Mundo segue rumo "catastrófico" de aumento médio da temperatura de +2,7 ºC
O alerta vem do secretário-geral da ONU, António Guterres
André Lopes
Publicado em 17 de setembro de 2021 às 14h25.
Última atualização em 17 de setembro de 2021 às 14h45.
O mundo segue um curso "catastrófico" que provocará um aumento na temperatura média de 2,7 ºC até o final do século — alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, nesta sexta-feira, 17.
A comunidade internacional se comprometeu a combater as emissões de gases de efeito estufa , mas essas promessas "vão na direção errada", afirma um relatório da ONU.
Consequentemente, "o mundo segue um caminho catastrófico", advertiu Guterres. "Embora haja uma clara tendência para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) ao longo do tempo, os países devem redobrar seus esforços com urgência", solicita o relatório do órgão da ONU sobre mudança climática.
O documento é uma avaliação dos compromissos dos 191 países que assinaram o Acordo de Paris sobre o Clima, em 2015.
Do total de países, apenas 113, que representam 49% das emissões de GEE, atualizaram seus compromissos nacionais, até 30 de julho, conforme estipulado nos prazos acordados.
O relatório prevê que as emissões desse grupo, que inclui Estados Unidos e União Europeia (UE), "diminuirão 12% até 2030, em comparação com 2010".
"Uma luz de esperança", nas palavras da diretora do programa da ONU, Patricia Espinosa.
Ela ressalta, porém, que as contribuições de todos os 191 países em seu conjunto "implicam um aumento considerável das emissões globais de GEE em 2030, em comparação a 2010, de em torno de 16%".
China e Rússia não atualizaram seus compromissos de redução de emissões, critica uma ONG que analisou o relatório da ONU, Climate Action Tracker.
Segundo o grupo de especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) citado pela ONU, "a menos que sejam tomadas medidas imediatas, [ esse aumento nas emissões ] pode provocar um aumento da temperatura em torno de 2,7 ºC até o final do século".
"Isso significa quebrar a promessa feita há seis anos, de buscar a meta de +1,5 °C", lembrou Guterres.
"O fracasso em cumprir essa meta resultará na perda em massa de vidas", alertou.
A pandemia da covid-19 desorganizou a agenda e os compromissos de todos os países. E criou confusão sobre as conclusões dos próprios especialistas.
Após a primeira onda de restrições, que afetou bilhões de pessoas, eles asseguravam que as emissões de GEE haviam diminuído.
As promessas dos países ricos
"Precisamos que todas as nações contribuam", pediu a secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), Patricia Espinosa, em entrevista coletiva.
E os países em desenvolvimento precisam de ajuda, e urgente, insistiu Espinosa.
Em 2009, os países ricos se comprometeram que, até 2020, repassariam anualmente 100 bilhões de dólares para os países em desenvolvimento para se adaptarem ao impacto da mudança climática e reduzirem suas emissões de gases de efeito estufa.
Essa promessa não cumprida tem sido motivo de críticas recorrentes dos países pobres, as primeiras vítimas dos impactos do aquecimento do planeta, e ameaça ser um tema polêmico na próxima Conferência do Clima da ONU (COP26), em Glasgow, em novembro.
A ajuda pública e privada dos países da OCDE (38 no total) foi de 79,6 bilhões de dólares, em 2019, o último ano com dados disponíveis, em comparação com 78,3 bilhões de dólares no ano anterior.
Faltam, portanto, mais de 20 bilhões de dólares para cumprir os compromissos de Copenhague. E a taxa de crescimento da ajuda, em termos anuais, continua diminuindo, reconhece a OCDE.
Os números para a suposta data-limite (2020) devem estar disponíveis somente em 2022. O impacto da pandemia de covid-19 deve ser significativo.
Por região, a Ásia ficou com 43% do financiamento, seguida da África, com 26%. América Latina e Caribe ficaram em terceiro lugar, com 17%.
"Chegou a hora de cumprir as promessas, e a COP26 é o lugar para conseguir isso", convocou Patricia Espinosa.
"Podemos mudar o curso da história para melhor", perguntou o novo presidente da COP26, Alok Sharma.