Exame.com
Continua após a publicidade

Acreditar naquilo que se quer fazer é sinal de coragem

Na coluna desta semana, conheça a história de Marcos Sêmola, sócio da Ernst&Young

Marcos Sêmola, sócio da Ernst&Young. (Histórias de Sucesso/Reprodução)
Marcos Sêmola, sócio da Ernst&Young. (Histórias de Sucesso/Reprodução)
H
Histórias de sucesso

Publicado em 1 de julho de 2022 às, 16h05.

Por Fabiana Monteiro

Ciclo é uma palavra com origem no termo grego kýklos, que significa uma série de fenômenos cíclicos, ou seja, que se renovam constantemente. Em astronomia, é o tempo em que se repetem os mesmos fenômenos astronômicos: o ciclo lunar, por exemplo, tem duração de 19 anos ou 235 meses, quando as fases da Lua se repetem quase nos mesmos dias e na mesma ordem. Já no âmbito profissional, um ciclo pode ter duração variável e deve ser entendido como um espaço de tempo em que ocorre uma sequência de fenômenos ou acontecimentos, geralmente limitados por fatos como a natureza da atividade da indústria, da empresa ou da função.

Profissionais ambiciosos, determinados e com visão de vida de longo prazo tendem a observar com interesse as características do ciclo em que se encontram, procurando identificar as fases que compõem esse ciclo e a duração média de cada uma delas. Tudo isso para tomar consciência do tempo esperado que todo ciclo deverá levar e, assim, preparar-se, planejar com antecedência e decidir com confiança quando será hora de encerrar um e começar outro. Foi assim, por exemplo, quando decidi fundar uma empresa de software e iniciar minha trajetória profissional em 1990, período em que vivi uma avalanche de descobertas, o que hoje poderíamos chamar de “empreendedorismo raiz”.

Empreender é buscar conhecimento o tempo todo

Sou brasileiro e tenho cidadania italiana com origem em Invorio, província de Novara na região de Piemonte. Nasci em uma família com mente empreendedora, no Rio de Janeiro, em 1972. Meu avô era um executivo internacional e empreendedor em suas atitudes. Desde a infância, sempre fui muito motivado a construir coisas e exposto à cultura do do it yourself (DIY). Lembro que, certa vez, ele decidiu reformar nossa casa de veraneio em Petrópolis e disse: “Vou construir meus próprios blocos de concreto”. E foi assim também com o apiário, com o sistema de irrigação da horta, a criação de orquídeas e com as codornas. Acredito que foi por todos esses exemplos que herdei parte dessa cultura de buscar o conhecimento o tempo todo, de exercitar a curiosidade para desconstruir e reconstruir as coisas. Meu pai seguiu o mesmo caminho. Foi também com ele que aprendi a me interessar pelo que está por trás do funcionamento das coisas. Durante a vida, o vi, e sigo vendo-o, mesmo hoje aos 77 anos de idade, para cima e para baixo com suas ferramentas e consertos domésticos. Nunca vi nem meu avô nem meu pai dizerem que algo fosse impossível. Eles foram meus verdadeiros mentores.

Já adolescente, depois de exposto à computação na escola e de ganhar meu primeiro computador em 1985, fiz o segundo grau técnico em Processamento de Dados, na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE-RJ), do IBGE. A partir desse momento, decidi empreender. Antes mesmo de ingressar na faculdade, construí minha primeira empresa, a Sêmola Software Solutions, voltada para o desenvolvimento de programas de computador para automação comercial. Durante nove anos, estive no comando dela, desenvolvendo soluções para automatizar frentes de loja, pontos de venda, gestão de estoque, contabilidade e inventário. A empresa também oferecia treinamento e eu dava aulas de programação. Entender o mercado e seu nicho, identificar diferenciais competitivos, desenvolver uma proposta de valor que resolvesse problemas reais, montar uma equipe, definir estratégias de preço e marketing, administrar o negócio e ainda fazer a roda girar sem interrupções e de forma lucrativa... foi mesmo uma escola.

