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Com 78 prisões no ano, Rio desbanca Curitiba na Lava Jato

A mudança de eixo é a ordem natural das investigações, segundo já reconheceu até o juiz Sergio Moro

Operação Lava Jato: o Rio de Janeiro foi uma expansão natural da operação que nasceu focada nos desvios da Petrobras (Ueslei Marcelino/Reuters)

Operação Lava Jato: o Rio de Janeiro foi uma expansão natural da operação que nasceu focada nos desvios da Petrobras (Ueslei Marcelino/Reuters)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 14 de novembro de 2017 às 17h05.

Pela décima quarta vez este ano, esta terça-feira começou com a Polícia Federal nas ruas do Rio de Janeiro cumprindo mandatos da Operação Lava Jato. Uma série de políticos e empresários do estado foram alvos de prisão e de condução coercitiva na Operação Cadeia Velha, que apura corrupção e outros crimes envolvendo a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

O empresário Felipe Picciani, filho do presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani (PMDB), foi preso. Seu pai, Jorge Picciani, presidente da Alerj, foi conduzido para depoimento e seu gabinete foi alvo de buscas. A ação mirou ainda os deputados estaduais Paulo Melo e Edson Albertassi, ambos do PMDB. O empresário Jacob Barata Filho, o Rei do Ônibus, e o ex-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor) Lélis Teixeira, foram presos.

A operação desta terça-feira escancara uma mudança de rumos da Lava-Jato. Faz mais de três meses que a seção curitibana da Lava-Jato, sob comando do juiz federal Sergio Moro, não comanda nenhuma operação. O braço da Rio de Janeiro no Rio, por sua vez, sob comando do juiz federal Marcelo Bretas, nunca esteve tão ativo.

Pela primeira vez desde o início da força tarefa, em 2014, Curitiba não é a campeã de operações este ano. No total, Curitiba coordenou 46 operações em quatro anos. Foram sete em 2014, 14 em 2015 (com 43 prisões), 16 em 2016 (com 66 prisões), e nove em 2017 (com 18 prisões). No Rio de Janeiro a primeira operação foi em 2015 (com duas prisões). Em 2016, foram três operações (com 16 prisões); em 2017 foram, até aqui, 14 operações (com um recorde anual 78 prisões). Os números são do Ministério Público Federal.

“A mudança é natural. Em Curitiba, a operação bateu no teto, e a responsabilidade agora está nas mãos do Supremo. O Rio de Janeiro foi uma extensão natural da operação, já que boa parte das empreiteiras investigadas tinha negócios vultosos no estado, onde também fica a sede da Petrobras”, diz Sérgio Praça, cientista político da FGV e colunista de Exame. “Além disso, o Rio tem uma combinação matadora: reúne uma enorme quantidade de bandidos e de dinheiro disponível para corrupção”.

No início de outubro, o próprio juiz Sergio Moro reconheceu que a Lava-Jato em Curitiba está “indo para o final”. “Em Curitiba a investigação sempre foi sobre os contratos da Petrobras que geraram valores e as pessoas que pagavam. Grande parte já foi processada. As que recebiam e não tinham foro privilegiado”, disse Moro ao jornal O Estado de S. Paulo.

A ligação entre as empreiteiras e as investigações sobre políticos do Rio (especialmente do PMDB) ficaram evidentes nesta terça-feira. A família Picciani foi um dos alvos do acordo de leniência da Carioca Engenharia em abril do ano passado. A matemática Tania Maria Silva Fontenelle, ligada à empreiteira, afirmou que comprou vacas superfaturadas de uma empresa de Picciani para “gerar dinheiro em espécie” para a Carioca Engenharia.

A partir das planilhas das empreiteiras, descortinou-se uma enorme estrutura montada para saquear os cofres do estado. Segundo a coluna Radar, da revista VEJA, o deputado Jorge Picciani recebeu 58.580.000 de reais em esquemas de corrupção nos transportes do Rio. Segundo planilha publicada pelo Ministério Público Federal, o líder peemedebista era chamado por dois codinomes: satélite e platina.

O procurador do Ministério Público Federal, Carlos Alberto Gomes de Aguiar, disse em entrevista nesta terça-feira que “enquanto o Rio de Janeiro definha” os alvos da operação Cadeia Velha “se empapuçam com dinheiro da corrupção”.

Carlos Alberto disse ainda que “essa organização criminosa é a mesma da qual fez parte o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral e os conselheiros do Tribunal de Contas que estão sendo investigados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ)“.

Preso desde novembro, Cabral foi condenado em setembro a 45 anos e dois meses de prisão pelo juiz federal Marcelo Bretas na Operação Calicute. A pena se junta a outros 14 anos e dois meses de reclusão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, determinados pelo juiz Sergio Moro. Cabral é réu em mais 13 ações penais.

A crescente importância do Rio de Janeiro não significa que a Lava-Jato, ou outras operações de combate à corrupção entre políticos e empresários, ficará restrita ao estado. Ainda nesta terça-feira a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Receita Federal deflagraram a Operação Papiros de Lama, quinta fase da Lama Asfáltica.

A PF cumpriu mandados de busca e apreensão na casa do ex-governador do MS André Puccinelli (PMDB) e também na do filho dele, André Puccinelli Junior.

A investigação mira um esquema que desviou recursos públicos por meio do direcionamento de licitações, de superfaturamento de obras, além de outras acusações. O estado vizinho, Mato Grosso, tem 20 políticos citados na Lava-Jato. Outros estados podem entrar na mira da operação, mas não com números capazes de destronar o Rio de Janeiro.

Em 2018, espera-se, a Lava-Jato chegue enfim ao Supremo Tribunal Federal, que em quatro anos de operação acumula a marca de zero condenações. Seria a evolução natural da operação.

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