivos primordiais, assim como analisar com astúcia como as pessoas compram e consomem. Atualmente, é pré-requisito se preocupar com assuntos que no passado não havia tamanha visibilidade, como a questão da diversidade e da inclusão, e, para tal, estar em constante adaptação é de suma importância.
Tendo em vista todas as experiências supracitadas, destaco que sempre ocupei posições as quais tive que resolver grandes problemas ou situações que outras pessoas não conseguiam solucionar. Ou seja, considero a minha caminhada, alicerçada nos últimos vinte anos, como muito bem realizada, haja vista a forma como superei inúmeros obstáculos, identificando as falhas e montando estratégias para poder seguir adiante. E o mais importante: sempre fundamentado pela minha vivência comercial, com foco na visão de cliente e nas pessoas envolvidas, gerando resultados.
É o grande legado que pretendo deixar: construir um mundo melhor por meio da relação próxima com todas as pessoas e manter-se conectado às constantes mudanças
Aproveito para realçar o momento em que estabeleci como prioridade absoluta tomar as “rédeas da minha carreira”. Durante uma conversa com uma reitora de uma reconhecida universidade norte-americana, falávamos sobre desenvolvimento de carreira. No Brasil, quando perguntamos às pessoas como estas entraram numa empresa, a grande maioria menciona que fora convidada para participar de um processo seletivo. Nos Estados Unidos, é diferente, pois a resposta invariavelmente consiste em dizer: “Eu me apliquei para tal posição”, escancarando essa diferença cultural e estratégica. Embaso o meu raciocínio em cima desse tema. Simplesmente, parei de esperar ser chamado para as vagas que me agradavam e assumi uma nova postura.
Além disso, demonstrei a coragem de mudar de segmento – migrar para uma área desconhecida ajudou muito a abrir a minha cabeça, a compreender um novo negócio, realçando a capacidade de operar em nichos distintos. Assim, pude me destacar dentro de ambientes mais competitivos, aliando-se a isso a viabilidade de conquistar conhecimentos, tornando-me um profissional com habilidades multidisciplinares.
A filosofia de aprender com todos e investir na inclusão
Ressalto o valor de não aguardar que as pessoas criem as oportunidades para mim.Não há margem para esse luxo. As oportunidades precisam ser construídas, precisamos batalhar pelas chances, amparados em planejamento. Outro ponto a ser examinado refere-se ao indivíduo que se considera um conhecedor de tudo, pois isso acarreta, invariavelmente, no comodismo – não podemos estar confortáveis nunca; o ambiente é hostil, mutável, exigente e competitivo.
Neste aspecto, o líder deve fugir, incessantemente, da zona de conforto, permanecendo em constante transformação, apto a se adaptar, aprendendo sempre. As coisas mudam com uma velocidade imensa, e isso requer estar antenado a tudo. Outra virtude primordial é a habilidade de ser inclusivo, abraçar a diversidade, haja vista que isso provém muitos benefícios, com a fusão de visões diferentes, além de ser socialmente preciso. Inclusive, recentemente, terminei um curso de GMP ( General Management Program ) na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), em que foi bastante abordado como se dão as situações de insucesso no mercado, em função da falta de se discutir a diversidade, de forma inclusiva. Existem inúmeros cases de episódios catastróficos por conta desse lapso – “esqueceram” de perguntar para grupos distintos.
Acrescento ainda a questão da globalização. O líder precisa explorar o todo – a crise da economia estadunidense, impreterivelmente, afetará o Brasil, é imprescindível, portanto, estar preparado e passar isso para os funcionários. Portanto, aponto a adaptabilidade à cultura da empresa como um fator diferenciado para ser considerado na formação das equipes. As culturas são diferentes, e verifiquei isso por onde estive.
Ao analisar as habilidades, procuro equilibrar o conhecimento e o potencial. Muitas vezes, ressalto o valor de não aguardar que as pessoas criem as oportunidades para mim, ao passo que os soft skills são mais difíceis de serem obtidos. No meu caso, não temo e sempre busco contratar pessoas melhores que eu. Preciso delas.
A minha teoria parte da filosofia de aprender com todo mundo, aproveitando o máximo das virtudes das pessoas, inclusive de alguns chefes, dos quais nem sequer houve alinhamento de ideias. É preciso ser humilde para reconhecer como cada indivíduo detém a sapiência no ato de ensinar algo. A grande parte dos meus aprendizados veio debaixo para cima, tendo em vista a interlocução junto às equipes, auxiliando-me a refletir e a me aprimorar.
