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'O eleitor quer saber se vai conseguir encher o carrinho do supermercado', diz Renato Meirelles

Um dos principais especialistas em opinião pública do país, Renato Meirelles fala à EXAME sobre o que o eleitor quer de um candidato nesta eleição

Renato Meirelles: pesquisador e presidente do Instituto Locomotiva (Claudio Belli/Divulgação)
GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 16 de julho de 2022 às 08h30.

Última atualização em 18 de julho de 2022 às 08h37.

A pauta econômica é o que vai definir a eleição de 2022. Esta é a opinião de Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva e membro do conselho de professores do IBMEC, onde é o titular da cadeira de Ciências do Consumo e Opinião Pública. O pesquisador, que há 20 anos estuda a mente e comportamento dos brasileiros, avalia que encher o carrinho do supermercado é a principal preocupação do eleitor.

"O eleitor, diferente do que foi a última eleição, não está procurando novo, não quer mudança, ela quer a volta dos profissionais porque foi em um novo e não deu certo. A pergunta que as pessoas estão se fazendo para decidir o voto é se a minha vida é melhor hoje ou era melhor antes. O eleitor acha que todos os políticos são corruptos", diz.

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Em entrevista exclusiva à EXAME, Meirelles fala sobre as perspectivas eleitorais, da polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), e se o pleito pode ser decidido ainda no primeiro turno. Veja os principais trechos da conversa.

O que mais pesa nessas eleições para as pessoas?

Essa é a primeira eleição que um candidato incumbente está buscando a reeleição contra um ex-presidente da República. O eleitor, diferente do que foi a última eleição, não está procurando novo, não quer mudança, ela quer a volta dos profissionais porque foi em um novo e não deu certo. A pergunta que as pessoas estão se fazendo para decidir o voto é se a minha vida é melhor hoje ou era melhor antes. O eleitor acha que todos os políticos são corruptos. A preocupação é saber se vai conseguir encher o carrinho de supermercado. É uma eleição claramente pautada pela economia .

A campanha ou a PEC das Bondades, aprovada pelo Congresso Nacional na semana passada, vai ter o poder de convencimento? Pode mudar as intenções de voto?

Esse tipo de investimento é o mesmo que o governo recusou durante muito tempo. E o eleitor sabe disso. É muito difícil também imaginar que uma parcela grande do eleitorado acredite que o ex-presidente Lula vai acabar com benefício, ou mesmo se fosse ele o presidente o valor não seria maior. O que existe é uma tentativa de mudança de regra para compra de votos. O valor de 600 reais hoje é menor do que os 600 reais que o brasileiro recebeu no passado graças à inflação. O benefício chega, no máximo, a dois pontos de votos do total. Isso nem de perto é o suficiente para o presidente Bolsonaro ser eleito, mas talvez seja o suficiente para ter segundo turno.

A eleição já está decidida entre Lula e Bolsonaro?

Temos agora o menor número de indecisos a pouco mais de dois meses da eleição. Eu, como pesquisador, tenho muita dúvida sobre a pergunta da disposição de mudar de voto. É uma leitura que eu faço nos 20 anos de experiência, que o melhor sinalizador para consolidação de voto não é pergunta direta, mas a espontânea. Quando comparamos a intenção de voto estimulado com o espontâneo do Lula e do Bolsonaro, o presidente tem menos do que o petista.

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A decisão se dará no primeiro turno?

O pesquisador Renato Meirelles, o cara frio e analista, diz que tem um excelente espaço para a eleição ser definida no primeiro turno. O analista político Renato Meirelles, que entende que a política está longe de ser uma ciência exata, acha que dificilmente será definida no primeiro turno.

Há uma expectativa de que os pré-candidatos ao governo ajudem a puxar votos para o nacional. Isso pode ocorrer?

Depende. O regional é importante porque a máquina eleitoral está nas candidaturas dos governos, e dos candidatos a deputado. Mas nessa eleição a polarização é tão grande que pode acontecer o contrário. No caso de Minas Gerais, por exemplo, qual é a possibilidade do Romeu Zema (Novo) receber votos do Bolsonaro? Nenhuma. Os votos que o presidente tiver são do próprio. Em São Paulo, quem ajuda mais: o Tarciso de Freitas (Republicanos) ajuda o Bolsonaro, ou Bolsonaro ajuda mais o Tarcísio? Também tem o Lula, com Geraldo Alckmin (PSB) de vice e o Márcio França (PSB) saindo para o Senado, com uma tendência maior do estado alimentar o nacional.

Você citou a eleição em Minas Gerais, e se fala muito que o estado representa o Brasil, e quem ganha lá, ganha a eleição. Por que este fenômeno ocorre?

O estado é importante pela amplitude geográfica e pela população, que é o segundo maior colégio eleitoral do país, com perfil mais heterogêneo. Minas Gerais tem imãs de outros colégios eleitorais, com um que se aproxima do Nordeste, outro mais próximo de São Paulo, além de uma outra região ligada ao Centro-Oeste. Por essas características ele acaba sendo um estado-teste. Historicamente, a maior concentração dos votos do Lula e do PT se dá no Nordeste, e da direita está na região Sul. Então as coisas se definem pela diferença estabelecida na região Sudeste e, claro, que Minas é importante para esta definição.

A terceira via pode crescer? Ou a tendência é diminuir ainda mais?

A terceira via não existe porque ela perdeu um o timing, e foi construída com políticos tradicionais. Volto a repetir: essa é uma eleição do incumbente contra o ex-presidente da República. Tudo vai ficar entre os dois, se nada acontecer de muito extraordinário até o dia da votação. E os votos já estão se acomodando entre Lula e Bolsonaro.  O eleitor do João Doria (PSDB) foi para o Lula, o eleitor do Ciro Gomes (PDT) foi para o Lula, e o eleitor do Sergio Mouro (União Brasil) foi para o Bolsonaro. Vale dizer que a soma de todos os votos brancos, nulos e indecisos, com todos os candidatos de terceira via, incluindo o Ciro, não chega próximo das intenções de voto que o Bolsonaro tem.

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