“Não há razão para pessimismo”, diz Paulo Guedes. “Fatos provam que o Brasil vai crescer neste ano.”
“O Brasil é a grande fronteira para receber novos investimentos, pois já temos R$ 860 bilhões contratados", diz o ministro
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2022 às 09h42.
Última atualização em 7 de junho de 2022 às 09h43.
Por Coriolano Gatto
Em uma tarde quente de verão, às vésperas do carnaval de 2017, o economista Paulo Guedes, então sócio da Bozano Investimentos, falava com euforia da nascente candidatura do apresentador Luciano Huck – Fernando Henrique Cardoso era um entusiasta da ideia. As fortes chuvas naquela tarde fecharam por horas o aeroporto de Congonhas (SP) e Guedes tinha muito tempo para expor com o raciocínio lógico a mesma oralidade dominante nos livros de Guimarães Rosa: “O Trump (Donald) inaugurou a uberização na política, quebrando o modelo clássico partidário. O Huck, com dezenas de milhões de seguidores nas redes sociais, será o candidato que romperá com a política tradicional”, dizia, com entusiasmo, o economista, ao colunista. À conversa animada se juntou, por uma grande coincidência, o fundador do antigo Pactual, Luiz Cézar Fernandes, que o chamou carinhosamente de Paulinho.
Com o naufrágio da candidatura do apresentador da TV Globo, em fins de 2017, Guedes, por uma razão do destino, embarcou na Kombi de Jair Bolsonaro, um outro outsider. O novo ministro da Economia bateu um recorde no cargo, não tanto pelo tempo, como os seus colegas Pedro Sampaio Malan (FHC1 e FHC2) e Guido Mantega (Lula 2 e Dilma 1), mas no número de vezes em que foi demitido pela imprensa. Em um cálculo conservador, Guedes foi dispensado mais de 60 vezes, a primeira delas no segundo mês do governo Bolsonaro, em fevereiro de 2019.
Quando era banqueiro de investimentos, no antigo Pactual, o economista comprava briga com autoridades e órgãos reguladores por meio de suas opiniões coerentes, a ponto de seu sócio dizer com toda a sobriedade: “Calma, Paulinho”. O estilo mineiro de falar – embora seja um carioca de carteirinha −, adquirido pelos estudos nos ensinos médio e superior em Minas Gerais, era pontuado por frases bem fundamentadas do pensamento liberal.
Agora, aos 72 anos, é um ministro matreiro, que prefere não atacar os seus críticos como nos tempos de sua juventude e, à exceção da ligeira convalescença provocada pela Covid-19, põe todo o foco em rodar a economia e criar legislações e marcos regulatórios que possam funcionar como acepipes para os investidores estrangeiros e nacionais. O ministro não nega a continuidade no cargo em um eventual Bolsonaro 2, mas despista. “Isso é outro papo”. E é mesmo, pois o candidato Bolsonaro está ainda muito distante de Lula. Como disse um banqueiro que faz pesquisas de forma rotineira para tomar grandes posições no mercado financeiro, a eleição pode ser decidida às vésperas do pleito de outubro, a não ser, claro, na hipótese improvável de ser encerrada no primeiro turno.
A economista Janet Yellen, secretária do Tesouro dos Estados Unidos e um dos nomes mais reputados na economia internacional, tem a admiração de Guedes. Ela mencionou a fragmentação das cadeias produtivas em razão da Covid-19. Pelo raciocínio de Yellen, os investimentos precisam atender a dois requisitos globais: 1) Logística. Isso significa que é ineficaz aos Estados Unidos fabricarem semicondutores em Tawain porque está muito distante. Para receber investimento, é preciso estar perto da costa, guia shore, e não offshore. A proximidade é um fator-chave para a produção; 2) No caso da Europa, essa proximidade foi derrubada com a Guerra na Ucrânia, pois é necessário ser amigo, o que passa a ser uma exigência da nova geopolítica.
“E quem está perto dos dois continentes? O Brasil. Pode tanto abastecer os americanos e encher de energia eólica os europeus com a exportação de hidrogênio verde”, afirma o ministro Paulo Guedes, em entrevista ao colunista pelo telefone.
Outros trechos da conversa com Guedes:
“Dessa vez, abre-se uma oportunidade para uma reindustrialização brasileira em cima de novos eixos: energia renovável e segurança alimentar do mundo. Há oportunidades de a Europa acelerar acordos com o Mercosul para garantir a segurança alimentar deles.”
“O Brasil é a grande fronteira para receber novos investimentos, pois já temos R$ 860 bilhões contratados (no âmbito do Programa de Parcerias de Investimentos). Dinamarqueses, espanhóis e alemães planejam fazer, em energia renovável, cerca de 10 Itaipus, algo como 150 GW no Nordeste, no offshore.”
“Em que pese a tragédia da guerra na Ucrânia, houve uma mudança na geopolítica e na logística, o que beneficia o Brasil.”
“O Banco Itaú previa uma recessão de 1,5% e agora já fala em crescimento de 1,4% neste ano. Não tenho dúvida: vamos crescer mais rápido durante um ciclo longo.”
“Os fatos têm descredenciado estimativas pessimistas a respeito do Brasil. E falo isso com toda a humildade, pois o tempo me ensinou a respeitar a opinião dos outros, ainda que tenha algumas discordâncias. Gosto sempre de frisar que a grandeza do Brasil está na democracia barulhenta. E insisto no mais Brasil e menos Brasília.”
