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Ao vivo: Ernesto nega críticas à China e é acusado de faltar com verdade

Senadores querem que ex-ministro das Relações Exteriores explique sobre a falta de iniciativa na busca de vacinas contra a covid-19

Ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo depõe na CPI da Covid (Edilson Rodrigues/Agência Senado/Flickr)

Ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo depõe na CPI da Covid (Edilson Rodrigues/Agência Senado/Flickr)

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Da Redação

Publicado em 18 de maio de 2021 às 06h00.

Última atualização em 18 de maio de 2021 às 14h16.

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O ex-ministro de Relações Exteriores Ernesto Araújo afirmou à CPI da Covid, na manhã desta terça-feira, 18, que não fez nenhuma declaração anti-chinesa e que não agiu com hostilidade em relação ao país.

"Jamais promovi nenhum atrito com a China, seja antes, seja durante a pandemia", afirmou. Segundo ele, os resultados obtidos durante a pandemia "decorrem de uma política externa que não era de alinhamento automático com os Estados Unidos, nem uma política anti-multilateral -- ficou claro isso com a nossa participação na Covax --, nem de enfrentamento com a China".

O senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, alertou que Araújo está sob juramento de falar a verdade e lembrou artigo escrito pelo ex-chanceler no qual ele fala em "comunavírus". “Na minha análise pessoal, vossa excelência está faltando com a verdade. Então, eu peço a vossa excelência que não faça isso", recomendou Aziz.

"Vossa excelência escreveu no seu Twitter, escreveu artigos sobre isso. E, se vossa excelência acha que isso não é se indispor com um país em que nós temos uma relação comercial muito importante para a gente, então eu não entendo mais sobre como se faz relações internacionais", continuou o presidente da CPI.

Em resposta, Araújo argumentou que o artigo mencionado por Aziz não ofende a China. “O artigo não é absolutamente contra a China. A leitura do artigo deixa isso claro”, afirmou. “Não vejo nada ali que seja ofensivo à China. O ‘comunavírus’, o artigo deixa claro, não é uma designação ofensiva ao coronavírus. É aquilo que o autor comentou chamando de ‘vírus ideológico”, disse.

A explicação não convenceu o presidente da comissão. “Como não é ofensivo? Se fala em vírus ideológico, se repercute que pode ser uma guerra química?”, questionou Aziz. Ele lembrou que o ex-chanceler também discutiu com autoridades chinesas pelo Twitter. Novamente, Araújo negou. “Nunca tive discussões via Twitter com o embaixador da China”, disse.

“Fiz duas notas do Itamaraty, uma em março e uma novembro, notas oficiais do Itamaraty. Não foram discussões minhas com o embaixador da China”, afirmou o ex-ministro. Segundo ele, as notas apontavam “comportamento inadequado por parte do embaixador da China. Não foi bate-boca com o embaixador da China”, disse.

Embaixador

A troca de mensagens entre o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, voltou a ser alvo de críticas e questionamentos de senadores ao ex-chanceler. Araújo, no entanto, não abandonou o tom defensivo com relação ao tema, classificando a resposta do embaixador à publicação de Eduardo como uma grande ofensa diplomática.

"Me parece que é algo muito grave quando um embaixador, que está comprometido com os princípios da Convenção de Viena da prática diplomática retuíta uma publicação do chefe de Estado daquele País, a família daquele chefe de Estado, é o veneno do Brasil", afirmou Araújo, dizendo que o comportamento do embaixador está sujeito a limites. Araújo também confirmou ter escrito ao chanceler da China queixas sobre o embaixador Wanming.

Em um dos episódios de conflito com a China, o ex-chanceler saiu em defesa de Eduardo Bolsonaro após o filho do presidente republicar uma mensagem no Twitter que culpava o país asiático pela pandemia. Na ocasião, o perfil oficial da embaixada chinesa protestou contra o deputado e disse que ele havia contraído "vírus mental".

O então chanceler classificou a reação da embaixada "desproporcional", disse que feriu "a boa prática diplomática" e pediu retratação por parte do embaixador, Yang Wanming, que rejeitou a sugestão de Araújo.

