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Calor sinaliza perigo climático para fazendeiros do Brasil

Com efeitos do aquecimento global, país poderia ver uma migração massiva de cultivos para zonas mais temperadas

Planta de café, com algumas folhas marrons por conta da seca, na fazenda Tijuco Preto, em Minas Gerais: clima está perseguindo parte da produção de café em altitudes mais elevadas (Paulo Fridman/Bloomberg)
DR

Da Redação

Publicado em 17 de abril de 2014 às 17h16.

Brasília - O Brasil poderia ver uma migração massiva de cultivos e trabalhadores agrícolas de enormes faixas de terras atualmente aráveis para zonas mais temperadas, à medida que se sentem os efeitos do aquecimento global , segundo os principais especialistas em clima do País.

O veterano pesquisador brasileiro do clima Hilton Silveira Pinto aponta a seca que está reduzindo a produção de grãos e café neste ano como um indicador de que a alta das temperaturas globais já poderia estar impactando nas safras do País.

"É um treino do que vem no futuro", disse Pinto, professor no Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Universidade de Campinas.

Um estudo feito por Pinto e outros autores que analisa as tendências projetadas de aquecimento mostra que a produção de soja no Brasil poderia cair até 24 por cento e a de trigo, até 41 por cento até 2020, pois a mudança do clima reduz as áreas onde os cultivos podem crescer.

Como o Brasil está ajudando cada vez mais a alimentar o mundo, a importância disso não é só problema do Brasil. No ano passado, o País destronou os EUA como principal exportador de soja do mundo – vendeu 41,9 milhões de toneladas à Ásia, à Europa e ao Oriente Médio na última temporada – e lidera a produção mundial de açúcar e café há mais de um século. Também exporta mais carne bovina e suco de laranja do que qualquer outro país do planeta.

A agricultura representa 25 por cento do PIB do Brasil e mais de um terço das suas exportações anuais. Com seus amplos recursos aquíferos e clima temperado no ano inteiro, o Brasil também atraiu bilhões de dólares em investimentos de agronegócios abrindo para a agricultura vastos trechos de terras entre os trópicos e aplicando tecnologia de ponta para aumentar o rendimento de todos os tipos de cultivos.


Grandes produtores de grãos em climas mais frios, como o Canadá e a Rússia, poderiam se dar melhor do que o Brasil, pois boa parte da sua agricultura tropical já opera no limite máximo da tolerância ao calor, disse Eduardo Assad, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e autor do estudo junto com Pinto.

Temperaturas sem precedente

O clima mais cálido já está perseguindo parte da produção de café em altitudes mais elevadas. Cafeicultores nos estados de São Paulo e Minas Gerais foram os mais afetados até agora pela seca e pelas ondas de calor. “Se essas temperaturas, que são uma novidade, se repetirem, teremos um problema”, disse Mauricio Miarelli, diretor da Cocapec, associação de cultivadores com sede em Franca, São Paulo.

"Vai ter um rearranjo da agricultura brasileira", disse Assad. "A mudança climática está coçando nos nossos calcanhares".

‘Secas mais longas’

No estado da Bahia, no nordeste do País, três anos consecutivos de secas excepcionalmente intensas, que reduziram em 16 por cento a produção de soja em 2013, causaram preocupação até mesmo nos fazendeiros mais resistentes, acostumados com o clima duro e semiárido, disse Jairo Vaz, chefe de gabinete da Secretaria de Agricultura do Estado.

“Sem dúvida as secas vêm mais pronunciadas e as temperaturas subiram – isso afetou duramente nossos produtores”, disse Vaz. As 670.000 famílias de fazendeiros do estado perderam cerca de metade do seu gado durante esses três anos, disse ele.

Cerca de uma dúzia de novas variedades de grãos e milho resistentes ao calor e à aridez extremos mostraram resultados prometedores, disse Assad da Embrapa. Contudo, considerando que o Brasil cultiva entre 800 e 900 safras, o progresso em pesquisa e desenvolvimento tem sido muito lento e os investimentos, pequenos demais, disse ele.

