Mortes por covid quadruplicaram em período sem auxílio, mostra estudo
Levantamento da Consultoria Legislativa do Senado, enviado à CPI, mostra que benefício foi retirado na pior fase da pandemia
Alessandra Azevedo
Publicado em 27 de maio de 2021 às 11h31.
Última atualização em 27 de maio de 2021 às 11h36.
Sem auxílio emergencial em um dos momentos mais críticos da pandemia de covid-19 , entre 29 de dezembro de 2020 e 6 de abril de 2021, a população mais vulnerável precisou ir às ruas buscar alguma fonte de renda. No período, a média móvel de mortes pelo novo coronavírus subiu quatro vezes, de 632 para 2.757 óbitos, mostra nota técnica da Consultoria Legislativa do Senado.
O documento foi enviado à CPI da Covid . Não é possível afirmar que o aumento no número de mortes se deve à falta do auxílio, mas o estudo aponta que “é plausível” dizer que a interrupção dos pagamentos, naquele momento, “tenha contribuído em algum grau para elevar a mobilidade da população”. Isso porque, sem o benefício, as pessoas tiveram que “buscar uma ocupação, ainda que por conta própria”.
A nota, elaborada pelo consultor Pedro Fernando Nery, ressalta que há evidência científica de que, em outros países, esse tipo de auxílio contribuiu para reduzir o número de mortes, ao possibilitar a adesão às medidas de distanciamento social por parte da população mais pobre. Estudo do Instituto de Economia do Trabalho (IZA, da Alemanha), por exemplo, mostra como os vouchers instituídos na Itália diminuíram de forma relevante a mobilidade dos cidadãos.
Outro estudo, feito pela Universidade de São Paulo (USP) e citado na nota, mostra o efeito na redução da pobreza. Ataxa de brasileiros na pobreza caiu de 25% antes da pandemia para 20% com o auxílio emergencial de R$ 600 em 2020, aponta. Sem o auxílio em 2021, teria chegado a mais de 30%. Já a taxa de extrema pobreza caiu de cerca de 7% em 2019 para 3% em 2020. Sem o auxílio em 2021, teria passado a mais de 10%.
O documento chama atenção para o fato de que o governo anunciou várias vezes que haveria um novo benefício com o fim do auxílio emergencial, mas não cumpriu a promessa. Segundo o consultor, “não se pode descartar que parte da população tenha criado expectativas com o anunciado novo benefício, tornando-a vulnerável na sua ausência e em um contexto de agravamento da pandemia”.