Carreira

Qual o maior obstáculo para as mulheres na área de tecnologia?

O problema ficou evidente no levantamento feito pela Michael Page para mapear o mercado de trabalho na área de tecnologia

Mulheres em TI: a cada 10 entrevistas realizadas para a área de TI, apenas três profissionais eram mulheres (Hero Images/Getty Images)

Mulheres em TI: a cada 10 entrevistas realizadas para a área de TI, apenas três profissionais eram mulheres (Hero Images/Getty Images)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 1 de novembro de 2018 às 15h27.

São Paulo - A área de tecnologia é apontada como uma das mais promissoras e que mais crescem atualmente, novas vagas são abertas constantemente, com alta demanda de profissionais qualificados que são escassos no mercado.

No entanto, o setor ainda sofre com grande disparidade entre gêneros. Em processos seletivos conduzidos pelo Page Group nos últimos dois anos, a cada 10 entrevistas realizadas para a área de TI, apenas três profissionais eram mulheres.

O problema ficou evidente no levantamento feito pela Michael Page, empresa do Page Group de recrutamento especializado de profissionais de média e alta gerência, com 1.745 profissionais da área e análise do currículo de cerca de 17 mil outros profissionais de diversas empresas e setores.

O objetivo era mapear o mercado de tecnologia da informação. E a desigualdade ficou explícita na pesquisa: dos respondentes, apenas 12% são do gênero feminino.

Ao avaliar se existe discriminação no segmento, 85% delas acreditam que sim. E os homens concordam: para 62% dos entrevistados, há discriminação no setor de tecnologia.

Para João Paulo Kluppel, gerente executivo da Michael Page, ao observar os resultados do levantamento, é preciso dar um passo para trás e procurar uma análise mais profunda do problema.

“O primeiro diagnóstico é uma aparente discriminação. No entanto, vale uma leitura desde a formação acadêmica e do início de carreira na área. Existe um número muito menor de mulheres em cursos de engenharia ou ciência da computação”, diz ele.

De acordo com dados da Sociedade Brasileira de computação, apenas 15% das matrículas nos cursos de Ciência da Computação e de Engenharia são feitas por mulheres e apenas 17% são programadoras no Brasil.

A solução está na capacitação de mulheres para entrar no mercado e algumas iniciativas já surgiram nessa frente. Entre elas, o curso gratuito do {reprograma} ensina programação para mulheres cisgênero e transgênero.

Segundo Mariel Reyes, cofundadora e CEO do {reprograma}, a própria minoria de mulheres nas turmas de universidades e no ambiente de trabalho torna a entrada na área é mais hostil.

“Muitas desistem da graduação por serem as únicas mulheres dentro da turma. Temos o machismo típico na área, onde homens falam que elas não vão conseguir acompanhar por serem mulheres. Temos que mudar o mindset das mulheres, de forma que elas consigam se perceber como pessoas que podem contribuir para o setor. E também é preciso mudar a percepção dentro do setor sobre elas, dos homens dentro das empresas”, explica ela.

Com a rápida transformação da área de tecnologia dentro das empresas, também surge um problema no recrutamento de novos talentos. Segundo o gerente executivo da Michael Page, a área deixou de ser vista apenas como um suporte de outras atividades nas empresas.

“Quando vamos analisar alguns setores como serviços, saúde, varejo, educação, e até com o surgimento das fintechs, a tecnologia se tornou o centro das empresas. Ela é crucial e estratégica, por isso vai exigir alta qualificação”, diz ele.

E a área de recursos humanos das empresas nem sempre está preparada para buscar o novo perfil de funcionários que é demandado. Segundo Kluppel, a falta de preparo pode prejudicar a todos, mas resulta na maior contratação de homens.

“Quando existe uma demanda urgente, imediatamente a área de RH recorre a frentes mais fáceis de busca e contratação. O que significa que ela irá olhar para um pool de executivos da área que já tem maioria masculina”, explica.

A presidente do {reprograma} concorda que existe um viés na contratação de homens pela familiaridade, e a linguagem das descrições de vagas evidenciam isso. “Muitas vagas têm linguagem masculina e a percepção da mulher é de que a vaga não é para ela”, diz.

No curso, além de aprender as diferentes linguagens para programação front-end e back-end, é trabalhado com as alunas habilidades para competir por vagas no mercado. Elas são instruídas na melhor forma de se apresentar para o recrutador, como negociar e também melhorar sua autoestima.

“Existe um dado que fala que uma mulher só se apresenta para uma vaga quando tem 90% dos requisitos, enquanto o homem tenta vagas com bem menos. Elas não gostam de risco também. Trabalhamos para mudar a autoestima para elas buscarem as vagas”, comenta Reyes.

A área ainda está crescendo e o gerente da Michael Page observa uma tendência das empresas para o aumento da importância da tecnologia dentro dos negócios. Ao mesmo tempo, Kluppel diz que a maior necessidade é alcançar os melhores candidatos. “Quem não fizer investimentos na área, corre o risco de ficar para trás. É preciso ter tudo estruturado e das melhores pessoas”, diz.

Para as mulheres interessadas em programação, iniciativas como o {reprograma} estão surgindo e se fortalecendo. Em breve, a instituição terá um modelo de ensino à distância e Mariel Reyes espera ver grande parte das formadas inseridas no mercado.

“Até hoje, formamos 120 mulheres programadoras. Até o final do ano, serão mais 65. Na última turma, fizemos a aposta que nos primeiros 90 dias, pelo menos 75% delas estariam empregadas. Nos primeiros três meses, 83% estavam trabalhando como desenvolvedoras”, fala.

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