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Ato em favor da legalização da maconha lota vão do Masp

“É um começo de debate, de se pensar uma outra política, e o fim da guerra às drogas", disse ativista

Maconha: “É um começo de debate, de se pensar uma outra política, e o fim da guerra às drogas", disse ativista (OpenRangeStock)
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Da Redação

Publicado em 16 de maio de 2016 às 07h04.

A Avenida Paulista voltou a ser tomada na tarde de hoje (14) por manifestantes, mas desta vez o tema foi a defesa pela legalização da maconha , ato que ocorre pelo sexto ano seguido.

O tema deste sábado foi “Fogo na Bomba. Paz na Quebrada”. Os ativistas iniciaram, por volta das 16h30, a marcha em direção à Praça Roosevelt, no centro da cidade de São Paulo, depois de uma concentração no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp).

O trânsito de veículos foi no sentido Paraíso-Consolação, pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Três viaturas da Polícia Militar estavam estacionadas em uma das calçadas, mas o acompanhamento policial foi feito à distância sem qualquer incidente até as 17h30.

Muitos participantes usavam camisetas estampadas com o desenho da planta Cannabis sativa de onde se extrai a maconha. Também exibiam faixas e cartazes com dizeres como “Legalização já” ou “Amor, paz e sem guerra e sem forme. Sim a união dos homens”.

Durante a marcha, houve uma pausa na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta, onde todos se sentaram no asfalto e, acenderam, simultaneamente, um “baseado”, como os usuários denominam o cigarro feito a base da erva.

Rafael Presto, membro da organização Coletivo Desentorpecendo a Razão, uma das entidades organizadora do ato, disse que a marcha da maconha caminha rumo à conquista de seu propósito de debater a legalização da droga.

“É um começo de debate, de se pensar uma outra política, e o fim da guerra às drogas, que é uma politica fracassada. A própria ONU [Organização das Nações Unidas] já declarou isso, e a marcha está ai para escancarar essa hipocrisia”, afirmou.

Em defesa da causa, Presto afirmou que “dentro de uma escala de todas as drogas, a maconha é quilometricamente, uma droga menos nociva”. Para ele, a lógica de proibir para inibir não tem fundamento e só escamoteia grupos que ganham muito dinheiro em cima desse conceito.

“Mesmo não sendo usuário da erva, eu considero essa uma pauta política fundamental para a gente se engajar”, defendeu o professor de educação, Paulo Augusto Júnior, de 36 anos.

Ele fez questão de estar no ato para apoiar o movimento pela legalização da droga , justificando que o fato de ser favorável a que se tire esse tema da clandestinidade, não significa a intenção de estar se estimulando a disseminação do uso.

Para o professor, a sociedade tem de refletir sobre o que existe por trás da criminalização, envolvendo questões como de saúde pública e da corrupção policial. Além da legalização, ele acha que deveria ser adotada uma campanha educacional voltada para os jovens.

Em meio aos ativistas, durante a concentração no vão-livre do Masp, estavam cerca de 30 pesquisadores de um levantamento do perfil de manifestantes em um trabalho conjunto da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Entre eles, a estudante de filosofia da Unifesp, do campus de Guarulhos, Maria Rita Castro, de 22 anos. Segundo ela, o questionário com 36 perguntas também foi aplicado em outras manifestações como as que ocorreram, recentemente, também na Avenida Paulista, tanto a favor da aprovação quanto contra ao processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

A maconha é a droga ilícita mais cultivada, traficada e consumida do mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde. Por essa e diversas outras razões, a erva tem despertado a curiosidade de muita gente na ciência. E não faltam estudos sobre o tema. Reunimos a seguir alguns deles.
  • 2. Consumo

    2 /34(Getty Images)

  • Veja também

    Cerca de 8 milhões de brasileiros já experimentaram maconha. O dado é do 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, realizado pelo Governo Federal em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Dos 8 milhões que já fumaram a erva, aproximadamente 1,5 milhão faz isso diariamente.
  • 3. Entrada?

