Brasileira que luta há 35 anos contra Belo Monte é premiada em NY
Belo Monte já opera parcialmente e é destinada a ser a terceira maior usina hidrelétrica do mundo quando suas obras terminarem
AFP
Publicado em 10 de outubro de 2017 às 21h24.
Faz 35 anos que Antonia Melo da Silva luta para preservar a Amazônia e frear a construção da gigantesca usina hidrelétrica de Belo Monte na bacia do rio Xingu, afluente do Amazonas. Nesta terça-feira (10), ela foi premiada em Nova York sob aplausos.
No entanto, esta mãe e avó de 68 anos de origem humilde, moradora de Altamira, no Pará, e fundadora há duas décadas do "Movimento Xingu Vivo para Sempre", coletivo de povos indígenas, organizações religiosas, mulheres, pescadores e outros habitantes da região, não alcançou o seu maior objetivo.
Belo Monte, um projeto da ditadura militar que se tornou bandeira dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, já opera parcialmente e é destinada a ser a terceira maior usina hidrelétrica do mundo quando suas obras terminarem, em 2019, ainda que a empresa responsável pela obra, Norte Energia, seja investigada pelo suposto pagamento de propinas milionárias.
O Brasil é o país mais perigoso do mundo para os ativistas ambientais, e Antonia é alvo de ameaças de morte. Mas ela continua lutando, agora para obter indenizações para os cerca de 40.000 deslocados pela construção, que já inundou parte da floresta - quase 400 km2 ficarão debaixo d'água -, afetando a pesca, sustento das comunidades locais.
"Não tem dinheiro que compense"
"O estrago que causou nas pessoas, no meio ambiente, na vida tradicional das comunidades, dos indígenas, não tem dinheiro que compense", declarou Antonia à AFP minutos antes de receber o seu prêmio em um luxuoso hotel de Manhattan, uma doação em dinheiro - de valor não divulgado - para sua organização.
Antonia foi desalojada à força de sua casa às margens do Xingu em 2015, assim como o resto de seus vizinhos. Eles foram levados para novas residências que, segundo ela, "já estão indo abaixo". E assegura que apesar do avanço das obras "para o Movimento Xingu Vivo Belo Monte não é fato consumado".
"Tem muita coisa a ser resolvida. Continuo lutando para denunciar os crimes que Belo Monte fez e está fazendo. Para denunciar esse modelo destrutivo da vida, socioambiental, um modelo insustentável que não gera uma melhoria da qualidade de vida e não gera um benefício para as populações locais, e que causa muitos danos, muitos prejuízos, morte, doença (...). E destrói o meio ambiente e a natureza", afirma.
Antonia assegura que Altamira tem a energia mais cara do Brasil apesar da usina ser construída ali. E denuncia o aumento brutal da violência, do abuso e da exploração sexual de menores de idade, sobretudo de meninas, e o tráfico de pessoas na cidade desde que as obras começaram.
"Tudo menos limpa"
O filantropo Alex Soros, de 31 anos, filho do multimilionário George Soros e diretor da fundação que leva seu nome, assegura que Belo Monte "está literalmente afogando o pulmão da Terra" e "tapando as suas artérias, o grande rio Amazonas que leva água e comida para milhões de pessoas".
"A vencedora deste ano tem lutado valentemente para mostrar ao Brasil e ao mundo que as usinas hidrelétricas destroem vidas, famílias, comunidades. Esta é uma fonte de energia que é tudo, menos limpa", continuou.
"Amazônia viva, planeta vivo!", gritou Antonia, emocionada, com o punho em riste ao receber o prêmio diante da elite de filantropos e funcionários de fundações e ONGs.
O custo da hidrelétrica subiu consideravelmente, com um último cálculo de 13 bilhões de dólares.
A obra, iniciada em junho de 2011, foi interrompida em várias ocasiões por ordens judiciais, protestos indígenas e conflitos trabalhistas.
Quando estiver em plena operação fornecerá 11.233 MW, 11% da capacidade energética instalada no Brasil.
A Fundação Alexander Soros se dedica a promover projetos de direitos civis, justiça social e educação por meio de doações a organizações nos Estados Unidos e no exterior.