Por profissionais que ainda trabalhem por paixão
Recentemente realizei um grande sonho. Vi estreiar minha primeira peça de teatro. Foi incrível ver um texto que só existia em meu imaginário ganhar forma real nos palcos. É uma sensação muito difícil de se explicar poder comparar o que eu vi antes em minha mente com o que eu vi depois nos palcos. A […]
Da Redação
Publicado em 31 de janeiro de 2017 às 11h45.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h08.
Recentemente realizei um grande sonho. Vi estreiar minha primeira peça de teatro. Foi incrível ver um texto que só existia em meu imaginário ganhar forma real nos palcos. É uma sensação muito difícil de se explicar poder comparar o que eu vi antes em minha mente com o que eu vi depois nos palcos. A materialização do imaginário é um exercício muito louco ou, como disseram uns amigos, é como “brincar de Deus”. Aliás, foi bom também para ver o trabalho que Deus deve ter tido para criar isso tudo que existe…
Fazer uma peça é um trabalho enorme! Apesar de não ter me envolvido com a produção, acompanhei tudo de perto. Foram mais de 40 pessoas trabalhando diretamente para o espetáculo. Somando os indiretos, quase 100 pessoas contribuíram de alguma maneira para que as cortinas fossem abertas e o espetáculo acontecesse. E é exatamente aí que mora a maior dificuldade de se tirar projetos culturais do papel. Como pagar tanta gente? Se respondeu “com a venda de ingressos” passou longe. A venda de ingressos mal paga o aluguel do teatro. Enquanto um ingresso para O Rei Leão em Londres ou Nova York custa em torno de 200 dólares, um ingresso para um musical infantil no Brasil com a meia entrada custa menos de 10 dólares, um vigésimo do valor. E, pasmem, emprega quase o mesmo numero de pessoas. Como é possível fechar a conta? Com as cada vez mais escassas e disputadas leis de incentivo mas, principalmente, com as remunerações irrisórias pagas para quem vive da arte.
Antes de acompanhar o processo de produção desta peça eu achava que viver de arte no Brasil era coisa só para guerreiros. Terminado o processo de produção aprendi que estava errado. Guerreiros não conseguiriam colocar uma peça de pé. Somente pessoas absolutamente apaixonadas pelo que fazem conseguem. Artistas trabalham igual ou mais do que publicitários, advogados, engenheiros, médicos ou arquitetos. Ganham, em geral, muito menos. Mas fazem o que fazem por paixão. Hoje, mais do que nunca, tornou-se para mim duríssimo ouvir pessoas criticando as verbas destinadas a cultura, como se fossem esmolas dadas a um bêbado vagabundo.
Sou empresário e sei da dificuldade de se colocar uma empresa de pé que empregue 40 profissionais como emprega este espetáculo. Ainda mais em tempos como os nossos… Sei também que a cultura tem verba orçamentaria equivalente a menos de 2% do orçamento da Saúde (na mão do PP) ou menos de 10% do orçamento da Integração Nacional (na mão dos Barbalhos). E posso imaginar que as ineficiências e ilicitudes relacionadas a estes ministérios, se corrigidas, devam representar mais de 10 orçamentos anuais para a cultura…
Mas não, vamos matar o bêbado vagabundo, insistem os liberais de final de semana, ávidos leitores de manchetes! É triste. Não percebem que somos espectadores de um espetáculo muito mais preocupante. Um mundo em que as pessoas fazem cada vez menos o que amam e cada vez mais o que “podem” ou o que sobra para elas. Sem perceber, estamos todos voltando ao mundo retratado curiosamente pela arte em Tempos Modernos de Chaplin. Só mudaram as porcas (ou porcos) e os parafusos…
Ah, e aproveitando o espaço, minha peça se chama Branca de Neve e Zangado, estão todos convidados a assistir no Teatro Frei Caneca.
Recentemente realizei um grande sonho. Vi estreiar minha primeira peça de teatro. Foi incrível ver um texto que só existia em meu imaginário ganhar forma real nos palcos. É uma sensação muito difícil de se explicar poder comparar o que eu vi antes em minha mente com o que eu vi depois nos palcos. A materialização do imaginário é um exercício muito louco ou, como disseram uns amigos, é como “brincar de Deus”. Aliás, foi bom também para ver o trabalho que Deus deve ter tido para criar isso tudo que existe…
Fazer uma peça é um trabalho enorme! Apesar de não ter me envolvido com a produção, acompanhei tudo de perto. Foram mais de 40 pessoas trabalhando diretamente para o espetáculo. Somando os indiretos, quase 100 pessoas contribuíram de alguma maneira para que as cortinas fossem abertas e o espetáculo acontecesse. E é exatamente aí que mora a maior dificuldade de se tirar projetos culturais do papel. Como pagar tanta gente? Se respondeu “com a venda de ingressos” passou longe. A venda de ingressos mal paga o aluguel do teatro. Enquanto um ingresso para O Rei Leão em Londres ou Nova York custa em torno de 200 dólares, um ingresso para um musical infantil no Brasil com a meia entrada custa menos de 10 dólares, um vigésimo do valor. E, pasmem, emprega quase o mesmo numero de pessoas. Como é possível fechar a conta? Com as cada vez mais escassas e disputadas leis de incentivo mas, principalmente, com as remunerações irrisórias pagas para quem vive da arte.
Antes de acompanhar o processo de produção desta peça eu achava que viver de arte no Brasil era coisa só para guerreiros. Terminado o processo de produção aprendi que estava errado. Guerreiros não conseguiriam colocar uma peça de pé. Somente pessoas absolutamente apaixonadas pelo que fazem conseguem. Artistas trabalham igual ou mais do que publicitários, advogados, engenheiros, médicos ou arquitetos. Ganham, em geral, muito menos. Mas fazem o que fazem por paixão. Hoje, mais do que nunca, tornou-se para mim duríssimo ouvir pessoas criticando as verbas destinadas a cultura, como se fossem esmolas dadas a um bêbado vagabundo.
Sou empresário e sei da dificuldade de se colocar uma empresa de pé que empregue 40 profissionais como emprega este espetáculo. Ainda mais em tempos como os nossos… Sei também que a cultura tem verba orçamentaria equivalente a menos de 2% do orçamento da Saúde (na mão do PP) ou menos de 10% do orçamento da Integração Nacional (na mão dos Barbalhos). E posso imaginar que as ineficiências e ilicitudes relacionadas a estes ministérios, se corrigidas, devam representar mais de 10 orçamentos anuais para a cultura…
Mas não, vamos matar o bêbado vagabundo, insistem os liberais de final de semana, ávidos leitores de manchetes! É triste. Não percebem que somos espectadores de um espetáculo muito mais preocupante. Um mundo em que as pessoas fazem cada vez menos o que amam e cada vez mais o que “podem” ou o que sobra para elas. Sem perceber, estamos todos voltando ao mundo retratado curiosamente pela arte em Tempos Modernos de Chaplin. Só mudaram as porcas (ou porcos) e os parafusos…
Ah, e aproveitando o espaço, minha peça se chama Branca de Neve e Zangado, estão todos convidados a assistir no Teatro Frei Caneca.