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Sem o reskilling, bonde das disrupções vai passar, afirma educador

Professor Adriano Mussa, da Saint Paul Escola de Negócios, conta à EXAME como a requalificação se tornou mais imperativa no mundo pós-pandemia

 (Getty iImages/Getty Images)

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Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 16 de março de 2021 às 16h04.

Última atualização em 17 de março de 2021 às 12h02.

O professor Adriano Mussa, co-fundador do LIT, braço digital da Saint Paul Escola de Negócios, demorou dez vezes mais tempo do que imaginava para aprender sobre Inteligência Artificial.

Ele mesmo experimentou os caminhos e os percalços da requalificação. Ou melhor, para usar o termo da vez: do reskiling. Mussa trabalhou com finanças durante toda a vida, mas se especializou em Inteligência Artificial e hoje comanda uma iniciativa de educação.

Pelo menos desde 2016, quando o tema entrou em seus relatórios anuais, o Fórum Econômico Mundial tem destacado a necessidade da requalificação profissional como o diferencial para o desenvolvimento de empresas, profissionais e para a economia.

Os últimos dados da instituição mostram, inclusive, um aumento potencial de 6,5 trilhões de dólares no PIB mundial caso os profissionais preencham seus gaps de educação, como mostra esta reportagem da última edição impressa da EXAME.

Num país como o Brasil, em que nos próximos três anos devem sobrar 260.000 vagas de trabalho no setor de tecnologia por pura e simples falta de gente qualificada, empresas de vários setores vêm tentando promover a educação no ambiente de trabalho.

Nesse mesmo cenário, empresas de educação, como a LIT, exploram novas formas de ensino, em parceria com os empregadores.

Em entrevista à EXAME, o professor Adriano Mussa afirma que as empresas não devem ter um papel de escola, mas de parceiras das instituições de educação que sabem como oferecer a qualificação. Além disso, ele cita que o Brasil (e os indivíduos) tem o desafio de aumentar sua capacidade de aprendizado.

Professor, como você define o termo reskilling?

Eu gosto de começar essas definições com o conceito de lifelong learning, porque é um conceito antigo, defendido pela Unesco, de aprendizagem continuada ao longo da vida. Não tem muita novidade nisso porque na prática a gente vinha vivendo.

Com a incrível aceleração das mudanças, as disrupções, aprender se tornou ainda mais importante. Por sua vez, com o o reskilling, eu gosto de usar uma definição informal. Para o Fórum Econômico Mundial, skill pode ser entendida como competência. E ela é "quebrada" no "CHA": conhecimento, habilidade e atitude. Saber, saber fazer, ir lá e fazer.

Por que se fala tanto nessa necessidade de requalificação?

A necessidade do lifelong learning está tão intensificada ao longo da vida que o que acontece de fato é um reskilling. É um desenvolver de novas  competências. É tão brutal o que a gente passa de aperfeiçoar e desenvolver novas competências que a bandeira do Fórum passou a ser essa. Se não, o bonde das disrupções vai passar.

Se estão se rompendo setores, organizações também estão. Organizações são feitas por pessoas. Então está havendo disrupção no mercado de trabalho. E essas novas tecnologias que estão moldando novos negócios são baseadas em tecnologias que mudam também a forma de se trabalhar. Há um desenvolver de novas competências dessa nova economia.

Isso já vinha acontecendo. O relatório de 2018 já dizia que as disrupções trariam a necessidade novas habilidades. O Airbnb, o Uber, o iFood. Isso é pré-pandemia. Na pandemia, há uma adoção violenta das novas tecnologias e a perda de "receio" dessas novas tecnologias.

Quais os efeitos disso para a educação?

O problema é que essas tecnologias mudam os negócios de tal forma que o nosso cérebro não está acostumado a pensar. Eu levei 10 vezes mais tempo do que eu pensei para aprender inteligência artificial.

Eu gosto de uma frase que diz, atribuída ao Elon Musk: "Se você der dez passos lineares, você vai chegar até a sacada de sua casa. Se você der dez passos exponenciais, dependendo do número, você chega na Lua".

O problema é que essas tecnologias não são óbvias. Então, você precisa de muito esforço para entendê-las, como profissional médio. Então, algumas questões não são mais problemas só dos profissionais de T.I, Internet das Coisas ou Cloud. Eles passam a ser problema seu, profissional do negócio. Isso é importante e pesado. O reskilling ficou imperativo.

Adriano Mussa

Adriano Mussa: "A gente é ineficiente em aprender, porque a gente não foi ensinado a aprender" (Divulgação/Divulgação)

Como as empresas veem essas necessidade de treinar os funcionários?

Os empregadores querem pagar para seus funcionários se desenvolverem, mas eles também veem que é uma responsabilidade do funcionário buscar isso. O adulto só aprende se ele visualizar utilidade. Então não adianta pagar treinamento se as pessoas souberem para que vão usar. O grande desafio é o engajamento.

A gente consegue aprender de forma exponencial ou a gente fica sempre linear?

A competência número 1, para o Brasil, segundo o Fórum, é a capacidade de aprender a aprender, que todo mundo confunde com lifelong learning. Ela é mencionada como estratégia de aprendizagem e aprendizagem ativa.

A gente é ineficiente em aprender, porque a gente não foi ensinado a aprender. Por exemplo: ler um capítulo de um livro e fazer uma reflexão mental de cinco minutos é mais relevante e fixador do que ler três vezes o mesmo capítulo.

Com um ambiente com tantas possibilidades, como a gente escolhe o que deve aprender?

Esse é o novo papel da escola. Porque a aprendizagem está em todo lugar. É possível achar coisas maravilhosas no Youtube ou pagando muito barato. Só que enquanto você não é minimamente proficiente em um assunto, você não consegue curar e separar o que é o joio do trigo.

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