Dois anos depois de a empresa estar aberta e em franco crescimento, iniciei a graduação em Ciências da Computação na Universidade Católica de Petrópolis (UCP-RJ), cidade para onde me mudei depois de conquistar os primeiros clientes. Tive bons professores e uma rica experiência na faculdade, uma vez que podia cruzar a teoria com a prática que via nos meus clientes e na empresa. Eu era um entusiasta da programação e de resolver problemas práticos e muito reais dos clientes. Lembro-me bem dos momentos em aula em que a cabeça não parava de pensar nos problemas de algoritmo que eu trazia do trabalho, então me pegava escrevendo algoritmos em formulários contínuos perfurados, enquanto a aula acontecia. Foi em meio a esse caos acadêmico, conjugado com o natural caos empreendedor, que penso ter forjado a base de um pensamento empreendedor e docente. E assim me formei em 1996.

Reconstruir faz parte do processo evolutivo e do distanciamento de uma vida ordinária

Sempre soube dos riscos em retardar meu ingresso no mercado de trabalho, na busca do primeiro emprego. Mas, foi uma decisão consciente. Acreditei no diferencial que representava a maturidade proporcionada pela ampla experiência empreendedora. Nove anos depois da fundação da empresa, o fim do primeiro ciclo profissional chegou. Considerei ser a hora do tudo ou nada. De injetar capital na empresa para um salto de crescimento ou de buscar outro nicho. A situação econômica do país à época me deu a resposta. Encerrar um ciclo e começar outro é valorizar a renovação, buscar uma experiência de vida mais diversificada e naturalmente rica. É reconhecer que ainda há muito mais a aprender e ensinar, e dar a si mesmo a chance de fazer diferente. Ciclos profissionais bem planejados são parte de um processo evolutivo natural. Representam a oxigenação do espírito e a renovação da energia produtiva que nos mantêm vivos e nos afastam de uma experiência monótona e ordinária. Eu tenho uma autoconfiança grande e acredito que o destino pertence a nós, que determinamos os caminhos. Eu sempre planejei muito meus próximos passos e sempre tracei planos de longo prazo.

Por tudo isso, fui buscar o mercado de consultoria. Nele, a vivência de fundar e gerir integralmente um negócio tem reconhecida valorização e representa um diferencial competitivo e um acelerador para a progressão profissional. Por um instante, achei que tivesse cometido o primeiro erro de transição, pois encarar o mercado sem nunca ter tido um vínculo empregatício – e já com idade fora dos padrões de mercado – oferecia natural resistência.

Felizmente, eu estava enganado. Depois de definir as empresas de meu interesse, procurei a Módulo, à época empresa brasileira líder em software e consultoria de segurança da informação, na qual comecei. De fato, tive uma trajetória acelerada. Iniciei na função de Gerente de Projetos e logo passei a atuar como Gerente Nacional de Produtos, desenvolvendo serviços de consultoria e educando as equipes de vendas espalhadas pelo Brasil. Minha experiência prévia e um certo tino para a venda e a comunicação me levaram ao projeto educacional de certificação profissional, para o qual produzi material e lecionei, além de me tornar porta-voz da empresa em parceria com seu fundador. Era 1999 e eu estava concluindo o MBA em Tecnologia Aplicada na Fundação Getúlio Vargas (FGV), depois de uma pós-graduação mais técnica em Redes de Computadores. Um ano mais tarde, já com o MBA concluído, os professores-coordenadores da FGV me convidaram para lecionar na cadeira de Segurança da Informação nos MBAs da instituição pelo Brasil. Comecei e nunca mais parei. Já são mais de vinte anos nessa relação docente fascinante, em que se aprende mais do que se ensina. Foi também nesse período que, no escritório da consultoria, recebi a visita de uma profissional da área de marketing procurando quem pudesse dar uma entrevista e escrever um artigo para um veículo especializado online. Sem pensar muito, me atirei para assumir o compromisso.

