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Entenda o argumento da Anvisa para barrar a importação da Sputnik V

A decisão da agência partiu de uma análise feita somente com os documentos cedidos pelos russos, no qual, segundo a Anvisa, as medições de adenovírus replicantes (RCA) estão além dos níveis de segurança estipulados pela FDA

A Anvisa diz que recebeu um documento russo mencionando limites máximos de RCA; os russos, dizem que não existe RCA nenhum. (Dado Ruvic/Reuters)
AL

André Lopes

Publicado em 29 de abril de 2021 às 17h13.

Última atualização em 24 de maio de 2021 às 09h17.

“Esse adenovírus replicante foi detectado em todos os lotes apresentados da vacina Sputnik V para a Anvisa. Todos os laudos de controle de qualidade que foram apresentados na documentação que nós tivemos acesso, mostravam a presença desse vírus replicante”, sentenciou Gustavo Mendes Lima Santos, gerente-geral de medicamentos e produtos biológicos da Anvisa, ao declarar o veto temporário à vacina russa no início da semana. Mas afinal, o que é adenovírus replicante? A Anvisa está correta na decisão?

O adenovírus é o vírus causador do resfriado em humanos e é usado como vetor viral em pelo menos quatro vacinas contra o coronavírus utilizadas no mundo, Oxford/Astrazeneca, Janssen, Sputnik e CanSino. Trata-se de um vírus inofensivo, inativado e que perde sua capacidade de se multiplicar no organismo humano. No caso da Sputnik V, é a única desenvolvida com dois adenovírus, nomeados de D-26 e D-5, aplicados um em cada dose, o que pode ser considerado duas vacinas em uma.

E quando a Anvisa destaca a preocupação sobre a presença de adenovírus capaz de reprodução (RCA) no imunizante russo, é por que, segundo os documentos cedidos pelo próprio Instituto Gamaleya, o fabricante da vacina, a dose de RCA está consideravelmente acima dos limites de partículas que a guia da agência americana FDA estipula como seguro. Foi o que a Anvisa reafirmou nesta quinta-feira, 29, com a declaração de que estava preocupada com o limite regulatório teórico para esse parâmetro.

Contudo, a Anvisa não realizou nenhum teste de RCAs. E por esse motivo, os russos contestam a agência. Segundo eles, a Sputnik V recebe um tratamento de purificação quádruplo. Método este que eliminaria qualquer adenovírus, ainda que encareça a produção da vacina.

Em nota, o Fundo Russo de Investimentos Diretos (RDIF, na sigla em inglês), afirma que foi enviada à Anvisa, em 26 de março, uma carta onde confirma que os controles de qualidade garantem que nenhum RCA esteja presente no Sputnik V. Portanto, segundo o Instituto Gamaleya, o RCA não foi detectado na Sputnik V por nenhum dos testes realizados por eles, e que atendem aos padrões mais rígidos do mundo, incluindo FDA e outros.

Como a Anvisa e o Instituto Gamaleya não divulgaram qualquer documento do imunizante que possa ser aferido por terceiros, é possível que exista uma imprecisão nas informações cedidas por ambos. Cabendo a resolução do caso apenas quando for possível revisar os dois argumentos.

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