Brasil

Construção precisa de "exército populacional" para zerar déficit de habitação

Estudo da FIESP mostra que, para oferecer moradia a todos os brasileiros até 2022, setor vai precisar contratar metade da população economicamente ativa

Mesmo se conseguir contratar 3 milhões de brasileiros, setor da construção ainda tem o desafio de qualificar esta mão-de-obra (Cristiano Mariz/VOCÊ S/A)

Mesmo se conseguir contratar 3 milhões de brasileiros, setor da construção ainda tem o desafio de qualificar esta mão-de-obra (Cristiano Mariz/VOCÊ S/A)

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Da Redação

Publicado em 26 de novembro de 2010 às 14h06.

São Paulo - Se quiser zerar o déficit habitacional no Brasil, o setor da construção civil vai ter de contratar, obrigatoriamente, metade de todos os brasileiros que forem incorporados à População Economicamente Ativa (PEA) nos próximos 12 anos. Um estudo elaborado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em parceria com a consultoria LCA, mostra que, em números, esta necessidade de contingente será de três milhões de trabalhadores.

Os dados, antecipados por EXAME.com, serão divulgados na 9ª edição do Construbusiness, que acontece na segunda-feira (29), em São Paulo. Entre 2010 e 2022, a estimativa é que a população brasileira total tenha um acréscimo de 10 milhões de habitantes (passando de 193 para 203 milhões). Destes, segundo o estudo, cerca de seis milhões farão parte da PEA. Diante deste crescimento, será necessário construir 23 milhões de habitações - seis milhões que zerarão o atual déficit e outros 17 milhões para atender ao aumento da demanda.

"Estes números sozinhos já mostram a tarefa difícil que temos pela frente. Mas mesmo se contratarmos metade da PEA, ainda acredito que não será suficiente", diz Manuel Carlos Rossitto, diretor do Departamento da Indústria da Construção (Deconcic), da FIESP.

A tarefa árdua inclui não apenas atrair o exército populacional para o setor. Também será preciso qualificar esta mão de obra. Trabalhadores mais qualificados, e que precisam ser retidos no segmento, são também mais caros. Portanto, tanto empresas quanto o governo terão que investir pesado no setor.

"Estes são os nossos maiores gargalos", diz Rossitto. "Primeiro a questão da educação. O setor público tem que dar à população opções de cursos que qualifiquem desde o engenheiro até o pedreiro." E não apenas isto, segundo o diretor do Deconcic. Para que o frágil equilíbrio entre demanda e oferta da mão de obra se mantenha no futuro, o governo vai precisar investir em infraestrutura em um nível que garanta aos trabalhadores do setor "estabilidade, um plano de carreira."

Este nível de investimento ainda está longe de ser obtido. O estudo da FIESP mostra que estão previstos para os próximos 12 anos investimentos de dois trilhões de reais em projetos de infraestrutura. Destes, um trilhão deve ser destinado ao setor de petróleo e gás. O outro trilhão está dividido entre os setores de transporte (400 bilhões), saneamento (200 bilhões), e o restante (400 bilhões) entre os demais.

"Falta projeto em quase todos os setores de infraestrutura. E falta também participação da iniciativa privada, que não investe o suficiente em projetos. Mas isto acontece porque o governo não cria marcos regulatórios em setores importantes, como o da construção, que garantam segurança para os investidores. Ainda estamos longe do ideal, e só com o dinheiro público, as coisas não vão acontecer", diz Rossitto.

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