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Com os resultados de Oxford, Brasil fica mais perto da vacina da covid-19

Segundo resultados preliminares, a vacina desenvolvida em parceria com a AstraZeneca apresentou uma eficácia de até 90% em determinados casos

Vacina de Oxford deve começar a chegar ao país em janeiro (gett/Getty Images)

Tamires Vitorio

Publicado em 23 de novembro de 2020 às 09h33.

Última atualização em 23 de novembro de 2020 às 09h37.

Esta segunda-feira, 23, começou com uma notícia animadora para o mundo na luta contra o novo coronavírus . Segundo resultados preliminares da universidade britânica Oxford e da farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca, a vacina desenvolvida em parceria entre elas apresentou uma eficácia de até 90% em determinados casos, seguindo o rastro de outras imunizações que também têm apresentado bons resultados.

De acordo com as fabricantes, a vacina atingiu o nível mais alto de prevenção da covid-19 quando administrada em primeira instância somente em meia dose, seguida de uma dose completa com intervalo de pelo menos um mês. Já outro regime com duas doses completas administradas também com um mês de intervalo mostrou uma eficácia de 62%. A análise conjunta dos dois métodos resultou em uma eficácia média de 70%. O motivo por trás dessas diferenças ainda não foi explicado e é preciso esperar que o estudo seja publicado em uma revista científica para entender melhor o que aconteceu.

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A vacina britânica está sendo testada em diversos países, entre eles o Brasil e o Reino Unido, com 10 mil pessoas sendo testadas em cada país. Vista como uma das mais promissoras pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ela é feita com base em adenovírus de chimpanzés (grupo de vírus que causam problemas respiratórios), e contém espículas do SARS-CoV-2 --- um método mais conservador que o da vacina da Pfizer, por exemplo, que tem como base o RNA mensageiro do vírus.

Também existe um acordo entre o governo brasileiro e a AstraZeneca para a reserva de pelo menos 100,4 milhões de doses da vacina uma vez que ela for aprovada pelos órgãos regulatórios necessários.

Por esses motivos, o resultado divulgado nesta manhã é especialmente otimista para o Brasil, um dos países mais afetados pela covid-19, com 169.183 mortes e mais de 6 milhões de infectados, segundo a universidade americana Johns Hopkins.

Para Leonardo Weissmann, médico infectologista do Instituto Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), apesar de os resultados ainda não terem sido publicados em uma revista científica, eles permanecem "promissores". "Precisamos considerar que o Brasil tem esse acordo com a AstraZeneca para a distribuição, além de ela fazer parte do consórcio da OMS", afirma. "É uma boa notícia, mas precisamos de dados mais concretos a respeito. A população pode ficar esperançosa, mas, até que chegue a vacina de fato, é preciso se conscientizar e seguir usando máscaras e evitando aglomerações."

De acordo com as fabricantes, a vacina atingiu o nível mais alto de prevenção da covid-19 quando administrada em primeira instância somente em meia dose, seguida de uma dose completa com intervalo de pelo menos um mês. O motivo por trás disso ainda não foi explicado e é preciso esperar que o estudo seja publicado em uma revista científica.

Outro ponto positivo para a vacina de Oxford é o fato de ela ser bem mais barata do que as outras, tanto para produção quanto para distribuição. Como citado acima, a vacina da americana Pfizer com a alemã BioNTech, por usar uma tecnologia nunca antes usada na fabricação de vacinas, precisa ser mantida em temperaturas de até -70ºC, o que pode dificultar o transporte para outros países, enquanto vacinas de DNA (como a da AstraZeneca) podem ser guardadas em temperatura ambiente.

Na semana passada, um estudo de fase 1 e 2 sobre a vacina publicadona prestigiada revista científica The Lancet apontou que ela erasegura e conseguiu induzir uma resposta imune robusta entre todos os adultos envolvidos no teste. Todos os 560 adultos saudáveis que participaram dos testes iniciais (sendo que 240 tinham mais de 70 anos) tiveram uma produção de resposta imunológica similar apesar da faixa etária, segundo a Oxford e a AstraZeneca.

Quem terá prioridade para tomar a vacina?

Nenhuma vacina contra a covid-19 foi aprovada ainda, mas os países estão correndo para entender melhor qual será a ordem de prioridade para a população uma vez que a proteção chegar ao mercado. Um grupo de especialistas nos Estados Unidos , por exemplo, divulgou em setembro uma lista de recomendações que podem dar uma luz a como deve acontecer a campanha de vacinação.

Segundo o relatório dos especialistas americanos (ainda em rascunho), na primeira fase deverão ser vacinados profissionais de alto risco na área da saúde, socorristas, depois pessoas de todas as idades com problemas prévios de saúde e condições que as coloquem em alto risco e idosos que morem em locais lotados.

Na segunda fase, a vacinação deve ocorrer em trabalhadores essenciais com alto risco de exposição à doença, professores e demais profissionais da área de educação, pessoas com doenças prévias de risco médio, adultos mais velhos não inclusos na primeira fase, pessoas em situação de rua que passam as noites em abrigos, indivíduos em prisões e profissionais que atuam nas áreas.

A terceira fase deve ter como foco jovens, crianças e trabalhadores essenciais que não foram incluídos nas duas primeiras. É somente na quarta e última fase que toda a população será vacinada.

Em entrevista ao MIT Technology Review, o epidemiologista Marc Lipsitch, de Harvard, afirmou que faz mais sentido vacinar os mais velhos primeiro, a fim de evitar mais mortes, e depois seguir em frente para outros grupos mais saudáveis ou para a população geral.

Um estudo realizado em setembro deste ano, por exemplo, fez um modelo de como a covid-19 poderia se espalhar em seis países --- Estados Unidos, Índia, Espanha, Zimbábue, Brasil e Bélgica --- concluiu que, se o objetivo é reduzir as taxas de mortalidade, adultos com mais de 60 anos devem ser priorizados na hora da vacinação.

Quão eficaz uma vacina precisa ser?

Segundo uma pesquisa publicada no jornal científico American Journal of Preventive Medicine uma vacina precisa ter 80% de eficácia para colocar um ponto final à pandemia. Para evitar que outras aconteçam, a prevenção precisa ser 70% eficaz.

Uma vacina com uma taxa de eficácia menor, de 60% a 80% pode, inclusive, reduzir a necessidade por outras medidas para evitar a transmissão do vírus, como o distanciamento social. Mas não é tão simples assim.

Isso porque a eficácia de uma vacina é diretamente proporcional à quantidade de pessoas que a tomam, ou seja, se 75% da população for vacinada, a proteção precisa ser 70% capaz de prevenir uma infecção para evitar futuras pandemias e 80% eficaz para acabar com o surto de uma doença.

As perspectivas mudam se apenas 60% das pessoas receberem a vacinação, e a eficácia precisa ser de 100% para conseguir acabar com uma pandemia que já estiver acontecendo — como a da covid-19.

Isso indica que a vida pode não voltar ao “normal” assim que, finalmente, uma vacina passar por todas as fases de testes clínicos e for aprovada e pode demorar até que 75% da população mundial esteja vacinada.

Os países que já pediram suas doses

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