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Inteligência emocional, a habilidade que te projeta, afirma Carlos Tonnus

Na coluna desta semana, conheça a história de Carlos Henrique Martins Tonnus, presidente na Gi Group Holding do Brasil

Publicado em 16 de fevereiro de 2024 às 12h19.

Uma característica que carrego comigo desde a infância é a autonomia. Meus pais sempre deram, a mim e aos meus irmãos, esta independência. Em nossa família, o diálogo era algo presente e rotineiro. Lembro que conversávamos muito e eles ouviam e deliberavam sobre nossos pontos de vista com sabedoria e paciência.

Nasci na cidade de Santo André, mas logo me mudei para a cidade de Mauá, ambas na grande São Paulo. A nossa residência era basicamente cinco minutos distante do local de trabalho do meu pai, José Carlos, engenheiro que atuou a vida inteira no setor automotivo, em uma única empresa, a TRW. Minha mãe, por sua vez, era conhecida como a professora Cleuza e lecionava em escolas do Estado e do município.

Os primeiros anos de estudo foram lapidados dentro de um colégio de freiras. E ao iniciar o Ensino Médio optei por fazer um curso na Escola Técnica Federal de São Paulo. A partir daquele momento conheci outras realidades, uma vez que estudava e convivia com amigos da capital paulista. Este movimento despertou-me o interesse em viver e conhecer mais as chances presentes dentro de uma cidade grande, onde era possível ter acesso a muitos recursos que poderiam ajudar no desenvolvimento profissional.

Aos 17 anos, prestes a me formar, fiz o estágio obrigatório em uma empresa local de médio porte do setor automotivo, a Feeder. E dois anos após concluir o Ensino Médio, aos 19, já estava efetivado e era responsável por três turnos e uma equipe. Algumas competências me colocaram em evidência na ocasião: o fato de ter feito intercâmbio no Canadá, o que me proporcionou um inglês diferenciado dentro da empresa; e a conclusão do curso técnico, que me trouxe a familiaridade com computadores ou máquinas programadas por computadores.

Tudo fluía bem e seguia o ritmo, mas trabalhando ali vivi duas experiências distintas: ao mesmo tempo em que conseguia ter acesso a muitas possibilidades, também compreendia que não era aquilo que queria para a minha carreira. O meu sonho era outro. E haveria de encontrar o caminho para ele.

Hora da virada

Foi durante este período que compreendi que não gostaria de estudar Engenharia e que me daria melhor em outros setores da indústria. Eu prestei vestibular para diferentes universidades e cursos e optei por Administração – Habilitação em Comércio Exterior na Universidade Municipal de São Caetano do Sul (IMES). A vida acadêmica ganhou continuidade, anos depois, com uma pós-graduação na Universidade de Riverside, em Global Business Management (2006); e com um MBA em Gestão Financeira de Empresas na Fundação Getúlio Vargas (2009). Nunca parei de estudar e me aperfeiçoar, pois tenho comigo que estudar é algo para a vida toda.

Voltando ao período do vestibular, o fato é que decidi mudar de ares. Na época cursava Administração com habilitação em Comércio Exterior e queria me aprofundar e conhecer mais aquilo que aprendia na teoria. Contudo, infelizmente não conseguia aplicar nada do que via no dia a dia, mesmo gerindo uma equipe, porque eram as habilidades técnicas as exigidas. E eu, naquele momento, queria entender um pouco mais das questões de soft skills. E isto me causou uma inquietação, pois eram realidades diferentes. Hora de mudar o curso da minha história.

Em 2000, fui para a Arthur Andersen, uma empresa de auditoria. E ali dei os passos iniciais para a construção da carreira que tenho hoje. Isto não quer dizer que esteja desconsiderando o período em que trabalhei na indústria. Na verdade, este tempo foi crítico para entender a importância de ter competências diferenciadas e tomar a decisão que considerava mais adequada.

Sou movido por desafios. E estar em uma companhia onde se trabalha com projetos diferentes, entendendo a realidade de cada cliente, me conectou com a empresa e seu propósito. Estava imerso dentro de um ambiente de trabalho saudável, ético e amigável, e isso contribuiu muito para me adaptar de uma maneira rápida à nova rotina. Assim, tive a oportunidade de aprender, não só através dos treinamentos, mas também pela experiência dos projetos e pelo convívio com os colegas de trabalho, algo que buscava há algum tempo.

