Dia de votação do impeachment tem briga, sermão e confete
Quando parlamentares brasileiros se reúnem para votar o impeachment de um presidente pode-se esperar de tudo, menos um evento solene
Da Redação
Publicado em 18 de abril de 2016 às 22h33.
Quando parlamentares brasileiros se reúnem para votar o impeachment de um presidente pode-se esperar de tudo, menos um evento solene.
Em uma exaltada sessão de 10 horas na Câmara dos Deputados , no domingo, para votação da admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o cenário em certos momentos beirou o surreal.
Parte show de rock, parte briga de bar, parte final de campeonato -- e, em alguns momentos, parte sermão de igreja. Os parlamentares cantaram, louvaram a Deus, pediram o fim da corrupção e invocaram o futuro de seus filhos e netos antes de se concentrarem no assunto que tinham em mãos.
O tema a ser tratado era se a presidente havia encoberto ilegalmente um enorme déficit orçamentário, mas nem todos os parlamentares focaram nas supostas pedaladas fiscais nos discursos que antecederam seus votos.
Os favoráveis ao impeachment vaiavam ou aplaudiam após cada voto. Quando foi dado o voto decisivo a favor da saída de Dilma houve uma explosão de aplausos e uma chuva de confetes. O deputado da oposição que havia acabado de gritar “sim” no microfone rompeu em lágrimas.
Nas ruas de algumas das maiores cidades do país os brasileiros se reuniram para assistir à votação ao vivo pela TV. Quando as notícias do resultado chegaram, os céus se iluminaram com fogos de artifício e os moradores comemoraram batendo panelas e frigideiras nas ruas.
Clima festivo
No Congresso, a atmosfera também era um tanto festiva. Após algumas brigas no início da sessão, que levaram os seguranças a serem chamados a intervir, a votação avançou normalmente, com os parlamentares usando seus poucos segundos de tempo no microfone para proclamar em voz alta o "sim" ou "não". Houve pequenas brigas ao longo da noite e um incidente com um deputado cuspindo em outro.
Muitos estavam com bandeiras nos ombros ou usavam faixas patrióticas em torno do pescoço. Cartazes dizendo “Não vai ter golpe” competiam com outros onde se podia ler “Tchau, querida” -- Dilma frequentemente usa o termo “querida” ao falar com a imprensa.
No centro do palco estava o homem que comandava o show -- o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O deputado pelo Rio de Janeiro, de 57 anos, é abertamente contrário a Dilma e anunciou sua separação do governo meses antes de sua legenda, o PMDB, fazer o mesmo.
Ato de vingança
Como parte de sua defesa, Dilma afirmou que Cunha decidiu levar adiante o processo de impeachment contra ela como um ato de vingança após investigadores apurarem o envolvimento dele no escândalo de corrupção da Petrobras -- uma acusação que ele negou pouco antes do início da sessão de domingo.
O próprio Cunha foi alvo de muitos ataques durante a votação. Minutos após o início da sessão, um grande cartaz que dizia “Fora, Cunha!” foi exibido atrás da mesa onde ele se sentava. Diversos deputados disseram, na hora de votar, que Cunha também deveria ser removido do cargo. Outros se declararam contra o impeachment para que Cunha não tivesse a possibilidade de assumir o poder. No Brasil, a linha de sucessão o coloca após o vice-presidente, Michel Temer.
Temer, que no último minuto decidiu permanecer em Brasília para a votação devido aos sinais de que o governo ganhava força, não fez nenhuma declaração e não estava perto do Congresso durante a votação. O jornal Folha de S.Paulo publicou uma imagem dele sorrindo, que teria sido feita enquanto ele assistia à votação em sua casa.
Telões
Muitas pessoas que estavam nas ruas também se mostravam perplexas pelo fato de o homem que comandava a votação ser um político acusado de irregularidades. Os opositores do impeachment viram a votação se desenrolar em uma grande tela montada no vale do Anhangabaú, em São Paulo, onde grandes multidões se reuniram para assistir à Copa do Mundo, em 2014. Um boneco de Cunha enforcado foi pendurado de uma ponte, com um cartaz que dizia “corrupto, golpista” em torno do pescoço.
“É surprendente que Cunha liderou isto depois de ele ser acusado de tanta coisa”, disse Fernanda Becker, socióloga, que vestia vermelho em apoio a Dilma. Enquanto ambulantes vendiam cerveja gelada com isopores cheios de gelo, a multidão vaiava os votos pelo sim e aplaudia os nãos.
O clima na Avenida Paulista, em São Paulo, onde se reuniu a maior parte da multidão pró-impeachment, era de mais agito. Ouvia-se samba e o hino nacional enquanto o povo reunido assistia à votação pelos telões.
“Estou aqui porque sou contra a corrupção e porque a Dilma é indiretamente responsável por todo esse caos que estamos vivendo”, disse Nilcilene Lago, que estava na manifestação com o filho. Ela, que tem 43 anos e ficou desempregada depois que sua empresa fechou, em 2013, não se mostrou muito animada com as perspectivas de um governo Temer. “Temer é menos pior do que o que temos hoje. Mas o perfeito seria ter novas eleições”.