O sonho deve ser estruturado em uma estratégia sólida
Evidentemente, faço a minha parte, e realço a relevância de estar estudando continuadamente. O ambiente acadêmico é muito importante por guarnecer constantes atualizações e, eventualmente, até estimular interações com profissionais do mundo inteiro. Outro aspecto inerente à maneira como atuo abrange a pertinência de se estar em campo. Essa atitude significa sentar-se para interagir com os funcionários – seja com o diretor responsável, o analista, e até o promotor alocado no ponto de venda. Assim, torna-se mais coerente compreender o que está acontecendo no dia a dia, propiciando estar em contato com o cliente. Frequentemente, visito esse público, dialogo, observando in loco, tendo em vista realizar ajustes, quando se faz necessário. Saber escutar ajuda a conter possíveis cenários de crises.
*
“Costumo indagar aos jovens sobre planos futuros, com uma pergunta simples: ‘Qual a diferença entre um sonho e um plano? Por exemplo: você quer ganhar na loteria?’. Todo mundo diz que sim, mas 99% desse grupo nem sequer jogam.
Enfim, existe o sonho, mas falta o plano. É vital estabelecer uma estratégia, não apenas se amparar no lúdico, justamente para poder corrigir, errar enquanto há essa possibilidade, e não ficar esperando que o sucesso caia do céu. Em suma, trata-se de idealizar uma meta e trabalhar com tenacidade e lucidez para alcançá-la. ”
Por Fabiana Monteiro
A edificação da minha carreira sempre foi permeada pela busca de novos desafios, pela constante evolução pessoal e profissional e, principalmente, muito foco em fazer de forma correta. Ao longo de mais de vinte anos de trajetória profissional, tive o privilégio de transitar entre diversos segmentos do universo corporativo, permitindo-me amealhar conhecimentos distintos, amplificando o meu repertório de habilidades com interações culturais variadas. Essa conjunção de fatores e o meu perfil multidisciplinar pavimentaram a base para que eu me tornasse um líder de sucesso, no momento, como CEO da Epson do Brasil.
Nasci em 19 de julho de 1970, em São Paulo, oriundo de uma família japonesa, sendo que meu pai, Fujio Sei, trabalhava na área de seguros, enquanto a minha mãe, Mieko Sei, era profissional liberal de vendas. Considero que adquiri um pouco desse “espírito empreendedor”, justamente, por causa da ocupação de ambos, embora tenha iniciado minha jornada, instigado pelas minhas próprias decisões, inquietude e curiosidade.
Meus pais me ensinaram muito sobre valores, e realçavam constantemente que jamais faltaria comida e livros dentro de casa. Roupa da moda e outros itens supérfluos passavam longe de representar algo primordial em minha formação, mas o foco em educação, saúde e princípios sempre fora garantido.
Desde jovem, com cerca de 13 anos, já trabalhava – comecei manuseando engradados em supermercados, dediquei minhas férias em uma plantação de flores, criei e vendi artigos em silk screen, e até me aventurei vendendo cosméticos. Ou seja, envolvi-me em atividades, geralmente, voltadas para o comércio, colocando em prática o sonho de empreender, como forma de validar os meus desejos.
Algo relevante em meu processo de desenvolvimento inclui o fato de ter sido escoteiro. Esta experiência ajudou no molde do meu perfil em diversas áreas, como aprender a lidar com hierarquia, desenvolver estratégias para trabalhar em equipe, respeitando a diversidade e as limitações de cada um, além de ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião.
A partir de determinada etapa da vida, como sempre gostei de arte, de desenhar, considerei prestar vestibular para Arquitetura. Poderia não somente trabalhar na profissão, mas também expandir os conhecimentos assimilados no curso para outras ocupações, como planejamento urbano e design de produtos. Sendo assim, ingressei na Universidade de São Paulo (USP), para estudar na prestigiada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), porém por questões familiares, tranquei a faculdade momentaneamente, e parti com destino ao Japão, para trabalhar. Na terra dos meus antepassados, atuei como soldador elétrico, produzindo caixas de metal para transportar peças de automóvel da Toyota. Foram dois anos bem interessantes, pois, obviamente, com esta experiência no exterior, pude exercitar o idioma japonês, além de todos os benefícios cultivados com o intercâmbio cultural.