Como líder, invista no desenvolvimento de pessoas e faça o seu melhor

Em dois anos de Arthur Andersen, interagi e liderei projetos pela empresa do Brasil. Como consultor, foquei na experiência dos clientes e dos profissionais e compreendi a importância de investir no desenvolvimento dos profissionais. Em 2002, fui convidado para ir para a Ernst & Young e ali construir a área de Consultoria em Mobilidade Global e posteriormente a de Gestão de Pessoas. Permaneci nesta organização até 2017 e desenvolvi diferentes projetos dentro da mesma empresa. Entre eles, destaco a mudança de localidade de São Paulo para o Rio de Janeiro entre 2004 e 2014; o fato de ter sido promovido a sócio com apenas 32 anos de idade; e o feito de ter assumido a liderança da Unidade de Negócios de Consultoria em Gestão de Pessoas para América do Sul com apenas 35 anos. Em 2016, assumi outros papéis concomitantes dentro da Ernst & Young do Brasil, além de ser o líder Regional de Consultoria em Gestão de Pessoas, e um dos membros dos comitês Executivo e do Plano de Pensão dos profissionais da Empresa Brasileira. Estas experiências me fizeram entender a dinâmica desses fóruns, ter acesso a diferentes conhecimentos e posicionamentos, e também a lidar com temas sensíveis e gerir riscos.

Em 2017, aceitei o convite de uma empresa de Executive Search e de Consultoria especializada em Gestão de Pessoas, que trazia a proposta de um projeto que me possibilitaria aportar valor com base em minha experiência e competências, bem como aprender sobre novas soluções e atuar em uma empresa de capital aberto nos EUA. Na prática, eu me colocaria como executivo (e não consultor) após a integração de um processo de aquisição (M & A – Merger & Acquisition). O cargo? Presidente na América do Sul da empresa Korn Ferry Hay Group. Fiquei lá até o fim de 2019.

No início de 2020, recebi o convite para ser presidente da italiana Gi Group Holding do Brasil, liderando nove marcas diferentes com soluções desde recrutamento e seleção, passando pela gestão de terceiros (temporários e BPO), treinamento e desenvolvimento até transição de carreiras (outplacement).

Liderar é estar em constante aprendizado

A comunicação é algo crítico para um líder. Ele precisa saber dialogar com a equipe, com os acionistas e com o mercado. E, para que isso saia de acordo, entra em cena a inteligência emocional. Os imprevistos acontecem no dia a dia, e cabe ao líder ter a capacidade de analisar, se automotivar, se adaptar e fazer a gestão de riscos. Ele precisa se comunicar com diferentes stakeholders, e para cada um deles adapta a comunicação.

Incentivar a inovação em qualquer aspecto também é importante, desde a melhoria de um simples processo até questões relacionadas a tendências de tecnologia. O profissional precisa ser incansável na busca de inovação e ter resiliência sempre que necessário. Por isso, a vontade de aprender deve ser constante. E só assim, com este desejo latente, se consegue incentivar este sentimento dentro da própria empresa.

Vale lembrar que no mercado de hoje, com a complexidade em que vivemos, a capacidade analítica também se faz fundamental. Conseguir ler ambientes, ler números, transformar tudo isso em conhecimento e ser capaz de traçar um plano estratégico é uma qualidade inquestionável!

Inteligência emocional, a habilidade que te projeta

A inteligência emocional deve fazer parte do dia a dia do executivo, para que ele passe por momentos de pressão e tensão sem atingir o nível máximo de estresse. Se tiver esta habilidade, conseguirá agir com calma e saberá como lidar com as dificuldades sem gerar uma estafa mental capaz de prejudicar a sua saúde, os seus relacionamentos e as suas tomadas de decisão.

De forma geral, consigo lidar muito bem com o estresse e com situações complexas. Mas houve dois momentos de insucesso. No primeiro, enfrentei situações que afetaram os meus valores e não consegui suportar aquilo, não internalizei de forma tão clara, quebrei o laço com a empresa e perdi o encantamento. Na verdade, cheguei ao limite.

Já na segunda ocasião eu externalizei, o que foi pior, porque quando assim se faz, dependendo da forma, perde-se a inteligência emocional. E esta externalização pode ocorrer de diferentes formas: desde a forma verbal ou escrita, até um afastamento físico ou virtual da liderança da empresa e quando isso ocorre fica nítido para todos.

