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Escolas rurais são sementes para Brasil voltar a crescer

Se o aluno aprende a trabalhar no campo e desperta sua vocação para desenvolver sua vida profissional na terra onde nasceu e vive, criaremos um cenário ideal para que finque raízes e impulsione a economia agrícola e pecuária do País Nas minhas andanças Brasil afora como professora e Diretora do Instituto Crescer, onde coordeno projetos de formação de professores em diversas cidades do interior, sempre me impressionou o forte contraste […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 31 de agosto de 2015 às 12h24.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 07h56.

Se o aluno aprende a trabalhar no campo e desperta

sua vocação para desenvolver sua vida profissional na terra

onde nasceu e vive, criaremos um cenário ideal para que finque

raízes e impulsione a economia agrícola e pecuária do País

Nas minhas andanças Brasil afora como professora e Diretora do Instituto Crescer, onde coordeno projetos de formação de professores em diversas cidades do interior, sempre me impressionou o forte contraste entre a infraestrutura das escolas e na qualidade do ensino das áreas urbanas em comparação com as das áreas rurais.

Com falta de verba, salários para professores ainda menos atrativos, prédios em estado de demolição e carência de recursos essenciais, crianças e jovens são obrigados a enfrentar horas de transporte, caminhadas e travessias em embarcações inseguras para frequentar escolas que ficam a uma longa distância de casa, levando a desmotivação e evasão. Muitas das que são abertas na zona rural acabam fechadas sob a alegação de que não há alunos suficientes ou não há docentes dispostos a lecionar. Uma triste realidade.

Por que o Brasil, com clara vocação para o agronegócio, não investe na educação básica para manter o trabalhador no campo, dar a ele formação e conhecimento para inovar e fomentar novos empreendedores no interior do País? Qual a razão das Universidades agrícolas não receberem tantos alunos das cidades mais próximas e as cadeiras serem ocupadas, em sua maioria, por estudantes vindos dos grandes centros? O que podemos fazer para mudar esta realidade e colocar o Brasil em posição de destaque mundial no desenvolvimento de novos negócios e novas tecnologias para o campo?

O resultado do ENEM de 2014 fez um retrato das escolas rurais no Brasil: a grande maioria das dez piores colocadas no ranking são de municípios do interior de Estados do Norte e do Nordeste. São cidades como Borba, no Amazonas; Mazagão, no Amapá; Messias Targino, no Rio Grande do Norte; Ibipeba, na Bahia; Buriti Bravo, no Maranhão; Buriti do Tocantins e Maurilândia do Tocantins.

A discrepância na infraestrutura das escolas das cidades e do campo vai desde quesitos mais básicos, como água e esgoto, até a oferta de acesso à Internet. Atualmente, o país contabiliza 122.214 escolas em área urbana e 67.604 em área rural, que respondem por somente 12% do total de alunos matriculados.

De acordo com dados do Censo Escolar 2014, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e tabulados pela Fundação Lemann e pela Meritt, 70% das escolas das áreas urbanas têm esgoto encanado contra 5% das rurais, sendo que 80% delas utilizam fossas, 15% sequer têm estrutura para lidar com os resíduos e 14% não têm nem mesmo água. O acesso à rede mundial de computadores está disponível em 86% das escolas urbanas, mas nas rurais apenas 16% oferecem conexão.

A transformação desta realidade no ensino fundamental na zona rural passa por projetos que envolvem a iniciativa privada, o setor público e as Universidades, como já vem acontecendo com o programa Escolas Rurais Conectadas, da Fundação Telefônica Vivo, que distribui laptops e modems para as escolas rurais e realiza a formação de professores para inserir a tecnologia como ferramenta pedagógica, e o Pronacampo (Programa Nacional de Educação do Campo), do MEC, voltado à implementação de ações para melhoria das escolas, como a oferta de cursos profissionalizantes para o campo e de laboratórios de informática, além de cursos de aperfeiçoamento para professores realizados em parceria com universidades federais.

Seja qual for o caminho a ser seguido para melhorar a educação no campo é importante sempre partir da premissa de que o ensino deve atender as peculiaridades da vida rural, o que é garantido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Se a região onde mora tem uma economia basicamente agrícola, não faz sentido que o aprendizado seja sempre entre quatro paredes e dando ênfase ao estudo de temas distantes da realidade do aluno.