Estar aberto a novas experiências torna sua carreira mais rica

Assim, em meados do ano 2000, iniciei minha primeira experiência como escritor, passando a publicar quinzenalmente artigos no portal IDGnow, tarefa que desempenhei durante dez anos, em uma coluna chamada Firewall, e na qual tive a liberdade de publicar textos opinativos sobre segurança da informação e a continuidade dos negócios. Dois anos depois, lancei meu primeiro livro pela Editora Campus, o primeiro em língua portuguesa abordando a gestão da segurança da informação com uma visão executiva, orientada a processos, pessoas e tecnologias. O fato gerou bastante repercussão e logo despertou o interesse da Schlumberger, multinacional de serviços de tecnologia para a indústria de petróleo, para a qual fui com a missão de conduzir a área de consultoria de segurança para o mercado brasileiro. Academicamente, eu começava mais uma pós-graduação, desta vez em Marketing e Estratégia de Negócios pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Minha divisão Sema na Schlumberger foi vendida um ano depois para a Atos Origin, empresa que, entre outros projetos de grande porte e visibilidade global, era a responsável pela tecnologia nos Jogos Olímpicos. Foi na Atos Origin que eu vivi minha segunda grande oportunidade empreendedora. Meu chefe à época, um britânico de coração brasileiro, me ofereceu as condições ideais: recursos financeiros, autoridade, autonomia e um plano agressivo e motivador de remuneração variável, para construir uma nova unidade de negócio de consultoria de segurança da informação com alvo na América Latina. Soou como música para os meus ouvidos, uma vez que pude empreender novamente, desta vez amparado por uma marca de reputação global, com estrutura corporativa robusta e a liberdade de construir e operar um novo negócio do jeito que imaginei. Comecei definindo a estratégia da oferta, o portfólio de serviços, a estrutura de custos, o posicionamento do preço, as alianças e o go-to-market. Então precisei me cercar dos melhores, para sermos capazes de realizar as entregas, de estabelecer reputação e remunerar o investimento e os acionistas.

Comecei a montar a equipe e fui ao mercado procurando aqueles com os quais tinha trabalhado antes, convidando-os para esse novo projeto. Tive então, pela primeira vez, uma noção mais clara do poder da liderança alinhada a um propósito autêntico. Afinal, todos os melhores que eu procurei estavam bem empregados e aceitaram o desafio. Consegui transmitir a eles uma visão estratégica do projeto com entusiasmo, confiança e a crença que me levaram até ali, fazendo-os acreditar que valia assumir o risco. E o que aconteceu? Em seis meses de operação, partindo de uma “página em branco” e um pipeline de oportunidades inexistente, surpreendemos, batendo a meta do ano, de 10 milhões de reais.

O feito virou notícia na imprensa brasileira e produziu uma onda de euforia local, mas também chegou aos ouvidos da liderança da Atos Origin em Londres, que não perdeu tempo e me chamou para falar sobre a cooperação em projetos. Não pude esconder o entusiasmo diante da possibilidade de ampliar as fronteiras e materializar o plano de carreira internacional que sempre esteve em meus rascunhos. Fui até Londres, e o que parecia ser apenas uma conversa de parceria e troca de conhecimento entre os países se transformou em uma proposta de emprego na Atos Consulting do Reino Unido. Aceitei, obviamente. Implementei o plano de sucessão com a equipe e o chefe no Brasil e me mudei para a Inglaterra com esposa e filho pequeno. Felizmente, por uma espécie de “alinhamento planetário”, minha esposa pôde me acompanhar sem comprometer sua carreira, pois foi amparada pelo instrumento legal da licença sem vencimento, que faz parte do funcionalismo público federal.

