10 locais em SP que contam a história dos direitos humanos
Site mapeia pontos em São Paulo que foram palco de lutas por direitos humanos
Mariana Desidério
Publicado em 8 de novembro de 2014 às 05h00.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h59.
São Paulo - “Conhecer a cidade de São Paulo através das lutas por direitos , e conhecer as lutas por direitos através da cidade.” É assim que Rossana Rocha Reis, professora de ciência política da USP , resume o objetivo do projeto Cartografia dos Direitos Humanos, lançado essa semana em São Paulo. O site mapeia pontos da cidade que foram palco de lutas por direitos humanos e traz vídeos, fotos e textos sobre os episódios. “Boa parte das pessoas não tem noção do tanto de luta que foi necessária para que elas tenham uma série de direitos garantidos. Uma das intenções do projeto é mostrar a história por trás desses direitos”, afirma Rossana. A professora explica que a ideia de mapear esses movimentos pela cidade foi uma forma de aproximar as histórias da realidade do leitor. O objetivo agora é negociar com a prefeitura a instalação de totens nos locais indicados no site, a fim de contar essas histórias para quem passar por ali. Outra intenção é ampliar o número de casos relatados. O projeto é colaborativo e aceita contribuições. O trabalho é uma iniciativa do Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA) e da Cátedra Unesco de Educação para a Paz. Veja nesta galeria dez pontos da cidade de São Paulo que fazem parte da história da luta pelos direitos humanos.
Em 1968, a rua Maria Antônia, no centro de São Paulo, abrigava duas instituições de ensino superior: de uma lado a Universidade Mackenzie, do outro a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (a FFLCH). O país vivia o Regime Militar e o clima entre os estudantes era tenso. Conviviam na mesma rua professores e alunos favoráveis e contrários ao regime. Em outubro daquele ano, um pedágio organizado por estudantes da USP -- com o objetivo de custear um Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) -- acabou em confronto. Alunos de ambas as faculdades se enfrentaram com pedras, tijolos, rojões, foguetes, coquetéis molotov e tiros. Um estudante secundarista que estava na região foi atingido e morreu. O confronto seguiu até que o prédio da USP fosse parcialmente incendiado. A faculdade foi, então, realocada para o campus da Cidade Universitária, onde permanece até hoje. Atualmente, o prédio onde ficava a faculdade abriga o espaço cultural Centro Universitário Maria Antônia.
Em 7 de julho de 1978, a escadaria do Theatro Municipal de São Paulo recebeu o ato de lançamento do Movimento Negro Unificado (MNU). A manifestação foi marcada pela leitura de uma carta aberta à população em repúdio à discriminação racial sofrida por quatro jovens no Clube de Regatas Tietê e em protesto pela morte de um trabalhador negro num distrito policial. O MNU teve participação importante na criminalização do racismo pela Constituinte de 1988. O movimento também atuou pelo reconhecimento das terras quilombolas e pela inclusão da história do negro nos currículos escolares. Também foi o MNU que criou o Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro.
Em 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos deu início a uma rebelião no Pavilhão 9 da Casa de Detenção do Carandiru, na zona norte de São Paulo. A rebelião foi reprimida pela Polícia Militar, sob comando do coronel Ubiratan Guimarães; 111 presos foram mortos. Dos policiais envolvidos, 73 foram condenados. O massacre do Carandiru passou a ser símbolo das reivindicações por melhores condições para os presos no país. No entanto, até hoje aparecem casos de superlotação e maus tratos. O Complexo do Carandiru começou a ser desativado em 2002, com a transferência dos presos para outras unidades. Hoje, a Casa de Detenção não funciona mais. Parte dos pavilhões foi implodida para dar lugar ao Parque da Juventude, à Biblioteca de São Paulo e a uma escola técnica.
A Parada Gay acontece em São Paulo desde 1997 na avenida Paulista. Em sua primeira edição, teve 2 mil participantes. Dez anos depois, em 2007, chegou a 3,5 milhões de pessoas, tornando-se a maior parada do mundo. O evento é um momento importante para a comunidade LGBT dar visibilidade a suas demandas. Há quase 10 anos sua principal reivindicação é o combate à homofobia. A parada acontece tradicionalmente em junho e já faz parte do calendário turístico da cidade.
Em junho de 2013, o Movimento Passe Livre iniciou uma série de manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus, que iria subir de R$ 3 para R$ 3,20 na cidade de São Paulo. Após confrontos com a polícia, os protestos ganharam uma dimensão maior e levaram milhares de pessoas às ruas, com diversas reivindicações. O mote “Não são só 20 centavos”, expressava que o movimento havia ganhado outra dimensão. As pessoas questionavam os partidos políticos e levantaram cartazes pela melhoria dos serviços públicos. No dia 17 de junho, centenas de milhares de pessoas se reuniram no Largo da Batata, em Pinheiros, numa manifestação que tomou diversas avenidas. Houve ainda grandes mobilizações em cidades como Rio de Janeiro e Brasília. O objetivo inicial dos protestos foi atingido. A prefeitura de São Paulo voltou atrás no aumento da tarifa. Nacionalmente, a presidente Dilma Rousseff fez um pronunciamento em que propôs cinco pactos para o país: controle da inflação, reforma política e melhorias no transporte, na saúde e na educação.
O Sarau do Binho acontece desde 2004 no Campo Limpo, na zona sul de São Paulo. O evento é um símbolo do direito à cultura nas periferias da cidade. Os encontros reúnem poetas, cantores, músicos, atores, moradores da região e convidados, e buscam dar espaço para artistas independentes. Outro objetivo facilitar o acesso dos moradores à cultura. Dentre as ações promovidas está a Brechoteca, uma biblioteca comunitária na região, e a Bicicloteca, que distribui livros em casas e pontos de ônibus do bairro. O sarau já teve endereço próprio, mas o local foi fechado por falta de alvará. Hoje, os encontros acontecem de forma itinerante.
A praça Kantuta, no bairro do Pari (centro de São Paulo), recebe aos domingos a Feira da Kantuta, que traz elementos da cultura boliviana, como artesanato, dança e comida. A feira acontece desde 2001. O local também é símbolo da Marcha do Imigrante, movimento que começou em 2006, e que busca dar visibilidade às reivindicações dos imigrantes na cidade de São Paulo. O Brasil recebe um grande número de imigrantes bolivianos. Os manifestantes pedem, dentre outras coisas, a revisão do Estatuto do Estrangeiro. Segundo eles, o texto atual restringe a participação política e sindical dos imigrantes no país. Os participantes também defendem o acordo de livre trânsito entre países do Mercosul, uma nova anistia migratória e a necessidade de políticas municipais para imigrantes. Em 2013, a marcha aconteceu em dezembro, no centro da cidade, e reuniu mil pessoas, de acordo com os organizadores.
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