Na ocasião, internamente percebi que não consegui entender que a empresa funcionava daquela forma e que o erro não foi da companhia, em nenhum dos dois casos. O erro foi meu, pois a empresa sempre foi daquele jeito. É nessa hora que a inteligência emocional ajuda não só na forma como se reage à situação, mas principalmente a fazer uma análise isenta dos fatos e não tomar nenhuma decisão precipitada diante de qualquer situação.

Domine o inglês e torne-o seu aliado

Ter condições para se comunicar em outras línguas é algo fundamental para o sucesso. E quando passei a compor o quadro de funcionários de uma empresa global, o primeiro desafio que encontrei foi o idioma. No caso, ingressei dentro da área internacional e tinha que, necessariamente, falar inglês. Dominar esta habilidade exigiu de mim estudo e perseverança. Tive que dar o melhor e acreditar em mim, sempre!

Esta mesma força também esteve comigo quando passei a trabalhar com diretores, presidentes e lideranças, pessoas com muita bagagem e conhecimento. Se não acreditasse no meu potencial, não conseguiria passar o meu ponto de vista àqueles que me ouvissem.

O fato é queé preciso saber se comunicar, esta é uma habilidade inquestionável. E isso passa não só por falar a língua corretamente, como também em saber ouvir e conseguir passar a mensagem de forma adequada, de forma que tudo faça sentido. Acredito que o desenvolvimento de uma comunicação ampla é algo recorrente e contínuo, que nunca paramos de exercitar.

Trabalhe o autoconhecimento e descubra seus pontos fortes e fracos

O aprendizado contínuo também passa pelo autoconhecimento. Por trabalhar em consultoria de Recursos Humanos, conheço um pouco dos instrumentos da área, e uso alguns deles. A cada dois anos, por exemplo, faço o que chamamos de assessment, uma ferramenta que consegue fazer um diagnóstico e mostrar as habilidades, competências, potencial de liderança, perspectivas de desenvolvimento e os traços de cada pessoa. Como venho fazendo esta análise a cada dois anos, consigo acompanhar a minha evolução com o passar do tempo. Aconselho os executivos a procurarem e conhecerem mais o que existe hoje dentro do desenvolvimento de pessoas. Em questões pontuais também cresci muito com o trabalho do coaching. Sempre que mudei de uma atividade para outra, recorri a estes profissionais e me foi muito benéfico.

Pessoalmente aprendi muito mais com os mentores, porque gosto de entender na prática. E tenho como mentores não só pessoas que estão em uma posição semelhante à minha. Se tenho que lidar com o conselho, vou procurar alguém que esteja no conselho. Se tenho que atender o dono de uma empresa, vou procurar alguém que seja dono de empresa para conhecer o lado dele, não me fechar em uma única visão ou ponto de vista. Exercito a escuta ativa e aprendo com diferentes experiências.

Contudo, o coaching me despertou para o autoconhecimento, me mostrou que era preciso me conhecer, não naquilo que estava transmitindo e falando, mas me conhecer realmente, fazendo testes, compreendendo o outro lado. Então, posso dizer que o coach teve um papel relevante na minha carreira também.

ESG: prioridade para garantir o futuro da sociedade.

Se os profissionais e as empresas não priorizarem o ESG, certamente teremos um futuro mais incerto e complexo. No caso de um profissional que trabalha com serviços profissionais no ecossistema de capital humano é preciso focar no desenvolvimento da sociedade para ter pessoas capacitadas para exercer as atividades do futuro. Dentro da Gi Group, onde estou agora, a Fondazione, na Itália, e o Instituto Gi, no Brasil, tem este propósito. Pessoalmente, estou tendo a oportunidade de construir um legado que ajudará na sustentabilidade do mercado de trabalho e que está totalmente conectado com o meu propósito de vida pessoal, que é ajudar as pessoas no dia a dia.

Dicas de ouro para uma carreira de sucesso

Se a dúvida sobre qual caminho seguir surgir em sua mente, procure responder estas perguntas: Aonde quero ir? O que quero construir? Quais habilidades quero desenvolver? Dedique-se muito e ofereça o seu melhor. É o que faço todos os dias. E acredito que, por agir assim, tudo foi acontecendo para mim.

Conecte-se com pessoas com empatia; construa redes de relacionamentos, esteja com diferentes pessoas e profissionais, em diferentes ambientes, de acordo com a sua ambição e plano de carreira. E tenha em mente que o desenvolvimento deve continuar. Aceite os desafios que aparecerem pela frente e transforme-os em oportunidades ao longo da jornada.