    3 /34(Getty Images)

  • A tese de que a maconha é uma porta de entrada para outras drogas pode não fazer sentido. Pelo menos, foi o que apontou um estudo da universidade de Pittsburgh. Nele, 214 meninos com algum tipo de envolvimento com drogas legais ou ilegais foram acompanhados dos 10 aos 22 anos. No fim do experimento, não foi constatada nenhuma relação direta entre o consumo de maconha e o posterior uso de outras substâncias. Segundo cientistas, fatores como pouca ligação com os pais se mostraram mais influentes no envolvimento com drogas.
  • 4. Trabalhadores

    4 /34(Reprodução)

    O consumo de maconha pode ser maior entre os jovens que trabalham do que entre aqueles que não o fazem. A tendência foi apontada num estudo da psiquiatra Delma de Souza, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). No trabalho, ela constatou que 8,6% dos jovens trabalhadores de Cuiabá já consumiram a droga - contra 4,4% entre aqueles que não trabalham. Participaram da pesquisa cerca de 3 mil estudantes com idades entre 10 e 20 anos.
  • 5. Crimes

    5 /34(George Frey/Getty Images/Getty Images)

    As taxas de crimes como assalto, assassinato e estupro não aumentaram nos 11 estados americanos que legalizaram o uso da maconha para fins medicinais entre 1990 e 2006. O dado é de um estudo realizado por médicos da universidade de Dallas. Com base em dados do FBI, o levantamento aponta que crimes como homicídio e assalto até diminuíram em alguns estados após a adoção da medida.
  • 6. Cérebro

    6 /34(sxc.hu)

    O consumo regular de maconha pode alterar a estrutura do cérebro. A constatação é de médicos da universidade de Northwestern. Num estudo realizado por meio de ressonâncias magnéticas com 20 pessoas que usavam a droga pelo menos uma vez por semana e 20 que não usavam, eles constataram diferenças de tamanho e forma no órgão daqueles que eram consumidores de maconha. Segundo os cientistas, essas diferenças indicavam que o cérebro tenta se adaptar à exposição à droga.
  • 7. Memória

    7 /34(sxc.hu)

    A ideia de que fumar maconha afeta memória pode estar correta. Um estudo da universidade de Northwestern com 97 participantes que já tinham consumido a erva diariamente por cerca de três anos indicou alterações cerebrais nas áreas do órgão responsável pela memória e mau desempenho em testes realizados pelos cientistas. Na época do estudo, todos os voluntários tinham parado de usar a droga havia aproximadamente dois anos.
  • 8. QI

    8 /34(Getty Images)

    Cerca de mil neozelandeses participaram de um estudo realizado pela universidade Duke entre 1972 e 2012. De acordo com os pesquisadores, testes realizados aos 13 e aos 38 anos com voluntários que começaram a usar maconha na adolescência e prosseguiram durante a vida apontaram um declínio médio de 8 pontos no quociente de inteligência dessas pessoas.
  • 9. Adolescentes

    9 /34(sxc.hu)

    A legalização da maconha para fins medicinais vigente hoje em 21 estados americanos e no distrito de Colúmbia não causou aumento do número de usuários adolescentes. O dado é de um estudo realizado pelo hospital de Rhode Island. De acordo com o trabalho que envolveu informações fornecidas por estudantes ao longo de 20 anos em diversos levantamentos, a quantidade de jovens que afirmavam ter consumido maconha no último mês ficou sempre por volta de 20% - antes e depois da legalização.
  • 10. Grávidas

    10 /34(sxc.hu)

    Um levantamento realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) num hospital da zona norte de São Paulo com 1000 adolescentes grávidas mostrou que 1,7% delas admitia ter usado drogas como maconha e cocaína durante a gravidez. Estudos apontam que o consumo da droga durante a gravidez afeta a formação do bebê.
  • 11. Psicoses

    11 /34(Reprodução)

    Distúrbios psicóticos (como alucinações, insônia severa e sensação de angústia intensa) são mais comuns entre pessoas que usam a maconha. A constatação é fruto de um estudo do Instituto de Psiquiatria de Londres. Nele, 1.900 pessoas entre 14 e 24 anos foram acompanhadas por cientistas por oito anos. No fim, verificou-se que a ocorrência de psicoses era mais comum entre quem usava ou já havia usado a droga do que entre quem nunca havia usado.
  • 12. Insetos

    12 /34(sxc.hu)

    Marcos Patrício Macedo é biólogo e agente da Polícia Civil no Distrito Federal. Por dois anos, ele analisou amostras de maconha à procura de restos de insetos. A partir deles, Macedo conseguiu determinar a origem da erva - que havia sido produzida no Mato Grosso e no Paraguai. O trabalho foi tema de sua tese de mestrado, defendida na Universidade de Brasília.
  • 13. Dependência

    13 /34(Getty Images)

    O Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas dos EUA (NIH, em inglês) considera que a maconha pode causar dependência. De acordo com o órgão, 9% dos usuários da droga se tornam dependentes. Segundo o NIH, insônia, ansiedade e diminuição do apetite são alguns dos sintomas que pessoas que sofrem com dependência da maconha costumam sentir em períodos de abstinência.
  • 14. Câncer

