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O racismo recreativo e o caos satisfatório para posicionamentos no futebol

Vinicius Jr foi (novamente) vítima de racismo e recebeu uma onda de apoio de clubes, entidades e personalidades, mas o que virá além disso?

Vini Jr: atleta foi vítima de racismo (Quality Sport Images/Getty Images)
Vini Jr: atleta foi vítima de racismo (Quality Sport Images/Getty Images)

Como amplamente divulgado, Vinicius Jr foi (novamente) vítima de racismo no Campeonato Espanhol de Futebol Masculino. A dor de Vini, teoricamente, alcançaria a todos que o viram sofrer. Após toda repercussão gerada, o incompetente e na melhor das hipóteses mal-intencionado Javier Tebas, presidente da LaLiga, muito mais preocupado com a reputação da Liga que com o racismo ocorrido, defendeu publicamente a competição.

Precisou que no dia seguinte, o presidente da Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, finalmente demonstrasse apoio ao jogador brasileiro, criticando a postura de Tebas. E aí foi cirúrgico: “Temos um problema de comportamento, educação e racismo no nosso país. A primeira coisa é reconhecê-lo. Enquanto houver uma pessoa indesejável que insulta por causa da condição sexual, cor da pele ou credo, temos um problema sério que mancha todo um time, torcedores, clube ou país”. A questão é: qual esforço de fato virá para que isso acabe não só na Espanha, como mundo afora?

Acompanhado da dor de Vini, veio um onda de apoio e posicionamentos. Mundo afora, clubes, entidades, personalidades e afins em rápidas e prontas manifestações pró-Vini. Claro, ainda bem que vieram. Mas além do apoio em si, o que virá? Estão todos os clubes que manifestaram repúdio dispostos a assinar documentos em que aceitam perder pontos se o racismo for praticado em sua casa, por sua torcida? Queremos de fato mudar a sociedade ou queremos apenas o barulho e a indignação desencadeados pelo constrangedor domingo vivido em Valência?

Adilson José Moreira, doutor em Direito Constitucional Comparado pela Universidade de Harvard (Estados Unidos), estuda e conosco compartilha a compreensão sobre racismo recreativo, que é crime e já está consagrado no ambiente jurídico, podendo ser considerado injúria ou racismo.

No racismo recreativo, tenta-se transmitir uma falsa imagem, criando estereótipos. No Brasil, diz o estudioso, acostumou-se a camuflar o racismo com “humor”, sendo hábito arraigado na sociedade contribuir para que comportamentos inaceitáveis sejam mantidos e diferenças sejam perpetuadas.

É fundamental que o esporte, forte e potente como transformador social, seja catalisador desse processo. De posicionamentos lindos e impactantes todos nós estamos cheios. As vítimas ainda mais. Quem vai se colocar a disposição do árduo processo de evolução?  Quem está disposto a cortar na própria carne? Quem aceita perder, inclusive dinheiro, se acontecer sob seus domínios para que não aconteça mais?

O caos no futebol deixa muita marca, patrocinadores e clubes, preparados para estar institucionalmente perfeito nas redes sociais. Virou recreação emitir notas, posicionamentos. Na prática, um nada completo. Chega de fazer do racismo e outras tantas mazelas plataformas de fala, não de ação. E que Vinicius Jr esteja amparado porque, além de ser um craque dentro de campo, mostra que pode mudar o rumo do esporte mundial.