O início da jornada com ênfase na Tecnologia e no Design
Todavia, coloquei em prática o plano de regressar ao Brasil para retomar o curso de Arquitetura, mas isso exigia a demanda de tempo integral, ao passo que, neste ínterim, havia começado a estagiar em uma gráfica. Considerei a experiência muito singular e, assim, reprogramei a minha rota para estudar Design Industrial na Faculdade de Belas Artes, em que graduei em 2000.
Assevero que no segmento de design, iniciei de fato a minha trajetória profissional. Nesta empresa, implementei o Departamento de Editoração Eletrônica – pensava em não somente vender o produto, mas também cuidar das etapas pertinentes ao design, à criação de logotipos, ao cuidado com a identidade visual da marca. Como estava comprometido com tais demandas, assim me envolvi bastante com os provedores das ferramentas do setor, como Apple, Photoshop, PageMaker,QuarkXPresse Illustrator, dentre outros. Essas relações me proporcionaram a abertura de portas significativas, considerando que os próprios fabricantes solicitavam a minha presença para palestrar em feiras e em mostras do mercado.
Após quatro anos nesta gráfica, uma multinacional chegou ao mercado brasileiro para vender computadores por catálogo, algo bastante inovador na época. Sendo assim, erigimos uma estrutura a qual imprimíamos e distribuíamos um milhão e duzentos mil catálogos gratuitos mensais, para vendas por telefone. De imediato, fui considerado como uma boa opção para administrar essa iniciativa, por ser um amplo conhecedor de tecnologia, marketing e ter vasta experiência no setor gráfico.
Em menos de um ano, começamos a faturar aproximadamente US$ 400 mil mensais, uma fortuna naquele momento. Mas a corporação resolveu deixar o Brasil. Friso como as relações são fundamentais e utilizo de exemplo o fato de ter recebido ofertas de emprego de quatro grandes clientes logo que isso ocorreu: uma agência de publicidade, uma gráfica, um fabricante e a Editora Abril que era um dos nossos maiores clientes. Amparado por essa conexão e o anseio de trabalhar numa grande empresa nacional, aceitei o desafio da Editora Abril, em 1998, e fui para a área de tecnologia na revista Veja, sendo o responsável pelo parque de Macintosh Apple, além de cuidar das ferramentas de editoração da publicação. Esse foi o primeiro grande ciclo da minha vida, englobando tecnologia, design e setor gráfico.
O valor de saber se adaptar e incorporar culturas distintas
O meu perfil, permeado de inquietude, conduziu-me a outro patamar, o qual almejava integrar uma organização de porte multinacional. Assim, o segundo ciclo profissional se deu na Gradiente, companhia nacional e familiar, que estava iniciando uma parceria com a poderosa Nokia.
Esta parceria me propiciou esse contato internacional, porque gerenciava uma unidade de negócios voltada ao aluguel de celulares no exterior e cobrança no Brasil, numa época em que o roaming internacional ainda não era prioridade para as operadoras. Precisei viajar e estabelecer negociações na França, Itália, Alemanha e Estados Unidos, para aumentar a eficiência e para ampliar o negócio. O objetivo era gerar o máximo de resultado possível, antes que as operadoras resolvessem ampliar sua oferta de serviços.
Já preparado para dar um “salto na carreira”, comecei a buscar novas possibilidades, e foi neste período que a Dell desembarcou no Brasil. Dentro dessa magnífica empresa, construí uma bela carreira de 15 anos, a partir de março de 2001, iniciando como gerente de vendas e fechando o meu ciclo já na condição de Diretor de Soluções Latam, em 2015.
Exerci nove funções em áreas diferentes dentro da corporação, sempre tendo em vista aumentar meu portfólio de conhecimentos para poder almejar uma função de Chief Experience Officer (CXO). Para a empresa, eles buscavam um profissional que pudesse consertar uma área que não estava funcionando, identificar oportunidades de melhoria, implementar mudanças significativas, preparar a área para o crescimento e redirecionar o foco para o cliente, e não apenas nos processos internos.
Segui adiante e, nesse processo, destaco como o meu terceiro grande ciclo o momento que, enfim, decidi dar uma guinada vigorosa na carreira. Após 15 anos de muito sucesso, considerei positivo me movimentar, migrando para a área de serviços, ambicionando conhecer um novo segmento. Embasado nessa estratégia, rumei em novembro de 2015 para a G4S, empresa do ramo de segurança privada, de capital aberto, com 400 mil funcionários, atuante em 113 países. Trata-se de uma instituição que cresceu a partir da aquisição de outras companhias, compondo um conglomerado de empresas. Logo, assumi o cargo de COO e CCO América Latina, com o objetivo de criar a cultura, a governança e os processos de uma empresa globalizada, reestruturando a área comercial e de operações, que contava com mais de 75 mil funcionários, espalhados em 23 países.
