Ciência

Out/2020: Algumas vacinas contra a covid-19 podem aumentar o risco de HIV?

Cientistas se basearam em análises feitas em 2007. Por ora, nenhum teste realizado com as vacinas da covid mostrou resultado semelhante

Vacina: há preocupação com o risco de que algumas vacinas possam aumentar o risco de HIV nos pacientes (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

Vacina: há preocupação com o risco de que algumas vacinas possam aumentar o risco de HIV nos pacientes (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

RL

Rodrigo Loureiro

Publicado em 20 de outubro de 2020 às 18h13.

Última atualização em 25 de outubro de 2021 às 07h13.

Um estudo publicado no jornal científico The Lancet está causando preocupação na comunidade médica que tenta desenvolver uma vacina contra a covid-19. Isso porque de acordo com pesquisadores, algumas vacinas que usam um adenovírus específico no combate ao vírus SARS-CoV-2 podem aumentar o risco de que pacientes sejam infectados com HIV, o vírus da Aids -- para isso, a pessoa precisa ser exposta ao vírus.

Até agora, não se comprovou que alguma vacina contra a covid-19 reduza a imunidade a ponto de facilitar a infecção em caso de exposição ao vírus.

O estudo foi publicado na segunda-feira (19/10/2020) e é de autoria do pesquisador Lawrence Corey, especialista do Centro de Pesquisas do Câncer Fred Hutchinson, nos Estados Unidos. A pesquisa aponta que a infecção por HIV pode ser facilitada caso o paciente vacinado tenha recebido uma dose contendo o adenovírus de número 5 (Ad5).

“A possibilidade de testar vacinas baseadas em Ad5 em estados o HIV ainda é uma praga deve ser avaliada cuidadosamente”, relatou o pesquisador no estudo. Vale lembrar que a covid-19 usa uma estratégia similar a da Aids para propagar a infecção.

Os cientistas se baseiam em análises feitas ainda em 2007 para a tentativa de criação de uma vacina contra a própria HIV e que também foi baseada no adenovírus 5. Na ocasião, a pesquisa foi interrompida porque os resultados iniciais mostravam que a própria vacina ironicamente parecia aumentar o risco dos voluntários contraírem a doença.

O Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inexaglês) já se posicionou contra o uso do Ad5 para a produção de vacinas contra a Aids justamente pelos resultados apresentados nesta pesquisa feita ainda na década passada. Estudos recentes apontam que a covid-19 pode até aumentar o número de mortes por HIV.

Por ora, nenhum teste realizado com as vacinas que estão sendo desenvolvidas contra o novo coronavírus mostraram resultados semelhantes. Mesmo assim, os pesquisadores resolveram alertar sobre o risco presente neste vetor, principalmente em regiões onde a HIV ainda está longe de ser controlada, como na África.

As principais vacinas em desenvolvimento atualmente utilizam o Ad5 em sua composição. A principal talvez seja a vacina russa Sputnik V – que deve ter produção iniciada no Brasil já em dezembro. Há também uma vacina chinesa que utiliza o Ad5, a CanSino. É importante não confundir com a CoronaVac, desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan. Conheça os detalhes desta vacina.

Outras vacinas, como as que estão sendo produzidas pela Johnson & Johnson e pela AstraZeneca junto com a Universidade de Oxford fazem o uso de outro tipo de adenovírus. Neste caso, como lembra o ScienceMag, não há nenhuma evidência sobre o aumento no risco de que os pacientes contraiam HIV.

Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que pelo menos 1 milhão de pessoas morrem de Aids todos os anos. Já em relação a covid-19, os números mais recentes apontam que 1,1 milhão de pessoas já morreram pela doença que infectou 40 milhões de pessoas em todo o planeta.

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