Governo precisa de placar amplo no Senado em teste pós-Calero
Se a PEC for aprovada com, pelo menos, 60 votos será um resultado positivo para o governo, que terá mostrado “coesão forte” de sua base no Congresso
Luísa Granato
Publicado em 29 de novembro de 2016 às 16h56.
Última atualização em 29 de novembro de 2016 às 17h31.
São Paulo - A votação da PEC do teto de gastos em primeiro turno no Senado nesta terça-feira pode ser um teste decisivo para o governo.
Será a primeira oportunidade de Michel Temer mostrar que a turbulência associada às saídas dos ministros Geddel Vieira Lima e Marcelo Calero não afetou aquela que é tida como uma das mais destacadas características do presidente: a capacidade de mobilizar votos no Congresso, demonstrada em várias votações.
Mas, para sufocar a crise, não basta aprovar a PEC. A vitória terá de ser grandiosa.
Se a PEC for aprovada com, pelo menos, 60 votos será um resultado positivo para o governo, que terá mostrado “coesão forte” de sua base no Congresso, mesmo após um período complicado com as denúncias feitas pelo ex-ministro da Cultura, diz o cientista político Ricardo Sennes, diretor da Prospectiva Consultoria.
Seria um sinal animador sobre a capacidade do governo de tocar reformas ainda mais desafiadoras, como a da Previdência.
Uma vitória por placar apertado, muito abaixo de 60, por sua vez, mostraria um quadro complicado, diz Sennes. Revelaria que o enfraquecimento do apoio ao governo, que já vinha sendo observado tenuemente em votações recentes, se agravou.
Na Câmara, a fidelidade dos parlamentares ao governo, segundo dados compilados pela Prospectiva, recuou de 71% dos votos em maio para 65% agora em novembro.
Uma derrota da PEC, tida como improvável, seria uma “bomba atômica”, diz Sennes. Sem base popular, o governo estaria perdendo seu único pilar, que é o apoio do Congresso.
Por isso, o analista considera que o presidente acerta ao se empenhar em obter uma votação o mais forte possível. Romero Jucá, líder do governo no Congresso, disse que projeta entre 62 e 65 votos de senadores a favor da medida.
O mercado financeiro conta com a vitória do governo na PEC do teto. O teste definitivo na reconquista da confiança dos investidores, contudo, só deve vir com a reforma da Previdência, que o governo pode enviar ao Congresso este ano para ser votada em 2017.
Isso porque não será tarefa simples cumprir o teto de gastos aprovado agora se as despesas com aposentadoria continuarem subindo sem parar.
“Sem uma reforma robusta da Previdência, será difícil manejar o orçamento”, diz Ronaldo Patah, estrategista do UBS Brasil Wealth Management.
A aprovação da reforma da Previdência é vista como fundamental para reafirmar o cenário base do mercado para o próximo ano, que inclui a retomada do crescimento e queda da inflação e dos juros, combinadas a uma relativa estabilidade do câmbio.
Patah, por exemplo, considera que, com as reformas, o dólar poderá cair para até R$ 3,00 num período entre seis e 12 meses.
Mesmo que o Fed suba sua taxa de juros, o diferencial em relação à Selic brasileira deve continuar atrativo para o investidor aplicar em renda fixa no Brasil.
O estrategista do UBS Wealth trabalha com uma projeção um pouco melhor do que a média do mercado para o PIB no próximo ano, mesmo após a onda de volatilidade causada pela eleição de Trump nos EUA.
Após uma recessão de -3,6% em 2016, a instituição prevê expansão de 1,3% no próximo ano, puxado pelos investimentos, reposição de estoques e o programa de concessões do governo. Em 2018, PIB deve crescer 2,6%.
Além de uma alta gradual dos juros do Fed, o cenário mais otimista do mercado já leva em conta também a ocorrência ocasional de turbulências políticas internas, como a verificada nos últimos dias.
Além da sobrevivência do governo Temer, que ainda não é colocada em dúvida apesar do pedido de impeachment pela oposição, a única condição que o mercado considera crucial para manter a confiança é que essas turbulências não prejudiquem as reformas.