Centenas de escolas familiares agrícolas distribuídas pelo Brasil já adotam a metodologia da pedagogia da alternância, criada na França, permitindo ao estudante passar semanas alternadas na escola, em regime de internato, e em casa, onde coloca em prática seus conhecimentos adquiridos sobre técnicas agrícolas e trabalha na produção de alimentos. Se o aluno aprende a trabalhar no campo e desperta sua vocação para desenvolver sua vida profissional na terra onde nasceu e vive, criaremos um cenário ideal para que finque raízes e impulsione a economia agrícola e pecuária do País.

Quando reconhecemos o empreendedorismo como uma força motriz para o Brasil sair da crise e crescer é importante lembrar que o agronegócio já representa mais de 20% do PIB, que deve ser de R$ 1,2 trilhão este ano, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

Já há investidores apostando e defendendo que o “Agronegócio é o Vale do Silício Brasileiro” e temos visto o nascimento de startups de sucesso no mercado de agritech no País, a exemplo do que vem acontecendo em países como Israel, a emergente Índia e em diversos mercados na Europa.

São empresas de controle biológico de pragas, de softwares e de aplicativos para gestão e mapeamento em cloud de plantações e rebanhos, muitas delas nascidas nos laboratórios das Universidades agrícolas. A necessidade de inovar e modernizar para melhorar a produtividade é urgente para atender a crescente demanda pelo consumo de alimentos no mundo, que deve dobrar até 2050. E não podemos ficar de fora, considerando nossas dimensões e condições climáticas favoráveis.

Há ainda muitos hectares de oportunidades para semear em um país com tanta terra improdutiva como o Brasil. Enquanto países desérticos como Israel avançam na agricultura, ainda sofremos com a seca e com a fuga do homem para cidade, onde há cada vez menos oportunidades de emprego.

Não há como reverter este quadro se a educação rural não estiver pronta para dar bons frutos, bons profissionais e gerar empresários do campo bem sucedidos. Já passou da hora de adubarmos esta semente e colhermos uma safra de talentos que levarão o Brasil a retomar o crescimento e melhorar sua competitividade em um planeta cada vez mais carente de alimentos.

Hora de adubarmos esta semente e colhermos uma safra de talentos que levarão o Brasil a retomar o crescimento e melhorar sua competitividade em um planeta cada vez mais carente de alimentos.

Se o aluno aprende a trabalhar no campo e desperta

sua vocação para desenvolver sua vida profissional na terra

onde nasceu e vive, criaremos um cenário ideal para que finque

raízes e impulsione a economia agrícola e pecuária do País

Nas minhas andanças Brasil afora como professora e Diretora do Instituto Crescer, onde coordeno projetos de formação de professores em diversas cidades do interior, sempre me impressionou o forte contraste entre a infraestrutura das escolas e na qualidade do ensino das áreas urbanas em comparação com as das áreas rurais.

Com falta de verba, salários para professores ainda menos atrativos, prédios em estado de demolição e carência de recursos essenciais, crianças e jovens são obrigados a enfrentar horas de transporte, caminhadas e travessias em embarcações inseguras para frequentar escolas que ficam a uma longa distância de casa, levando a desmotivação e evasão. Muitas das que são abertas na zona rural acabam fechadas sob a alegação de que não há alunos suficientes ou não há docentes dispostos a lecionar. Uma triste realidade.

Por que o Brasil, com clara vocação para o agronegócio, não investe na educação básica para manter o trabalhador no campo, dar a ele formação e conhecimento para inovar e fomentar novos empreendedores no interior do País? Qual a razão das Universidades agrícolas não receberem tantos alunos das cidades mais próximas e as cadeiras serem ocupadas, em sua maioria, por estudantes vindos dos grandes centros? O que podemos fazer para mudar esta realidade e colocar o Brasil em posição de destaque mundial no desenvolvimento de novos negócios e novas tecnologias para o campo?

O resultado do ENEM de 2014 fez um retrato das escolas rurais no Brasil: a grande maioria das dez piores colocadas no ranking são de municípios do interior de Estados do Norte e do Nordeste. São cidades como Borba, no Amazonas; Mazagão, no Amapá; Messias Targino, no Rio Grande do Norte; Ibipeba, na Bahia; Buriti Bravo, no Maranhão; Buriti do Tocantins e Maurilândia do Tocantins.

