O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha: ao não poupar de investigações figuras antes intocáveis, Brasil pode estar caminhando em uma direção oposta à da impunidade. (Ueslei Marcelino/Reuters)
Talita Abrantes
Publicado em 22 de agosto de 2015 às 14h54.
São Paulo - Os avanços da Operação Lava Jato sinalizam que o Brasil entendeu que a cultura de tolerância a corrupção está com os dias contados. E, para o Financial Times, o México deveria se inspirar na experiência brasileira e limpar a própria casa.
Em artigo publicado pouco antes do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ser denunciado na Lava Jato, o jornal britânico contrasta as investigações do Brasil sobre o esquema de desvios de recursos na Petrobras com a maneira como o país comandado por Enrique de La Peña lida com casos semelhantes.
É bem verdade, pondera o artigo, que a situação econômica brasileira contrasta com o cenário vivido pelos mexicanos. Segundo o texto, abalada pela corrupção e intervencionismo estatal, a economia do Brasil mergulhou na pior recessão desde a Grande Depressão, fato que enche os brasileiros de raiva diante da “sensação de que seu futuro foi roubado”, afirma o texto.
De acordo com o jornal, o cenário se inverte quando se está em pauta o fortalecimento das instituições democráticas em ambos países.
“Enquanto o México está bem à frente do Brasil na pesquisa do Banco Mundial sobre facilidade para fazer negócios (na 39ª posição, acima de Chile e Israel, versus a 120ª para o Brasil), o oposto também é verdadeiro sobre o Estado de Direito”, diz o artigo.
A publicação então cita o ranking de corrupção da Transparência Internacional, em que o México amarga a 103º lugar e o Brasil, o 69º.
Uma série de escândalos chocaram o México nos últimos tempos. La Peña é suspeito em um caso de conflito de interesses depois que a primeira-dama comprou uma casa de luxo do dono de uma empresa que tem vários contratos com o governo. No ano passado, 43 estudantes desapareceram e, segundo o equivalente ao Ministério Público Federal mexicano, foram assassinados.
“Enquanto no Brasil, os criminosos estão sendo presos, no México, um chefe do narcotráfico fugiu de uma prisão de segurança máxima através de um túnel construído no banheiro da cela dele”, diz o texto, em um momento em que flerta com uma visão idealista da luta contra a corrupção no Brasil.
O artigo pondera que, no entanto, seria ingênuo pensar que as investigações sobre os negócios escusos na Petrobras vão mudar definitivamente a cultura política do Brasil. No entanto, segundo o texto, ao não poupar figuras - como Eduardo Cunha - que, em outros tempos pareciam intocáveis, o país pode estar caminhando para uma nova direção.