Ciência

Nova variante do coronavírus é detectada na Nigéria; cientistas sugerem cautela

Nova linhagem é distinta das que foram recentemente descobertas na África do Sul e no Reino Unido

Covid-19: nova linhagem do coronavírus foi descoberta na Nigéria (AFP/AFP)

Covid-19: nova linhagem do coronavírus foi descoberta na Nigéria (AFP/AFP)

A

AFP

Publicado em 27 de dezembro de 2020 às 15h38.

Última atualização em 27 de dezembro de 2020 às 15h41.

Uma nova variante de coronavírus, distinta da detectada recentemente na África do Sul e no Reino Unido, mas que "compartilha algumas mutações com esta última, foi descoberta na Nigéria, país de maior população da África, com 200 milhões de habitantes.

Depois do anúncio, discreto, durante a semana pelo Centro Africano de Excelência para a Genômica das Doenças Infecciosas (Acegid), com sede em Ede, sudoeste da Nigéria, o Centro Africano de Controle de Doenças (CDC) - agência de saúde da União Africana - organizou uma reunião de emergência.

Mas o professor Christian Happi, biólogo molecular que participou no sequenciamento genético da nova variante, pediu para não "extrapolar" a descoberta, em uma entrevista à AFP.

O Acegid analisou no início do mês 200 mostras do vírus e duas delas, obtidas de pacientes em 3 de agosto e 9 de outubro, apresentam mutações genéticas.

 

 

"Não temos ideia nem certeza se esta variante tem relação direta com o aumento de casos na Nigéria atualmente", disse o professor.

O país tinha mais de 82.000 casos registrados no sábado e 1.246 mortes, números relativamente baixos, mas o número de testes realizados no país é insignificante.

Apesar do cenário, o número de contágios registra aceleração.

Graças ao sequenciamento genético do vírus, uma operação de rastreamento sofisticada que apenas 12 laboratórios conseguem executar no continente africano, o professor Happi e sua equipe mostraram a evolução da mutação.

"Não sabemos de onde vem a nova variante. Acreditamos que é independente, que se produz na Nigéria. Não acredito que é importada", disse o biólogo.

 

 

O ex-professor de Harvard, especializado em doenças infecciosas, recordou, no entanto, que "os vírus sofrem mutações e mudam" de forma natural.

"O importante não é a mutação, e sim a transformação da proteína 'spike', a parte do vírus que permite o acesso às células do corpo e que tornaria esta mutação infecciosa", explicou.

O Acegid trabalha com o Centro de Doenças Infecciosas da Nigéria (NCDC), organismo de saúde pública nacional, para tentar explicar o aumento recente de casos de covid-19 e se este pode ser motivado pela nova cepa.

Mas uma coisa parece correta: a taxa de mortalidade relativamente baixa na Nigéria, em comparação com os países ocidentais, não aumentou recentemente.

"Peço que as pessoas não extrapolem. Existe uma tendência a extrapolar com as novas variantes do vírus", disse o professor. "Nada prova, por exemplo, que a cepa encontrada na Inglaterra teria os mesmos efeitos na Nigéria e vice-versa.

"Se há algo que a covid-19 nos ensinou é que em tudo que acreditávamos saber sobre este vírus, estávamos equivocados", recordou Happi.

"Alguns previram que um terço da população da África morreria, mas não podemos aplicar as pesquisas e os números reunidos na Europa e nos Estados Unidos e aplicá-los aqui: somos geneticamente diferentes, nossa saúde imunológica é diferente”, insistiu.

Até o momento, a África registra 2,4 milhões de casos de covid-19, ou seja, 3,6% do total mundial, segundo o balanço da AFP. O continente confirmou pouco mais de 57.000 mortes, número menor que a França (59.072).

O número reduzido de testes de diagnóstico pode colocar em dúvida as estatísticas, mas também é certo que nenhum país observou um aumento excessivo da mortalidade, o que seria indício de propagação do vírus.

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusPandemiaReino UnidoSaúde

Mais de Ciência

Mergulhadores descobrem maior animal marinho do mundo — e não é a baleia azul

20 frases de Albert Einstein para a sua vida

Cientistas encontram cristais de água que indicam possibilidade de vida em Marte

Cientistas criam "espaguete" 200 vezes mais fino que um fio de cabelo humano