Livro: Inteligência Positiva, Shirzad Chamine, Editora Fontanar

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Uma característica que carrego comigo desde a infância é a autonomia. Meus pais sempre deram, a mim e aos meus irmãos, esta independência. Em nossa família, o diálogo era algo presente e rotineiro. Lembro que conversávamos muito e eles ouviam e deliberavam sobre nossos pontos de vista com sabedoria e paciência.

Nasci na cidade de Santo André, mas logo me mudei para a cidade de Mauá, ambas na grande São Paulo. A nossa residência era basicamente cinco minutos distante do local de trabalho do meu pai, José Carlos, engenheiro que atuou a vida inteira no setor automotivo, em uma única empresa, a TRW. Minha mãe, por sua vez, era conhecida como a professora Cleuza e lecionava em escolas do Estado e do município.

Os primeiros anos de estudo foram lapidados dentro de um colégio de freiras. E ao iniciar o Ensino Médio optei por fazer um curso na Escola Técnica Federal de São Paulo. A partir daquele momento conheci outras realidades, uma vez que estudava e convivia com amigos da capital paulista. Este movimento despertou-me o interesse em viver e conhecer mais as chances presentes dentro de uma cidade grande, onde era possível ter acesso a muitos recursos que poderiam ajudar no desenvolvimento profissional.

Aos 17 anos, prestes a me formar, fiz o estágio obrigatório em uma empresa local de médio porte do setor automotivo, a Feeder. E dois anos após concluir o Ensino Médio, aos 19, já estava efetivado e era responsável por três turnos e uma equipe. Algumas competências me colocaram em evidência na ocasião: o fato de ter feito intercâmbio no Canadá, o que me proporcionou um inglês diferenciado dentro da empresa; e a conclusão do curso técnico, que me trouxe a familiaridade com computadores ou máquinas programadas por computadores.

Tudo fluía bem e seguia o ritmo, mas trabalhando ali vivi duas experiências distintas: ao mesmo tempo em que conseguia ter acesso a muitas possibilidades, também compreendia que não era aquilo que queria para a minha carreira. O meu sonho era outro. E haveria de encontrar o caminho para ele.

Hora da virada

Foi durante este período que compreendi que não gostaria de estudar Engenharia e que me daria melhor em outros setores da indústria. Eu prestei vestibular para diferentes universidades e cursos e optei por Administração – Habilitação em Comércio Exterior na Universidade Municipal de São Caetano do Sul (IMES). A vida acadêmica ganhou continuidade, anos depois, com uma pós-graduação na Universidade de Riverside, em Global Business Management (2006); e com um MBA em Gestão Financeira de Empresas na Fundação Getúlio Vargas (2009). Nunca parei de estudar e me aperfeiçoar, pois tenho comigo que estudar é algo para a vida toda.

Voltando ao período do vestibular, o fato é que decidi mudar de ares. Na época cursava Administração com habilitação em Comércio Exterior e queria me aprofundar e conhecer mais aquilo que aprendia na teoria. Contudo, infelizmente não conseguia aplicar nada do que via no dia a dia, mesmo gerindo uma equipe, porque eram as habilidades técnicas as exigidas. E eu, naquele momento, queria entender um pouco mais das questões de soft skills. E isto me causou uma inquietação, pois eram realidades diferentes. Hora de mudar o curso da minha história.

Em 2000, fui para a Arthur Andersen, uma empresa de auditoria. E ali dei os passos iniciais para a construção da carreira que tenho hoje. Isto não quer dizer que esteja desconsiderando o período em que trabalhei na indústria. Na verdade, este tempo foi crítico para entender a importância de ter competências diferenciadas e tomar a decisão que considerava mais adequada.

Sou movido por desafios. E estar em uma companhia onde se trabalha com projetos diferentes, entendendo a realidade de cada cliente, me conectou com a empresa e seu propósito. Estava imerso dentro de um ambiente de trabalho saudável, ético e amigável, e isso contribuiu muito para me adaptar de uma maneira rápida à nova rotina. Assim, tive a oportunidade de aprender, não só através dos treinamentos, mas também pela experiência dos projetos e pelo convívio com os colegas de trabalho, algo que buscava há algum tempo.