“A economia não é uma ciência exata. Prefiro não fazer a previsão de crescimento, se é 1,5% ou 2%. Deixo a palavra com o Assessor Especial de Estudos Estratégicos Rodrigo Boueri.”
Coriolano Gatto é jornalista e colunista da EXAME
Por Coriolano Gatto
Em uma tarde quente de verão, às vésperas do carnaval de 2017, o economista Paulo Guedes, então sócio da Bozano Investimentos, falava com euforia da nascente candidatura do apresentador Luciano Huck – Fernando Henrique Cardoso era um entusiasta da ideia. As fortes chuvas naquela tarde fecharam por horas o aeroporto de Congonhas (SP) e Guedes tinha muito tempo para expor com o raciocínio lógico a mesma oralidade dominante nos livros de Guimarães Rosa: “O Trump (Donald) inaugurou a uberização na política, quebrando o modelo clássico partidário. O Huck, com dezenas de milhões de seguidores nas redes sociais, será o candidato que romperá com a política tradicional”, dizia, com entusiasmo, o economista, ao colunista. À conversa animada se juntou, por uma grande coincidência, o fundador do antigo Pactual, Luiz Cézar Fernandes, que o chamou carinhosamente de Paulinho.
Com o naufrágio da candidatura do apresentador da TV Globo, em fins de 2017, Guedes, por uma razão do destino, embarcou na Kombi de Jair Bolsonaro, um outro outsider. O novo ministro da Economia bateu um recorde no cargo, não tanto pelo tempo, como os seus colegas Pedro Sampaio Malan (FHC1 e FHC2) e Guido Mantega (Lula 2 e Dilma 1), mas no número de vezes em que foi demitido pela imprensa. Em um cálculo conservador, Guedes foi dispensado mais de 60 vezes, a primeira delas no segundo mês do governo Bolsonaro, em fevereiro de 2019.
Quando era banqueiro de investimentos, no antigo Pactual, o economista comprava briga com autoridades e órgãos reguladores por meio de suas opiniões coerentes, a ponto de seu sócio dizer com toda a sobriedade: “Calma, Paulinho”. O estilo mineiro de falar – embora seja um carioca de carteirinha −, adquirido pelos estudos nos ensinos médio e superior em Minas Gerais, era pontuado por frases bem fundamentadas do pensamento liberal.
Agora, aos 72 anos, é um ministro matreiro, que prefere não atacar os seus críticos como nos tempos de sua juventude e, à exceção da ligeira convalescença provocada pela Covid-19, põe todo o foco em rodar a economia e criar legislações e marcos regulatórios que possam funcionar como acepipes para os investidores estrangeiros e nacionais. O ministro não nega a continuidade no cargo em um eventual Bolsonaro 2, mas despista. “Isso é outro papo”. E é mesmo, pois o candidato Bolsonaro está ainda muito distante de Lula. Como disse um banqueiro que faz pesquisas de forma rotineira para tomar grandes posições no mercado financeiro, a eleição pode ser decidida às vésperas do pleito de outubro, a não ser, claro, na hipótese improvável de ser encerrada no primeiro turno.
A economista Janet Yellen, secretária do Tesouro dos Estados Unidos e um dos nomes mais reputados na economia internacional, tem a admiração de Guedes. Ela mencionou a fragmentação das cadeias produtivas em razão da Covid-19. Pelo raciocínio de Yellen, os investimentos precisam atender a dois requisitos globais: 1) Logística. Isso significa que é ineficaz aos Estados Unidos fabricarem semicondutores em Tawain porque está muito distante. Para receber investimento, é preciso estar perto da costa, guia shore, e não offshore. A proximidade é um fator-chave para a produção; 2) No caso da Europa, essa proximidade foi derrubada com a Guerra na Ucrânia, pois é necessário ser amigo, o que passa a ser uma exigência da nova geopolítica.
“E quem está perto dos dois continentes? O Brasil. Pode tanto abastecer os americanos e encher de energia eólica os europeus com a exportação de hidrogênio verde”, afirma o ministro Paulo Guedes, em entrevista ao colunista pelo telefone.
Outros trechos da conversa com Guedes:
“Dessa vez, abre-se uma oportunidade para uma reindustrialização brasileira em cima de novos eixos: energia renovável e segurança alimentar do mundo. Há oportunidades de a Europa acelerar acordos com o Mercosul para garantir a segurança alimentar deles.”
“O Brasil é a grande fronteira para receber novos investimentos, pois já temos R$ 860 bilhões contratados (no âmbito do Programa de Parcerias de Investimentos). Dinamarqueses, espanhóis e alemães planejam fazer, em energia renovável, cerca de 10 Itaipus, algo como 150 GW no Nordeste, no offshore.”
“Em que pese a tragédia da guerra na Ucrânia, houve uma mudança na geopolítica e na logística, o que beneficia o Brasil.”
“O Banco Itaú previa uma recessão de 1,5% e agora já fala em crescimento de 1,4% neste ano. Não tenho dúvida: vamos crescer mais rápido durante um ciclo longo.”
“Os fatos têm descredenciado estimativas pessimistas a respeito do Brasil. E falo isso com toda a humildade, pois o tempo me ensinou a respeitar a opinião dos outros, ainda que tenha algumas discordâncias. Gosto sempre de frisar que a grandeza do Brasil está na democracia barulhenta. E insisto no mais Brasil e menos Brasília.”
“A economia não é uma ciência exata. Prefiro não fazer a previsão de crescimento, se é 1,5% ou 2%. Deixo a palavra com o Assessor Especial de Estudos Estratégicos Rodrigo Boueri.”
Coriolano Gatto é jornalista e colunista da EXAME