Brasil

Temer não fará falta na articulação, dizem especialistas

Articulação sob a batuta do vice-presidente já não tinha sustentação dos partidos mais fortes da base aliada - fato que anulava os esforços

Vice-presidente do Brasil, Michel Temer (PMDB), conversa com jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada, após encontro com a presidente Dilma Rousseff (PT), em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)

Vice-presidente do Brasil, Michel Temer (PMDB), conversa com jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada, após encontro com a presidente Dilma Rousseff (PT), em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)

Raphael Martins

Raphael Martins

Publicado em 24 de agosto de 2015 às 18h37.

Última atualização em 3 de agosto de 2017 às 15h19.

São Paulo – Ficou acertado nesta manhã (24) que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) deixará o dia a dia da articulação política do governo Dilma Rousseff. Temer continua auxiliando nas grandes decisões da presidente, mas se afasta da negociação de cargos e emendas, área mais importante para a governabilidade.

A notícia veio pouco mais de duas semanas depois de Temer negar os boatos de que estaria se afastando da diplomacia do Planalto.

A relação do PMDB com o governo vem esfriando desde o início do ano, puxada pela distribuição de cargos e emendas de restrição de verbas decorrentes do ajuste fiscal. O próprio Temer chegou a se desentender com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, por conta dos repasses.

Apesar da saída de Temer parecer um baque na governabilidade, para especialistas consultados por EXAME.com, a novidade pouco mudará o plano de curso do governo. Em resumo, Temer fora não fará tanta diferença.

O motivo é simples: a própria articulação sob a batuta do vice-presidente já não tinha sustentação dos partidos mais fortes da base aliada (PT e PMDB) e contava com um Congresso movido pela troca de favores e cargos.

“Se o Temer tivesse uma liderança sobre o PMDB, sua saída seria algo a lastimar, mas o partido não vem agindo para empoderar o governo, mostrando que ele não é um líder inconteste”, diz Rogério Baptistini Mendes, sociólogo e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “O afastamento é só a concretização de uma rebeldia do PMDB que já acontecia. Os partidos se descolaram da sociedade. Enquanto canais de representação, eles não estão cumprindo sua função. O governo naufraga sem apoio e a representação fica cada vez mais ilegítima.”

Para Rafael de Paula Aguiar Araujo, professor do departamento de Política da PUC-SP, Temer está finalmente atendendo a pressões internas do partido, que quer se desvincular do desgaste que o PT representa. “É um movimento visando os próximos pleitos políticos”, diz.

A única perda para o governo é que este é um momento em que Dilma vinha conseguindo um respiro no Congresso para aprovar emendas. Faz-se necessário, assim, pensar bem a substituição. Para Araújo, a presidente aprendeu a lição que deve escolher um membro do governo que tenha trânsito na base aliada para garantir a governabilidade. “Não adianta colocar o Mercadante", diz.

A movimentação do vice-presidente pode ter aproveitado a carona na reestruturação governamental anunciada hoje, que deve fechar até 10 ministérios. Algum destes ministros, inclusive, podem ser anunciados como próximo articulador.

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