Assumir risco faz parte do profissional protagonista que planeja sua trajetória

Não existe ganho potencialmente maior sem um fator de risco inerente. Foi assim quando, ainda no segundo ciclo profissional, decidi investir em uma carreira internacional. Nesse novo ambiente, tudo era distinto e as chances de frustração e fracasso eram maiores do que as de permanecer no velho e confortável ciclo, dando simplesmente mais voltas. Em Londres, deparei-me com um mundo novo, no qual não só a língua, mas a própria maneira de vender consultoria e segurança eram outras. Então, não tive o mesmo protagonismo que no Brasil. Naturalmente, isso produziu um incômodo, pois sempre traço planos para andar para frente, acumulando “tijolos na parede” e pensando no próximo passo. Mas, tive de absorver a frustração momentânea, enxergar todos os outros fatores positivos e entender o novo ambiente de negócios. E como resolvi isso? Trabalhando, aprimorando o inglês e as relações com os britânicos e demonstrando novamente meu valor profissional.

Acumulados, à época, um total de nove anos em consultoria, dos quais praticamente três em Londres, senti que poderia ser a hora de traçar o próximo passo, de pensar no terceiro ciclo profissional. Parei para pensar em tudo o que já havia produzido, nos prêmios que havia ganho, nas metas batidas, nas dezenas de palestras, entrevistas e artigos publicados, no curso recente de negociação da London Business School, em toda experiência que havia conseguido acumular e no que poderia ser o próximo degrau evolutivo e natural da carreira. Tomei, então, a decisão: se era para fazer uma mudança, que fosse para onde eu pudesse ser ainda mais valorizado, no qual a jornada de empreendedor e consultor me diferenciasse; e houvesse espaço e recursos virtualmente ilimitados para ousar, viver experiências culturais e tecnológicas diferentes e seguir influenciando no resultado da empresa. Pensei logo em me tornar cliente e no abastado setor de óleo e gás, com o qual já tinha intimidade. Com o plano traçado, foi só uma questão de colocar em prática. Em um dos fins de semana cinzentos de Londres, pesquisando no site das empresas de energia, encontrei a posição perfeita. A posição em que haveria ganhos profissionais evidentes e condizentes com as etapas que compunham minha trajetória até ali. Concorri, via internet, para o cargo de Global Governance, Risk and Compliance (GRC) Manager, na Shell Holanda. A cidadania italiana me permitiu disputar a vaga em iguais condições com os locais. Depois de um dia inteiro de entrevistas e sabatinas, fui o escolhido e me mudei para a cidade de Haia, sede do Tribunal Penal Internacional e do headquarter da Shell.

Se existe conflito entre os planos do casal, existe um problema a ser resolvido

Meu terceiro ciclo revelou uma experiência diferente das anteriores. Foi também o ciclo em que cometi alguns erros de julgamento e, por muito pouco, não fecho a janela de retorno ao Brasil. Eu já estava há quase dois anos vivendo e trabalhando em Haia, na Shell Holanda, onde tinha responsabilidade global pela definição e operação de um framework de GRC para um portfólio de 25 joint ventures distribuídas em 25 países, no negócio de gás e energia. Nesse momento, minha esposa sentia que precisava retornar, não apenas por questões profissionais, mas também porque estava esperando nosso segundo filho. Aprendizado: quando há qualquer conflito entre os planos do casal, você tem um problema.

Na tentativa de resolvê-lo o quanto antes, procurei fazer alguns movimentos de carreira de retorno ao Brasil dentro da própria empresa, mas que foram mal identificados e trabalhados. Todas as opções que pareceram adequadas à primeira vista se desfizeram rapidamente. Quando, finalmente, o cargo certo surgiu, convergindo com minha visão de jornada profissional e ainda na janela de saída da Holanda, dediquei-me a disputá-lo. E fui o escolhido. Com isso, assumi a liderança de Tecnologia da Informação da Shell no negócio de Downstream América Latina, com base no Rio de Janeiro, minha cidade natal. Assim, retornamos felizes ao Brasil. Em termos de cultura organizacional, processos e políticas, o movimento era uma continuidade do que havia experimentado na Shell Holanda, mas os desafios de negócio eram particulares. Vivi experiências valiosas, muitas delas novas. Upgrades de grande porte em sistemas ERP distintos, orquestração e adequação de centenas de sistemas legados heterogêneos, governança de controles de segurança da informação e riscos operacionais, parcerias e relacionamentos intensos com fornecedores, adequações às inúmeras regulamentações brasileiras e suas obrigações acessórias como o e-Social e o Sistema Público de Escrituração Digital (SPED), com seus acrônimos NFe, EFD e ECD. Foi um período especialmente rico em diversidade de experiências e guiado pela satisfação de estar em uma grande empresa global, reconhecida como a maior do mundo em 2013.