    14 /34(Getty Images)

    Um levantamento realizado pela faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP) apontou uma relação entre a maconha e a ocorrência de câncer nos testículos. De acordo com a pesquisa, 25% dos pacientes que chegam ao Instituto do Câncer com a doença assumem que consomem maconha regularmente.
  • 15. Gordura

    15 /34(Sxc.hu)

    Quando você põe uma comida gordurosa na boca, sua língua envia ao cérebro um sinal que estimula a produção de endocanabinóides no intestino. A descoberta é de pesquisadores da universidade da Califórnia. A liberação de endocanabinóides ativa em nosso corpo os canabinóides, que são os mesmo receptores responsáveis pela sensação de "barato" gerada pela maconha.
  • 16. Triisteza

    16 /34(sxc.hu)

    A tristeza pode ser um fator que leva as pessoas a fumar maconha. Num estudo realizado por médicos do Hospital da Criança de Boston, 40 usuários da droga foram acompanhados via computador por duas semanas. Ao longo do dia e sempre que consumiam maconha, eles deviam responder questionários sobre como estavam. No fim, foi constatado que a maioria da pessoas informava ter sentido sensações negativas nas 24 horas que antecediam o consumo da droga.
  • 17. Intoxicação

    17 /34(Wikimedia/Domínio Público)

    O número de crianças que foram vítimas de intoxicação em estados americanos onde a maconha foi parcialmente legalizada cresceu 30% entre 2005 e 2011. Porém, esse número se manteve estável nos outros estados no mesmo período. A publicação científica Annals of Emergency Medicine publicou um estudo sobre o tema. A suspeita é de que a venda de produtos comestíveis contendo princípios ativos da erva justifique o fenômeno.
  • 18. Insônia

    18 /34(kevinschneider/Photopin)

    Iniciar o consumo de maconha antes dos 15 anos de idade aumenta em duas vezes as chances de desenvolver insônia e outros problemas relacionados ao sono. A informação foi divulgada num estudo realizado por cientistas da universidade da Pensilvânia com 1.811 pessoas que tiveram contato com a substância.
  • 19. Cânhamo

    19 /34(Wikimedia Commons)

    Cientistas da universidade de Minnesota descobriram traços no DNA que diferenciam o cânhamo da maconha. As duas plantas pertencem à espécie Cannabis sativa. Porém, o cânhamo possui uma concentração muito menor do princípio ativo THC (que gera os efeitos alucinógenos da droga) e, por isso, pode ser considerado um primo sóbrio da maconha - sendo usado na indústria têxtil em função de suas fibras.
  • 20. Hormônio

    20 /34(Getty Images)

    A pregnenolona é um hormônio que reduz a atividade cerebral do receptor responsável pela sensação de "barato" gerada pela maconha. A descoberta dessa característica foi tema de um artigo publicado na revista Science. Em função desse aspecto, os cientistas estudam a possibilidade de usar o hormônio em métodos de tratamento para pessoas que sejam dependentes da droga.
  • 21. Acidentes

    21 /34(MorgueFile)

    Acidentes de trânsito envolvendo pessoas que consumiram maconha se tornaram mais frequentes no estado americano do Colorado após a legalização da erva para fins medicinais em 2009. A universidade do Colorado fez um estudo sobre o tema. No primeiro semestre de 1994, 4,5% dos acidentes na região entravam nessa categoria. No último semestre de 2011, eles eram 10% do total.
  • 22. Esclerose

    22 /34(Rick Wilking/Reuters)

    Os espasmos gerados pela esclerose múltipla podem ser aliviados com auxílio da maconha. Pelo menos, é o que indica um estudo realizado por cientistas da universidade da Califórnia. Num experimento com 30 pacientes com idade média de 50 anos, eles constataram o efeito benéfico entre aqueles que fumaram a erva durante o tratamento. Entretanto, mais estudos são necessários para confirmar a descoberta.
  • 23. Esquizofrenia

    23 /34(AFP)

    A maconha contém uma substância que pode atenuar alguns sintomas da esquizofrenia. Essa substância é o canabidiol e sua relação com a esquizofrenia é estudada por Antonio Zuardi, psiquiatra ligado à Universidade de São Paulo (USP). Ele lembra que o uso isolado de canabidiol não gera efeitos alucinógenos. Essa característica está associada a outras substâncias presentes na erva, como o Tetrahidrocanabinol ou THC (que gera alucinações e não é recomendado para esquizofrênicos).
  • 24. Epilepsia