Kátia Abreu

A presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP-TO), usou seu tempo de perguntas ao ex-chanceler para fazer críticas à atuação do ex-ministro à frente do Itamaraty. Segundo a senadora, o Brasil tem registrado índices positivos, entre eles a balança comercial, que tem aumentado, "a despeito" do trabalho realizado por Araújo.

"O senhor bateu no peito para dizer que as vacinas vieram ao Brasil graças à sua gestão no Ministério das Relações Exteriores. Eu quero lembrar a todos que, até abril, 85% de toda vacina colocada no braço dos brasileiros vieram da China e a despeito do senhor Ernesto Araújo, porque o Butantan - que é do governo de São Paulo, para a contrariedade de muitos - fez uma contratação direta", afirmou a senadora. "Não teve uma palha de necessidade do governo federal", completou, referindo-se à não participação do governo de Jair Bolsonaro nesse processo.

Kátia Abreu também acusou Araújo de "ter uma memória seletiva, senão leviana", durante o depoimento à comissão. "O senhor Ernesto Araújo não se lembra de nada do que importa, mas se lembra de questões mínimas e supérfluas e até mesmo não verdadeiras", disse Kátia ao ex-ministro.

Carta da Pfizer

Em depoimento à CPI da Covid, o ex-chanceler Ernesto Araújo disse que tinha conhecimento da carta enviada ao governo brasileiro em setembro do ano passado pela Pfizer, na qual o CEO da empresa, Albert Bourla, alertava que havia uma proposta de venda de vacinas ao Ministério da Saúde, sem resposta por parte do Brasil.

Araújo relatou que "talvez" no dia 14 de setembro, dois dias após o envio da correspondência, tenha sido informado sobre o documento pelo embaixador do Brasil para os Estados Unidos, Nestor Foster, um dos destinatários da carta. "O embaixador fez telegrama informando sobre esse documento", disse.

Segundo ele, o telegrama mencionava que a carta já era de conhecimento direto do Ministério da Saúde, a quem caberia a "centralização da estratégia de vacinação". Ele afirmou que ninguém do governo o procurou para tratar da carta.

O ex-ministro foi questionado sobre o fato de a carta da Pfizer ter ficado dois meses sem resposta do governo brasileiro, e respondeu não saber o que pode ter motivado esse atraso.

A carta foi levada à CPI pelo ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, que revelou o fato de a correspondência ter ficado dois meses sem resposta, até sua iniciativa de contatar a Pfizer, em novembro. O episódio foi confirmado à CPI pelo gerente-geral da farmacêutica na América Latina, Carlos Murillo.

Relação com os Estados Unidos

Perguntado pelo relator se a boa relação com o ex-presidente Donald Trump não prejudicou o Brasil com a mudança de governo os Estados Unidos, Araújo disse que, em sua gestão, houve um contato estreito com a nova administração do presidente Joe Biden para "rearmar" a relação.

“Não houve alinhamento com os Estados Unidos, nem com qualquer outro país. Houve aproximação com os Estados Unidos. Mas, seja com EUA ou com qualquer país, o Brasil só entrou, só embarcou em iniciativas que fossem do interesse brasileiro. Jamais entramos em qualquer iniciativa apenas porque fosse de interesse americano.”

Questionado por que foi contra à adesão do consórcio Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS), que prevê a distribuição de vacinas, ele disse que não foi contra. Depois, perguntado por que o Brasil optou pelo quantitativa mínimo, suficiente para atender 10% da população, em vez de 50%, ele respondeu: "Essa decisão não foi minha. Foi do Ministério da Saúde".

Demissão

O ex-ministro refutou a avaliação de que ele fazia parte da 'ala ideológica' e deixou claro que sempre atuou sob supervisão do presidente Jair Bolsonaro. Ele afirmou, ainda, que procurou uma política externa que garantisse um "país grande e livre" e que buscou sempre os melhores caminhos seguindo os princípios internacionais.

À CPI, Ernesto disse que o presidente Jair Bolsonaro pediu que ele deixasse o cargo para melhorar a relação com o Congresso:

"O Presidente manifestou que haviam surgido dificuldades que poderiam dificultar o relacionamento especialmente com o Senado. Diante disso, pediu que eu colocasse à disposição o cargo — respondeu ao ser questionado sobre o episódio".

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