Contudo, depois de mais de nove anos em uma mesma empresa como executivo e diante de um redesenho global da Shell por força de vetores mercadológicos que afetaram o negócio no início de 2017, meu ciclo profissional se mostrou esgotado. Não me motivava a ideia de continuar fazendo mais do mesmo por muito mais tempo, sem espaço para subir, em virtude do novo desenho corporativo. Não enxerguei possíveis desvios ou oportunidades de pivotagem que fizessem sentido para minha visão profissional de longo prazo. A decisão foi a de iniciar um período pré-ciclo profissional, uma espécie de preparatório, completamente novo, um período catapultador e com grande potencial de transformação.

Entender os ciclos é sinal de maturidade e autoconhecimento

Não havia deixado a Shell ainda, quando decidi investir tempo, energia e trabalho voluntário no ecossistema de inovação. Voltei para a academia e fui à Harvard Business School estudar Estratégias Disruptivas com o mestre da inovação, Clayton Christensen, falecido em 2020. Na sequência, apliquei e iniciei o mestrado à distância em Inovação na HEC School of Management Paris, eleita em 2020 a segunda melhor escola de negócios do mundo. Li mais do que o habitual. Literaturas de fato disruptivas que me fizeram compreender a dinâmica ágil, suas ferramentas e o momento de exponencialidade e de transformação digital. Intensifiquei atividades de give back assessorando startups. Mentoreei-as nos programas de inovação do governo federal, o InovAtiva Brasil, e no governo estadual, StartupRio.

Finalmente, no segundo semestre de 2017, reuni-me com outros dois diretores cariocas, um executivo e o outro empresário, para trazer para o Rio de Janeiro o maior programa de aceleração de startups do mundo, o Founder Institute. Presente em sessenta países, esse programa foi fundado em 2009 pelo americano que, curiosamente, foi roommate de Elon Musk, Adeo Ressi. Ele construiu uma metodologia escalável de validação e lançamento de startups baseada em experimentos de campo realizados pelos próprios empreendedores. Começamos a operação mapeando outros executivos, empresários e empreendedores de sucesso que também se dispusessem a doar parte de seu tempo como mentores do programa em 14 encontros noturnos de orientação e avaliação dos modelos de negócio das startups. Formamos um grupo poderoso de noventa mentores. Ampliei sobremaneira minha rede de relacionamentos. Aprendi mais do que ensinei e senti plenamente a experiência de investir nas pessoas sem outro objetivo senão o de doação e aprendizado. Os resultados dos ciclos subsequentes do Founder Institute no Rio e o entusiasmo de poder colaborar com o fortalecimento dos empreendedores e do mercado local me levaram à Anjos do Brasil, da qual me tornei investidor-anjo. A essa altura, havia me tornado mentor, acelerador e investidor de startups, mas ainda faltava fundar uma. Por isso, depois do convite de um dos melhores mentores do Founder Institute Rio, não resisti ao potencial da ideia e cofundei com ele e outros dois sócios a nossa startup JURYVOX. A jornada de 18 meses foi inesquecível, cheia de boas lembranças, lições e conquistas. 