A discrepância na infraestrutura das escolas das cidades e do campo vai desde quesitos mais básicos, como água e esgoto, até a oferta de acesso à Internet. Atualmente, o país contabiliza 122.214 escolas em área urbana e 67.604 em área rural, que respondem por somente 12% do total de alunos matriculados.

De acordo com dados do Censo Escolar 2014, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e tabulados pela Fundação Lemann e pela Meritt, 70% das escolas das áreas urbanas têm esgoto encanado contra 5% das rurais, sendo que 80% delas utilizam fossas, 15% sequer têm estrutura para lidar com os resíduos e 14% não têm nem mesmo água. O acesso à rede mundial de computadores está disponível em 86% das escolas urbanas, mas nas rurais apenas 16% oferecem conexão.

A transformação desta realidade no ensino fundamental na zona rural passa por projetos que envolvem a iniciativa privada, o setor público e as Universidades, como já vem acontecendo com o programa Escolas Rurais Conectadas, da Fundação Telefônica Vivo, que distribui laptops e modems para as escolas rurais e realiza a formação de professores para inserir a tecnologia como ferramenta pedagógica, e o Pronacampo (Programa Nacional de Educação do Campo), do MEC, voltado à implementação de ações para melhoria das escolas, como a oferta de cursos profissionalizantes para o campo e de laboratórios de informática, além de cursos de aperfeiçoamento para professores realizados em parceria com universidades federais.

Seja qual for o caminho a ser seguido para melhorar a educação no campo é importante sempre partir da premissa de que o ensino deve atender as peculiaridades da vida rural, o que é garantido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Se a região onde mora tem uma economia basicamente agrícola, não faz sentido que o aprendizado seja sempre entre quatro paredes e dando ênfase ao estudo de temas distantes da realidade do aluno.

Centenas de escolas familiares agrícolas distribuídas pelo Brasil já adotam a metodologia da pedagogia da alternância, criada na França, permitindo ao estudante passar semanas alternadas na escola, em regime de internato, e em casa, onde coloca em prática seus conhecimentos adquiridos sobre técnicas agrícolas e trabalha na produção de alimentos. Se o aluno aprende a trabalhar no campo e desperta sua vocação para desenvolver sua vida profissional na terra onde nasceu e vive, criaremos um cenário ideal para que finque raízes e impulsione a economia agrícola e pecuária do País.

Quando reconhecemos o empreendedorismo como uma força motriz para o Brasil sair da crise e crescer é importante lembrar que o agronegócio já representa mais de 20% do PIB, que deve ser de R$ 1,2 trilhão este ano, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

Já há investidores apostando e defendendo que o “Agronegócio é o Vale do Silício Brasileiro” e temos visto o nascimento de startups de sucesso no mercado de agritech no País, a exemplo do que vem acontecendo em países como Israel, a emergente Índia e em diversos mercados na Europa.

São empresas de controle biológico de pragas, de softwares e de aplicativos para gestão e mapeamento em cloud de plantações e rebanhos, muitas delas nascidas nos laboratórios das Universidades agrícolas. A necessidade de inovar e modernizar para melhorar a produtividade é urgente para atender a crescente demanda pelo consumo de alimentos no mundo, que deve dobrar até 2050. E não podemos ficar de fora, considerando nossas dimensões e condições climáticas favoráveis.

Há ainda muitos hectares de oportunidades para semear em um país com tanta terra improdutiva como o Brasil. Enquanto países desérticos como Israel avançam na agricultura, ainda sofremos com a seca e com a fuga do homem para cidade, onde há cada vez menos oportunidades de emprego.

Não há como reverter este quadro se a educação rural não estiver pronta para dar bons frutos, bons profissionais e gerar empresários do campo bem sucedidos. Já passou da hora de adubarmos esta semente e colhermos uma safra de talentos que levarão o Brasil a retomar o crescimento e melhorar sua competitividade em um planeta cada vez mais carente de alimentos.

Hora de adubarmos esta semente e colhermos uma safra de talentos que levarão o Brasil a retomar o crescimento e melhorar sua competitividade em um planeta cada vez mais carente de alimentos.

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