Diretor da PF deve deixar cargo e Moro tenta fazer sucessor, diz fonte
Auxiliares do governo tentam garantir a permanência de Moro e buscam uma solução que atenda tanto ao ministro da Justiça quanto ao presidente
Reuters
Publicado em 23 de abril de 2020 às 18h51.
Última atualização em 24 de abril de 2020 às 16h54.
O diretor-geral da Polícia Federal , Maurício Valeixo, deve deixar o cargo para o qual foi escolhido pessoalmente pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro , desde o início do governo Jair Bolsonaro , disse à Reuters uma fonte com conhecimento direto do assunto na noite desta quinta-feira.
Moro trabalha para fazer o sucessor de Valeixo no cargo e disse que não aceita a escolha de um nome do presidente ou uma indicação política. Se isso ocorrer, o ministro pretende deixar o governo, disse essa fonte.
Mais cedo, em reunião no Palácio do Planalto, Bolsonaro avisou a Moro que iria trocar o chefe da PF, disse a fonte. O ministro da Justiça disse-lhe inicialmente que não via sentido em permanecer no cargo caso houvesse a mudança de Valeixo, segundo a fonte.
Os ministros da Casa Civil, Braga Netto, do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, começaram a atuar então para garantir a permanência de Moro e buscam uma solução que atenda tanto ao ministro da Justiça quanto ao presidente.
Crise
Essa foi a segunda vez que o presidente tentou impor um novo nome na cúpula da corporação.No ano passado, após Bolsonaro antecipar a saída do superintendente da corporação no Rio de Janeiro, Ricardo Saad, ministro e presidente travaram uma queda de braço pelo comando da PF.
Em agosto, o presidente antecipou o anúncio da saída de Saadi do cargo, justificando que seria uma mudança por “produtividade” e que haveria “problemas” na superintendência.
A declaração surpreendeu a cúpula da PF que, horas depois, em nota contradisse o presidente ao afirmar que a substituição já estava planejada e não tinha “qualquer relação com desempenho”.
Saadi era o coordenador de várias frentes de investigação de lavagem de dinheiro, como por exemplo, a que levou à prisão o ex-presidente Michel Temer.
Nos dias seguintes, Bolsonaro subiu o tom. Declarou que “quem manda é ele” e que, se quisesse, poderia trocar o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.
A tensão voltou a se repetir no início deste ano, quando o presidente ameaçou separar a pasta da Segurança Pública, que comanda a PF, do Ministério da Justiça, o que abriu uma nova crise entre Bolsonaro e Moro, um dos ministros mais populares do governo.
No entanto, auxiliares do governo aconselharam o presidente a não tomar essa iniciativa, uma vez que isso poderia impactar profundamente sua popularidade.