Hoje, penso em tudo isso que fiz no campo da inovação acreditando ser um elemento complementar e catalizador de toda experiência pregressa que eu colecionara, e que pudesse, mais uma vez, ser um diferencial em uma sociedade que vive a euforia e o bônus da transformação digital, mas que também precisa gerir o medo e o ônus dos riscos cibernéticos. Foi com essa visão estratégica que comecei a escrever a jornada do meu quarto ciclo profissional no fim de 2018. As particularidades de cada indivíduo devem ser respeitadas. Nem todos têm tanta ambição ou se sentem insatisfeitos em permanecer no mesmo ciclo profissional por anos e anos, dando voltas. O mais importante é ter a consciência de que os ciclos existem e precisam ser bem entendidos, para que o livre-arbítrio decida quando e o que fazer com eles.

Você pode ser o que quiser

Eu não acredito em limites. É preciso ter coragem para acreditar no que se quer fazer. Então não se limite por nada! Talvez essa autoconfiança me faça acreditar que sou capaz de fazer muitas coisas que talvez eu nem possa. No entanto, este sentimento é tão forte que consigo ir e realizar o que me proponho a fazer. Muita gente atribui isso à sorte, mas, no fundo, é uma mistura de autoconfiança e fé de que é possível, junto com a cultura do fazer e do experimentar. Meu avô dizia que quem não tem competência não se estabelece, porém, se tudo na vida é evolutivo, eu aprimoraria sua frase, acrescentando que quem não tem confiança, iniciativa e coragem para tomar riscos, também não.

Bem no meio disso tudo temos a educação. Não me refiro somente à educação formal que acaba sendo o caminho tradicional para se adquirir competência. Acredito que as pessoas podem ser e fazer o que desejarem se souberem buscar conhecimento em suas diversas formas. Além disso, reconheço a importância de se fazer uma leitura contínua do ambiente em que vivemos e trabalhamos. Não vivemos sós, mas sim em uma sociedade cada vez mais conectada, na qual zelar pelas pessoas e pelas relações com elas é plantar, regar e ver crescer um ativo valiosíssimo para qualquer movimento profissional que se queira fazer ao longo do tempo: sua própria reputação. Felizmente, todas as mudanças que me propus fazer na carreira até aqui dependeram direta ou indiretamente da impressão que produzi nas pessoas. Pequenas ou grandes atitudes deixam marcas duradouras e elas, quer você queira ou não, vão determinar o quão longe profissionalmente conseguirá chegar. 

Eu, sinceramente, não me reconheço como referência para ninguém. Somos, por definição, seres falhos, incompletos e em evolução. Contudo, tenho orgulho de ser o que construí ao longo dos meus 48 anos, errando, acertando, equilibrando ambição, vocação, desejo, ética, dedicação, confiança, coragem, atitude e uma certa dose de impulso para transformar minha própria realidade em uma história que fizesse sentido para mim. Aprendi com o autoestudo, por exemplo, que meus ciclos têm a duração média de nove anos. Aprendi que planejamento me acalma e me transmite controle. Aprendi que assumir risco consciente tende a produzir mais surpresas agradáveis do que desagradáveis, além de tornar a vida muito mais rica em experiências. Além disso, venho confirmando o que há tempos acredito piamente: que a vida é curta demais para fazermos sempre as mesmas coisas e da mesma forma. Por isso, é fundamental construir uma visão integrada, que deve ser revisitada constantemente, com a qual possamos acompanhar nossa trajetória e os próximos passos, sem perder de vista o objetivo maior. Esse objetivo maior posso chamar de propósito, apesar do desgaste atual do termo. Cada um com o seu e do seu jeito, mas todos zelosos ao revisitá-lo e revalidá-lo constantemente, para manter a energia pela experimentação, pela evolução e pela vida sempre acesa. 

Em 2019, eu iniciei meu quarto ciclo profissional. Retornei à consultoria, dessa vez reunindo o melhor dos mundos que já experimentei. Amparado por um lastro reputacional inquestionável de uma empresa global e que valoriza as pessoas, a diversidade e a inclusão, volto a intraempreender como sócio da multinacional Ernst&Young e à frente do negócio de segurança da informação ou cibersegurança, domínio ao qual me dedico há décadas, ao lado de sócios admiráveis.