Governo do Uruguai nega asilo político a manifestantes
A advogada Eloisa Samy, de 45 anos, deixou o consulado do país após ter solicitação rejeitada
Da Redação
Publicado em 22 de julho de 2014 às 10h38.
Rio de Janeiro - Considerada foragida, a advogada Eloisa Samy, de 45 anos, denunciada na sexta-feira, 18, pelo Ministério Público do Rio sob acusação de associação criminosa armada juntamente com outros 22 manifestantes, procurou nesta segunda-feira, 21, o Consulado do Uruguai , acompanhada de mais duas pessoas, para pedir asilo diplomático.
Após ter a solicitação rejeitada, deixou o local no carro oficial de uma deputada estadual.
À tarde, dois policiais foram ao prédio e um deles se identificou como tenente da PM, mas a entrada não foi permitida. Cerca de 50 militantes passaram a tarde na frente da representação diplomática, em solidariedade.
Eles confeccionaram cartazes e agitaram bandeiras do Uruguai e da Palestina. A deputada Janira Rocha (PSOL) também foi ao consulado.
O governo brasileiro ignorou o pedido de asilo. Planalto, Itamaraty e Ministério da Justiça evitaram se pronunciar. A justificativa foi de que todas as ações e pronunciamentos caberiam ao governo uruguaio.
A reportagem do Estado conversou com a advogada Eloisa, que se diz "perseguida política", pouco depois de ela ter sido recebida pela cônsul-geral Myriam Fraschini Chalar.
"Ela (Myriam) veio falar comigo, perguntou o que estava acontecendo e disse: O Brasil é um estado democrático de direito. (Eu respondi que) O problema não é o Brasil, o problema é o Estado do Rio, a Justiça, que está agindo como um verdadeiro Estado de exceção, contando com a cumplicidade e o silêncio do governo federal", afirmou.
"Meu problema não é o governo federal, é o governo estadual e a omissão do federal. Não vi outra solução a não ser o asilo político."
Acusações
Ela nega as acusações feitas pela Polícia Civil no inquérito iniciado em 2013, que foram respaldadas pelo Ministério Público na denúncia entregue na sexta e aceita duas horas depois pelo juiz Flávio Itabaiana, da 27.ª Vara Criminal.
Itabaiana emitiu mandados de prisão preventiva contra 23 pessoas, das quais 17, além de Eloisa, são consideradas foragidas.
Na denúncia encaminhada à Justiça, o promotor Luís Otávio Figueira Lopes afirma que Eloisa "inicialmente juntou-se aos demais no exercício de sua atividade, tendo, após, desvirtuado sua conduta e passado a participar ativamente dos atos violentos".
"Além disso, escudando-se em um suposto exercício da atividade profissional, presta apoio logístico, inclusive cedendo sua residência para reuniões", diz a denúncia.
A advogada nega as acusações. "Jamais cometi nenhum ato que infringisse a lei, mas estou sendo vítima das forças coercivas do Estado exatamente por defender pessoas que se ergueram e foram às ruas para protestar contra as ilegalidades cometidas por ele. Quem atua na ilegalidade é o Estado", afirma Eloisa, em vídeo divulgado ontem pela Mídia Independente Coletiva (MIC).
Ao Estado, ela negou a acusação de que sua casa seria usada para reuniões da Frente Independente Popular (FIP). "Nunca teve reunião na minha casa. A FIP e eu temos diferenças políticas, de questionamento ideológico, que já causaram desentendimentos."
As duas pessoas que acompanharam Eloisa foram David Paixão, de 18 anos, que foi adotado pela advogada, e Camila Nascimento, de 19, que seria a namorada dele.
Notas de repúdio às prisões no Rio, de entidades como OAB-RJ, Anistia Internacional e Justiça Global, foram entregues como base para o pedido de asilo.
Rejeição e saída
No início da noite, a assessoria da deputada Janira Rocha (PSOL), que acompanhava os ativistas, informou que o governo do Uruguai negou asilo político. Eloisa e seus dois acompanhantes deixaram o prédio do consulado, na Praia de Botafogo, por volta das 19h15, no carro oficial da parlamentar - um VW Bora preto.
"Ela (a deputada) deu uma carona até o bairro de São Conrado e não sabe o que eles fizeram depois", disse o assessor de imprensa de Janira, Ricardo Villa Verde. A deputada não foi localizada pela reportagem.
"Eles desceram de elevador e saíram pela garagem, que fica na frente do prédio. Ninguém fez nada escondido", afirmou Villa Verde. (Colaboraram, Lisandra Paraguassu e Fábio Grellet)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.