Como líder, invista no desenvolvimento de pessoas e faça o seu melhor

Em dois anos de Arthur Andersen, interagi e liderei projetos pela empresa do Brasil. Como consultor, foquei na experiência dos clientes e dos profissionais e compreendi a importância de investir no desenvolvimento dos profissionais. Em 2002, fui convidado para ir para a Ernst & Young e ali construir a área de Consultoria em Mobilidade Global e posteriormente a de Gestão de Pessoas. Permaneci nesta organização até 2017 e desenvolvi diferentes projetos dentro da mesma empresa. Entre eles, destaco a mudança de localidade de São Paulo para o Rio de Janeiro entre 2004 e 2014; o fato de ter sido promovido a sócio com apenas 32 anos de idade; e o feito de ter assumido a liderança da Unidade de Negócios de Consultoria em Gestão de Pessoas para América do Sul com apenas 35 anos. Em 2016, assumi outros papéis concomitantes dentro da Ernst & Young do Brasil, além de ser o líder Regional de Consultoria em Gestão de Pessoas, e um dos membros dos comitês Executivo e do Plano de Pensão dos profissionais da Empresa Brasileira. Estas experiências me fizeram entender a dinâmica desses fóruns, ter acesso a diferentes conhecimentos e posicionamentos, e também a lidar com temas sensíveis e gerir riscos.

Em 2017, aceitei o convite de uma empresa de Executive Search e de Consultoria especializada em Gestão de Pessoas, que trazia a proposta de um projeto que me possibilitaria aportar valor com base em minha experiência e competências, bem como aprender sobre novas soluções e atuar em uma empresa de capital aberto nos EUA. Na prática, eu me colocaria como executivo (e não consultor) após a integração de um processo de aquisição (M & A – Merger & Acquisition). O cargo? Presidente na América do Sul da empresa Korn Ferry Hay Group. Fiquei lá até o fim de 2019.

No início de 2020, recebi o convite para ser presidente da italiana Gi Group Holding do Brasil, liderando nove marcas diferentes com soluções desde recrutamento e seleção, passando pela gestão de terceiros (temporários e BPO), treinamento e desenvolvimento até transição de carreiras (outplacement).

Liderar é estar em constante aprendizado

A comunicação é algo crítico para um líder. Ele precisa saber dialogar com a equipe, com os acionistas e com o mercado. E, para que isso saia de acordo, entra em cena a inteligência emocional. Os imprevistos acontecem no dia a dia, e cabe ao líder ter a capacidade de analisar, se automotivar, se adaptar e fazer a gestão de riscos. Ele precisa se comunicar com diferentes stakeholders, e para cada um deles adapta a comunicação.

Incentivar a inovação em qualquer aspecto também é importante, desde a melhoria de um simples processo até questões relacionadas a tendências de tecnologia. O profissional precisa ser incansável na busca de inovação e ter resiliência sempre que necessário. Por isso, a vontade de aprender deve ser constante. E só assim, com este desejo latente, se consegue incentivar este sentimento dentro da própria empresa.

Vale lembrar que no mercado de hoje, com a complexidade em que vivemos, a capacidade analítica também se faz fundamental. Conseguir ler ambientes, ler números, transformar tudo isso em conhecimento e ser capaz de traçar um plano estratégico é uma qualidade inquestionável!

Inteligência emocional, a habilidade que te projeta

A inteligência emocional deve fazer parte do dia a dia do executivo, para que ele passe por momentos de pressão e tensão sem atingir o nível máximo de estresse. Se tiver esta habilidade, conseguirá agir com calma e saberá como lidar com as dificuldades sem gerar uma estafa mental capaz de prejudicar a sua saúde, os seus relacionamentos e as suas tomadas de decisão.

De forma geral, consigo lidar muito bem com o estresse e com situações complexas. Mas houve dois momentos de insucesso. No primeiro, enfrentei situações que afetaram os meus valores e não consegui suportar aquilo, não internalizei de forma tão clara, quebrei o laço com a empresa e perdi o encantamento. Na verdade, cheguei ao limite.

Já na segunda ocasião eu externalizei, o que foi pior, porque quando assim se faz, dependendo da forma, perde-se a inteligência emocional. E esta externalização pode ocorrer de diferentes formas: desde a forma verbal ou escrita, até um afastamento físico ou virtual da liderança da empresa e quando isso ocorre fica nítido para todos.

Na ocasião, internamente percebi que não consegui entender que a empresa funcionava daquela forma e que o erro não foi da companhia, em nenhum dos dois casos. O erro foi meu, pois a empresa sempre foi daquele jeito. É nessa hora que a inteligência emocional ajuda não só na forma como se reage à situação, mas principalmente a fazer uma análise isenta dos fatos e não tomar nenhuma decisão precipitada diante de qualquer situação.