"Essas tecnologias você não aplica de um dia para outro", disse Caio Rocha, secretário de políticas agrícolas do País, em entrevista por telefone. "Temos que mostrar para o agricultor que é do seu interesse financeiro fazer isso".

"O mundo não está conseguindo reduzir o ritmo de emissões, o que quer dizer que as temperaturas podem subir mais de 2 graus." disse Assad. "Se isso acontecer, a ciência não vai ter as respostas para a mitigação, entramos em território desconhecido".

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O veterano pesquisador brasileiro do clima Hilton Silveira Pinto aponta a seca que está reduzindo a produção de grãos e café neste ano como um indicador de que a alta das temperaturas globais já poderia estar impactando nas safras do País.

"É um treino do que vem no futuro", disse Pinto, professor no Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Universidade de Campinas.

Um estudo feito por Pinto e outros autores que analisa as tendências projetadas de aquecimento mostra que a produção de soja no Brasil poderia cair até 24 por cento e a de trigo, até 41 por cento até 2020, pois a mudança do clima reduz as áreas onde os cultivos podem crescer.

Como o Brasil está ajudando cada vez mais a alimentar o mundo, a importância disso não é só problema do Brasil. No ano passado, o País destronou os EUA como principal exportador de soja do mundo – vendeu 41,9 milhões de toneladas à Ásia, à Europa e ao Oriente Médio na última temporada – e lidera a produção mundial de açúcar e café há mais de um século. Também exporta mais carne bovina e suco de laranja do que qualquer outro país do planeta.

A agricultura representa 25 por cento do PIB do Brasil e mais de um terço das suas exportações anuais. Com seus amplos recursos aquíferos e clima temperado no ano inteiro, o Brasil também atraiu bilhões de dólares em investimentos de agronegócios abrindo para a agricultura vastos trechos de terras entre os trópicos e aplicando tecnologia de ponta para aumentar o rendimento de todos os tipos de cultivos.


Grandes produtores de grãos em climas mais frios, como o Canadá e a Rússia, poderiam se dar melhor do que o Brasil, pois boa parte da sua agricultura tropical já opera no limite máximo da tolerância ao calor, disse Eduardo Assad, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e autor do estudo junto com Pinto.

Temperaturas sem precedente

O clima mais cálido já está perseguindo parte da produção de café em altitudes mais elevadas. Cafeicultores nos estados de São Paulo e Minas Gerais foram os mais afetados até agora pela seca e pelas ondas de calor. “Se essas temperaturas, que são uma novidade, se repetirem, teremos um problema”, disse Mauricio Miarelli, diretor da Cocapec, associação de cultivadores com sede em Franca, São Paulo.

"Vai ter um rearranjo da agricultura brasileira", disse Assad. "A mudança climática está coçando nos nossos calcanhares".

‘Secas mais longas’

No estado da Bahia, no nordeste do País, três anos consecutivos de secas excepcionalmente intensas, que reduziram em 16 por cento a produção de soja em 2013, causaram preocupação até mesmo nos fazendeiros mais resistentes, acostumados com o clima duro e semiárido, disse Jairo Vaz, chefe de gabinete da Secretaria de Agricultura do Estado.

“Sem dúvida as secas vêm mais pronunciadas e as temperaturas subiram – isso afetou duramente nossos produtores”, disse Vaz. As 670.000 famílias de fazendeiros do estado perderam cerca de metade do seu gado durante esses três anos, disse ele.

Cerca de uma dúzia de novas variedades de grãos e milho resistentes ao calor e à aridez extremos mostraram resultados prometedores, disse Assad da Embrapa. Contudo, considerando que o Brasil cultiva entre 800 e 900 safras, o progresso em pesquisa e desenvolvimento tem sido muito lento e os investimentos, pequenos demais, disse ele.

"Essas tecnologias você não aplica de um dia para outro", disse Caio Rocha, secretário de políticas agrícolas do País, em entrevista por telefone. "Temos que mostrar para o agricultor que é do seu interesse financeiro fazer isso".

"O mundo não está conseguindo reduzir o ritmo de emissões, o que quer dizer que as temperaturas podem subir mais de 2 graus." disse Assad. "Se isso acontecer, a ciência não vai ter as respostas para a mitigação, entramos em território desconhecido".

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