Quando parlamentares brasileiros se reúnem para votar o impeachment de um presidente pode-se esperar de tudo, menos um evento solene.
Em uma exaltada sessão de 10 horas na Câmara dos Deputados , no domingo, para votação da admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o cenário em certos momentos beirou o surreal.
Parte show de rock, parte briga de bar, parte final de campeonato -- e, em alguns momentos, parte sermão de igreja. Os parlamentares cantaram, louvaram a Deus, pediram o fim da corrupção e invocaram o futuro de seus filhos e netos antes de se concentrarem no assunto que tinham em mãos.
O tema a ser tratado era se a presidente havia encoberto ilegalmente um enorme déficit orçamentário, mas nem todos os parlamentares focaram nas supostas pedaladas fiscais nos discursos que antecederam seus votos.
Os favoráveis ao impeachment vaiavam ou aplaudiam após cada voto. Quando foi dado o voto decisivo a favor da saída de Dilma houve uma explosão de aplausos e uma chuva de confetes. O deputado da oposição que havia acabado de gritar “sim” no microfone rompeu em lágrimas.
Nas ruas de algumas das maiores cidades do país os brasileiros se reuniram para assistir à votação ao vivo pela TV. Quando as notícias do resultado chegaram, os céus se iluminaram com fogos de artifício e os moradores comemoraram batendo panelas e frigideiras nas ruas.
Clima festivo
No Congresso, a atmosfera também era um tanto festiva. Após algumas brigas no início da sessão, que levaram os seguranças a serem chamados a intervir, a votação avançou normalmente, com os parlamentares usando seus poucos segundos de tempo no microfone para proclamar em voz alta o "sim" ou "não". Houve pequenas brigas ao longo da noite e um incidente com um deputado cuspindo em outro.
Muitos estavam com bandeiras nos ombros ou usavam faixas patrióticas em torno do pescoço. Cartazes dizendo “Não vai ter golpe” competiam com outros onde se podia ler “Tchau, querida” -- Dilma frequentemente usa o termo “querida” ao falar com a imprensa.
No centro do palco estava o homem que comandava o show -- o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O deputado pelo Rio de Janeiro, de 57 anos, é abertamente contrário a Dilma e anunciou sua separação do governo meses antes de sua legenda, o PMDB, fazer o mesmo.
Ato de vingança
Como parte de sua defesa, Dilma afirmou que Cunha decidiu levar adiante o processo de impeachment contra ela como um ato de vingança após investigadores apurarem o envolvimento dele no escândalo de corrupção da Petrobras -- uma acusação que ele negou pouco antes do início da sessão de domingo.
O próprio Cunha foi alvo de muitos ataques durante a votação. Minutos após o início da sessão, um grande cartaz que dizia “Fora, Cunha!” foi exibido atrás da mesa onde ele se sentava. Diversos deputados disseram, na hora de votar, que Cunha também deveria ser removido do cargo. Outros se declararam contra o impeachment para que Cunha não tivesse a possibilidade de assumir o poder. No Brasil, a linha de sucessão o coloca após o vice-presidente, Michel Temer.
Temer, que no último minuto decidiu permanecer em Brasília para a votação devido aos sinais de que o governo ganhava força, não fez nenhuma declaração e não estava perto do Congresso durante a votação. O jornal Folha de S.Paulo publicou uma imagem dele sorrindo, que teria sido feita enquanto ele assistia à votação em sua casa.
Telões
Muitas pessoas que estavam nas ruas também se mostravam perplexas pelo fato de o homem que comandava a votação ser um político acusado de irregularidades. Os opositores do impeachment viram a votação se desenrolar em uma grande tela montada no vale do Anhangabaú, em São Paulo, onde grandes multidões se reuniram para assistir à Copa do Mundo, em 2014. Um boneco de Cunha enforcado foi pendurado de uma ponte, com um cartaz que dizia “corrupto, golpista” em torno do pescoço.
“É surprendente que Cunha liderou isto depois de ele ser acusado de tanta coisa”, disse Fernanda Becker, socióloga, que vestia vermelho em apoio a Dilma. Enquanto ambulantes vendiam cerveja gelada com isopores cheios de gelo, a multidão vaiava os votos pelo sim e aplaudia os nãos.
O clima na Avenida Paulista, em São Paulo, onde se reuniu a maior parte da multidão pró-impeachment, era de mais agito. Ouvia-se samba e o hino nacional enquanto o povo reunido assistia à votação pelos telões.
“Estou aqui porque sou contra a corrupção e porque a Dilma é indiretamente responsável por todo esse caos que estamos vivendo”, disse Nilcilene Lago, que estava na manifestação com o filho. Ela, que tem 43 anos e ficou desempregada depois que sua empresa fechou, em 2013, não se mostrou muito animada com as perspectivas de um governo Temer. “Temer é menos pior do que o que temos hoje. Mas o perfeito seria ter novas eleições”.