Ademais, precisávamos pensar no futuro e, pelas minhas experiências anteriores, expandimos a área de tecnologia, agregando inovações, soluções de monitoramento e segurança e novas abordagens num segmento bastante acostumado a trabalhar apenas com “horas-homem”.
O trabalho realizado na América Latina surtiu efeito, portanto, o headquarter decidiu criar um modelo único que funcionasse no mundo inteiro, para uma operação com mil e duzentos ou cento e vinte mil guardas. Fui designado para desenvolver esse trabalho, alocado em Londres, e meu grande êxito foi o de ter conseguido desenhar este modelo e o de implementar em alguns países em tempo recorde. Estava na matriz, considerado algo marcante, principalmente por poder atuar ao lado do CEO global e de todo o board da companhia, alinhado com as quatro regiões do mundo.
Como fruto desse case bem-sucedido, era incumbido de implementar o mesmo formato em outros setores, incluindo Comercial, Recursos Humanos, Operação de Transportes e Valores, além da área de Finanças. Neste período, foi detectado um problema no Chile, e aceitei ser transferido com a missão de dirimir as falhas, retomando também a área comercial de toda a América Latina.
Em Londres, onde permaneci durante um ano, a minha família me acompanhou, mas na operação chilena fui sozinho – um grande desafio pessoal. Não foi algo fácil, com manifestações populares de cunho político e social ocorrendo, além de pandemia, mas pude reverter a fase adversa da empresa. Permaneci nessa posição até 2021, quando considerei meus compromissos devidamente concluídos.
Adoro o Chile e estava me divertindo bastante na G4S, mas além dos riscos da Covid-19 e, por conseguinte, da distância da família, ainda sofri um grave acidente de bicicleta. Enfim, percebi a necessidade de estar mais próximo da minha esposa Carla e dos meus filhos Marcella e Leonardo. Tudo isso me levou a pensar em promover outra movimentação e me encontrei novamente em busca de opções que pudessem aquiescer às minhas aspirações.
Os desafios e os aprendizados como CEO da Epson
Em julho de 2021, a Epson surgiu em minha vida, incorporando um universo de possibilidades com as quais já era proficiente. Detinha as aptidões requeridas por ter atuado com tecnologia, gráfica e, além disso, tratava-se de uma empresa japonesa, alocada em São Paulo. Enfim, jamais descartaria essa chance de estabelecer outra transição com tantos pontos positivos, com a meta de alcançar níveis mais elevados.
Enalteço o fato de que preciso lidar com desafios que somente me auxiliam a incrementar o meu desenvolvimento. Na Epson, faço com que as pessoas compreendam o valor agregado e conheçam o portfólio da empresa. Tornar esse portfólio mais visível é um dos meus objetivos primordiais, assim como analisar com astúcia como as pessoas compram e consomem. Atualmente, é pré-requisito se preocupar com assuntos que no passado não havia tamanha visibilidade, como a questão da diversidade e da inclusão, e, para tal, estar em constante adaptação é de suma importância.
Tendo em vista todas as experiências supracitadas, destaco que sempre ocupei posições as quais tive que resolver grandes problemas ou situações que outras pessoas não conseguiam solucionar. Ou seja, considero a minha caminhada, alicerçada nos últimos vinte anos, como muito bem realizada, haja vista a forma como superei inúmeros obstáculos, identificando as falhas e montando estratégias para poder seguir adiante. E o mais importante: sempre fundamentado pela minha vivência comercial, com foco na visão de cliente e nas pessoas envolvidas, gerando resultados.
É o grande legado que pretendo deixar: construir um mundo melhor por meio da relação próxima com todas as pessoas e manter-se conectado às constantes mudanças
Aproveito para realçar o momento em que estabeleci como prioridade absoluta tomar as “rédeas da minha carreira”. Durante uma conversa com uma reitora de uma reconhecida universidade norte-americana, falávamos sobre desenvolvimento de carreira. No Brasil, quando perguntamos às pessoas como estas entraram numa empresa, a grande maioria menciona que fora convidada para participar de um processo seletivo. Nos Estados Unidos, é diferente, pois a resposta invariavelmente consiste em dizer: “Eu me apliquei para tal posição”, escancarando essa diferença cultural e estratégica. Embaso o meu raciocínio em cima desse tema. Simplesmente, parei de esperar ser chamado para as vagas que me agradavam e assumi uma nova postura.