Domine o inglês e torne-o seu aliado

Ter condições para se comunicar em outras línguas é algo fundamental para o sucesso. E quando passei a compor o quadro de funcionários de uma empresa global, o primeiro desafio que encontrei foi o idioma. No caso, ingressei dentro da área internacional e tinha que, necessariamente, falar inglês. Dominar esta habilidade exigiu de mim estudo e perseverança. Tive que dar o melhor e acreditar em mim, sempre!

Esta mesma força também esteve comigo quando passei a trabalhar com diretores, presidentes e lideranças, pessoas com muita bagagem e conhecimento. Se não acreditasse no meu potencial, não conseguiria passar o meu ponto de vista àqueles que me ouvissem.

O fato é queé preciso saber se comunicar, esta é uma habilidade inquestionável. E isso passa não só por falar a língua corretamente, como também em saber ouvir e conseguir passar a mensagem de forma adequada, de forma que tudo faça sentido. Acredito que o desenvolvimento de uma comunicação ampla é algo recorrente e contínuo, que nunca paramos de exercitar.

Trabalhe o autoconhecimento e descubra seus pontos fortes e fracos

O aprendizado contínuo também passa pelo autoconhecimento. Por trabalhar em consultoria de Recursos Humanos, conheço um pouco dos instrumentos da área, e uso alguns deles. A cada dois anos, por exemplo, faço o que chamamos de assessment, uma ferramenta que consegue fazer um diagnóstico e mostrar as habilidades, competências, potencial de liderança, perspectivas de desenvolvimento e os traços de cada pessoa. Como venho fazendo esta análise a cada dois anos, consigo acompanhar a minha evolução com o passar do tempo. Aconselho os executivos a procurarem e conhecerem mais o que existe hoje dentro do desenvolvimento de pessoas. Em questões pontuais também cresci muito com o trabalho do coaching. Sempre que mudei de uma atividade para outra, recorri a estes profissionais e me foi muito benéfico.

Pessoalmente aprendi muito mais com os mentores, porque gosto de entender na prática. E tenho como mentores não só pessoas que estão em uma posição semelhante à minha. Se tenho que lidar com o conselho, vou procurar alguém que esteja no conselho. Se tenho que atender o dono de uma empresa, vou procurar alguém que seja dono de empresa para conhecer o lado dele, não me fechar em uma única visão ou ponto de vista. Exercito a escuta ativa e aprendo com diferentes experiências.

Contudo, o coaching me despertou para o autoconhecimento, me mostrou que era preciso me conhecer, não naquilo que estava transmitindo e falando, mas me conhecer realmente, fazendo testes, compreendendo o outro lado. Então, posso dizer que o coach teve um papel relevante na minha carreira também.

ESG: prioridade para garantir o futuro da sociedade.

Se os profissionais e as empresas não priorizarem o ESG, certamente teremos um futuro mais incerto e complexo. No caso de um profissional que trabalha com serviços profissionais no ecossistema de capital humano é preciso focar no desenvolvimento da sociedade para ter pessoas capacitadas para exercer as atividades do futuro. Dentro da Gi Group, onde estou agora, a Fondazione, na Itália, e o Instituto Gi, no Brasil, tem este propósito. Pessoalmente, estou tendo a oportunidade de construir um legado que ajudará na sustentabilidade do mercado de trabalho e que está totalmente conectado com o meu propósito de vida pessoal, que é ajudar as pessoas no dia a dia.

Dicas de ouro para uma carreira de sucesso

Se a dúvida sobre qual caminho seguir surgir em sua mente, procure responder estas perguntas: Aonde quero ir? O que quero construir? Quais habilidades quero desenvolver? Dedique-se muito e ofereça o seu melhor. É o que faço todos os dias. E acredito que, por agir assim, tudo foi acontecendo para mim.

Conecte-se com pessoas com empatia; construa redes de relacionamentos, esteja com diferentes pessoas e profissionais, em diferentes ambientes, de acordo com a sua ambição e plano de carreira. E tenha em mente que o desenvolvimento deve continuar. Aceite os desafios que aparecerem pela frente e transforme-os em oportunidades ao longo da jornada.

Livro: Inteligência Positiva, Shirzad Chamine, Editora Fontanar

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