    24 /34(Reprodução/ Filme Ilegal)

    Em abril, a justiça brasileira autorizou que uma mulher importasse legalmente um remédio à base de canabidiol (CDB). Um dos 80 princípios ativos da maconha, o CDB é usado nos EUA em medicamentos para convulsões causadas pela epilepsia. Embora não cure a doença, ele alivia as crises. Entretanto, há dúvidas sobre possíveis efeitos nocivos causados pela substância em tratamentos prolongados.
  • 25. Estrogênio

    25 /34(sxc.hu)

    Um estudo da universidade de Washington com fêmeas de camundongo mostrou que elas eram 30% mais sensíveis ao efeitos do THC (principal componente alucinógeno da maconha) do que os machos. Segundo os cientistas, a razão disso seria a maior concentração nelas do estrogênio (hormônio ligado ao processo de ovulação e outras características femininas). Esse hormônio as tornaria mais sensíveis ao THC.
  • 26. Casais

    26 /34(Getty Images)

    Os casos de violência doméstica são menos frequentes entre casais que fumam maconha. A constatação é fruto de um estudo com 634 casais realizado pela universidade de Buffalo, nos EUA. De acordo com o levantamento, quanto mais frequente era o consumo da erva, menos frequente se tornavam as agressões.
  • 27. Pulmões

    27 /34(Manan Vatsyayana/AFP)

    Fumar maconha de duas a três vezes por mês não faz mal aos pulmões. A constatação é de um estudo assinado por oito médicos e divulgado na publicação científica Journal of the American Medical Association. Para o artigo, cinco mil americanos entre 18 e 30 anos de cinco cidades diferentes foram submetidos a questionários sobre o uso da erva e sobre suas capacidades físicas.
  • 28. Twitter

    28 /34(Getty Images)

    Mais de 2.320 tuítes com referências à maconha publicados entre maio e dezembro do ano passado foram alvo de uma análise por parte de cientistas da universidade de Washington. Nela, eles constataram que 82% das mensagens sobre a erva eram positivas, 18% eram neutras e apenas 0,3% exibiam opinião expressamente negativa em relação à droga.
  • 29. Música

    29 /34(Divulgação)

    Mais de 950 estudantes participaram de um estudo realizado pela universidade de Pittsburgh. Nele, foi constatado que o número de usuários de maconha entre jovens que escutavam músicas que faziam alusão à erva era duas vezes maior do que a quantidade de usuários da droga que ouviam canções de músicos que nunca citavam a maconha em suas letras.
  • 30. Filhos

    30 /34(sxc.hu)

    Filhos de pais que fumaram maconha têm duas vezes mais chances de serem usuários da droga do que a média. A constatação é de um levantamento realizado por pesquisadores da universidade de Houston. O estudo reuniu dados de 655 pais e 1.277 filhos coletados entre 1977 e 2004.
  • 31. Separação

    31 /34(sxc.hu)

    Filhos de pais que se separam têm mais chances de se tornarem usuários de maconha. A constatação é fruto de um estudo com mais de 3.000 mães e seus filhos realizado pela universidade de Queensland entre 2001 e 2004. De acordo com o levantamento, filhos de pais separados têm 2 vezes mais chances de se tornarem usuários da erva do que filhos de pais casados.
  • 32. Diploma

    32 /34(Stock.Xchng)

    Um estudo realizado na Austrália com 3.765 pessoas de até 30 anos constatou que quem começa a fumar maconha diariamente antes dos 17 anos tem 60 por cento de chances de não concluir o ensino médio ou uma faculdade. Realizado por pesquisadores da universidade de New South Wales, o trabalho foi publicado na revista Lancet Psychiatry.
  • 33. Religião

    33 /34(Domínio Público/Wikimedia)

    Cientistas da universidade de Zurique fizeram entrevistas com 5.387 homens de cerca de 20 anos. Nelas, eles deveriam responder perguntas relacionadas à religião e consumo de substâncias como cigarro e maconha. O estudo constatou que cerca de 20% dos entrevistados que tinham alguma religião já haviam consumido maconha. Já entre os ateus, esse índice era de 36%.
  • 34. Genoma

    34 /34(Svilen Milev / SXC)

    Em 2011, a empresa holandesa Medical Genomics sequenciou e publicou na internet o genoma da maconha. Ao todo, os pesquisadores reuniram 131 bilhões de bases de DNA. A partir dos dados obtidos com o trabalho, os cientistas pretendiam descobrir novas propriedades terapêuticas da erva.
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