Além disso, demonstrei a coragem de mudar de segmento – migrar para uma área desconhecida ajudou muito a abrir a minha cabeça, a compreender um novo negócio, realçando a capacidade de operar em nichos distintos. Assim, pude me destacar dentro de ambientes mais competitivos, aliando-se a isso a viabilidade de conquistar conhecimentos, tornando-me um profissional com habilidades multidisciplinares.
A filosofia de aprender com todos e investir na inclusão
Ressalto o valor de não aguardar que as pessoas criem as oportunidades para mim.Não há margem para esse luxo. As oportunidades precisam ser construídas, precisamos batalhar pelas chances, amparados em planejamento. Outro ponto a ser examinado refere-se ao indivíduo que se considera um conhecedor de tudo, pois isso acarreta, invariavelmente, no comodismo – não podemos estar confortáveis nunca; o ambiente é hostil, mutável, exigente e competitivo.
Neste aspecto, o líder deve fugir, incessantemente, da zona de conforto, permanecendo em constante transformação, apto a se adaptar, aprendendo sempre. As coisas mudam com uma velocidade imensa, e isso requer estar antenado a tudo. Outra virtude primordial é a habilidade de ser inclusivo, abraçar a diversidade, haja vista que isso provém muitos benefícios, com a fusão de visões diferentes, além de ser socialmente preciso. Inclusive, recentemente, terminei um curso de GMP ( General Management Program ) na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), em que foi bastante abordado como se dão as situações de insucesso no mercado, em função da falta de se discutir a diversidade, de forma inclusiva. Existem inúmeros cases de episódios catastróficos por conta desse lapso – “esqueceram” de perguntar para grupos distintos.
Acrescento ainda a questão da globalização. O líder precisa explorar o todo – a crise da economia estadunidense, impreterivelmente, afetará o Brasil, é imprescindível, portanto, estar preparado e passar isso para os funcionários. Portanto, aponto a adaptabilidade à cultura da empresa como um fator diferenciado para ser considerado na formação das equipes. As culturas são diferentes, e verifiquei isso por onde estive.
Ao analisar as habilidades, procuro equilibrar o conhecimento e o potencial. Muitas vezes, ressalto o valor de não aguardar que as pessoas criem as oportunidades para mim, ao passo que os soft skills são mais difíceis de serem obtidos. No meu caso, não temo e sempre busco contratar pessoas melhores que eu. Preciso delas.
A minha teoria parte da filosofia de aprender com todo mundo, aproveitando o máximo das virtudes das pessoas, inclusive de alguns chefes, dos quais nem sequer houve alinhamento de ideias. É preciso ser humilde para reconhecer como cada indivíduo detém a sapiência no ato de ensinar algo. A grande parte dos meus aprendizados veio debaixo para cima, tendo em vista a interlocução junto às equipes, auxiliando-me a refletir e a me aprimorar.
O sonho deve ser estruturado em uma estratégia sólida
Evidentemente, faço a minha parte, e realço a relevância de estar estudando continuadamente. O ambiente acadêmico é muito importante por guarnecer constantes atualizações e, eventualmente, até estimular interações com profissionais do mundo inteiro. Outro aspecto inerente à maneira como atuo abrange a pertinência de se estar em campo. Essa atitude significa sentar-se para interagir com os funcionários – seja com o diretor responsável, o analista, e até o promotor alocado no ponto de venda. Assim, torna-se mais coerente compreender o que está acontecendo no dia a dia, propiciando estar em contato com o cliente. Frequentemente, visito esse público, dialogo, observando in loco, tendo em vista realizar ajustes, quando se faz necessário. Saber escutar ajuda a conter possíveis cenários de crises.
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“Costumo indagar aos jovens sobre planos futuros, com uma pergunta simples: ‘Qual a diferença entre um sonho e um plano? Por exemplo: você quer ganhar na loteria?’. Todo mundo diz que sim, mas 99% desse grupo nem sequer jogam.
Enfim, existe o sonho, mas falta o plano. É vital estabelecer uma estratégia, não apenas se amparar no lúdico, justamente para poder corrigir, errar enquanto há essa possibilidade, e não ficar esperando que o sucesso caia do céu. Em suma, trata-se de idealizar uma meta e trabalhar com tenacidade e lucidez para alcançá-la. ”