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Smartphones dobráveis: como se reinventar num mercado já consolidado

Uma nova geração de aparelhos com foco em design e produtividade começa a sair de um segmento de nicho para se tornar mainstream

Smartphones dobráveis: eles representam não apenas um novo design e uma forma de interagirmos com os aparelhos, mas sobretudo novas possibilidades de uso (Samsung/Divulgação)
Smartphones dobráveis: eles representam não apenas um novo design e uma forma de interagirmos com os aparelhos, mas sobretudo novas possibilidades de uso (Samsung/Divulgação)
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Opinião

Publicado em 4 de outubro de 2021 às, 10h07.

Por Mario Sousa

A grande notícia do mercado global de smartphones em 2021 é a consolidação dos aparelhos dobráveis como uma categoria mainstream. Apresentados ao mundo em 2019, eles nasceram para satisfazer as necessidades de um nicho de consumidores que buscam mais inovação e produtividade, e tinham como promessa se tornarem “as bases para o smartphone do amanhã”. Agora, já na terceira geração, que lançamos no último dia 15 de setembro no Brasil, as reações de especialistas à grande evolução técnica dos aparelhos e as projeções de vendas para os dobráveis para os próximos anos mostram que esse “amanhã” está mais próximo do que imaginamos.

Segundo dados da consultoria Strategy Analytics, o mercado de dobráveis deve triplicar de tamanho em 2021, chegando a 6,5 milhões de unidades vendidas. É o início de uma ascensão importante do segmento, que deverá chegar a 117,2 milhões de unidades vendidas em 2025, mais do que dobrando de tamanho no acumulado ano a ano. No Brasil, é possível observar a categoria dos smartphones premium, na qual os dobráveis se inserem. Segundo dados da GFK, o segmento dos aparelhos é o que mais cresce no Brasil. Entre 2019 e 2021, observou-se um aumento de 131% em volume de vendas e 152% em faturamento. A participação no mercado geral de smartphones também cresceu. Em unidades vendidas, saltou de 7% em 2019 para 17% em 2021. Em faturamento, a fatia passou dos 21% para 41% no mesmo período.

Os smartphones dobráveis representam não apenas um novo design e uma forma de interagirmos com os aparelhos, mas sobretudo novas possibilidades de uso. Eles foram criados a partir de uma conexão direta com os consumidores, entendendo a maneira que os dispositivos têm sido utilizados e quais são as necessidades no dia a dia. Vivemos uma era em que o consumo de conteúdo por meio do smartphone se multiplica em diversas frentes, fazendo com que o tamanho da tela e a capacidade de executar diversas tarefas simultaneamente tornem-se ferramentas fundamentais. E não só isso: o próprio movimento de abrir e fechar dos aparelhos, a possibilidade de navegar em múltiplas telas (e em diferentes posições), além da integração com os recursos das canetas inteligentes, abre caminho para o desenvolvimento de novas funções que irão impactar no nosso dia a dia. Em outras palavras, estamos diante daquele raro momento em que uma mudança tecnológica também tem um potencial para transformar nossos hábitos.

É o que ocorreu quando surgiram os primeiros celulares e o ato de falar ao telefone deixou de ser algo que fazíamos restritamente num aparelho fixo em casa, no escritório ou no orelhão. Ou quando os fones sem fio começaram a se popularizar e pessoas passaram a caminhar pela rua “falando sozinhas” e gesticulando por aí – causando estranheza de quem não conhecia a tecnologia. Nos últimos cinco anos, o hábito de pagar também se transformou a partir dos smartphones. É cada vez mais comum ouvir a frase ao fim de uma compra: “É por aproximação?”. Imagine o constrangimento que uma pergunta dessa poderia causar há poucos anos?

Todos esses hábitos introduzidos pela inovação nos dispositivos móveis foram incorporados e passaram a fazer parte da nossa rotina. Os dobráveis abrem caminho para muitos outros. A começar pelo tamanho da tela, que praticamente dobra de tamanho quando aberta. É um convite a quem hoje consome entretenimento em tablets, notebooks ou TVs e passará a usar o smartphone como mais uma opção. O simples movimento de colocar a tela dobrada em 90 graus com um dos lados sobre uma superfície plana abre caminho para uma série de funções novas: vídeo chamadas, fotos e vídeos sem precisar de um apoio. Quem vive em reuniões de trabalho ou consome conteúdo nas redes sociais (principalmente as danças e memes divertidos) sabe como essa inovação torna tudo mais prático.

Mas a realidade é que só é o início, pois a maior parte da mudança de hábitos ainda estão por vir e depende dessa conexão que os desenvolvedores de aplicativos têm com seus usuários. Milhares de desenvolvedores de aplicativos já estão explorando as novas dimensões, características físicas e conjuntos de sensores para criar novas formas de interação entre usuários e aparelhos. Em breve, novas aplicações na área de entretenimento, produtividade, saúde e bem-estar devem surgir especificamente a partir das características dos smartphones dobráveis.

Do lado do consumidor, há diversos indícios que mostram que existe grande interesse na categoria dos dobráveis, que tem como principais características o design e a inovação. Uma pesquisa realizada por meio da plataforma de Human Analytics da consultoria MindMiners fez a seguinte pergunta para usuários de smartphones: “Qual fator que chamou a sua atenção na hora de comprar seu smartphone atual?”. O design apareceu em primeiro lugar, com 32% das menções, seguido por inovação tecnológica, com 20%. Só depois apareceram fatores como recomendação de amigos e parentes (15%), anúncios em lojas (10%) e recomendação de influenciadores (8%).

Estamos diante de mais um movimento típico de popularização de uma nova tecnologia. Basta andar um pouco para trás na história dos dispositivos móveis. Os smartphones tornaram-se personagens tão centrais nas nossas vidas nos últimos anos que é difícil lembrar que, não faz muito tempo, esses aparelhos eram voltados a um nicho de usuários. Criados na década de 1990, eles só começaram a ter relevância comercial em meados dos anos 2000, tendo produtividade como principal apelo. Serviam basicamente para responder e-mails, organizar a agenda, ler e editar alguns documentos. No fim da década de 2010, as lojas de aplicativos impulsionaram a popularização e a criação de novas funções para esses aparelhos, mas foi só em 2013 que as vendas globais de smartphones superaram a dos celulares convencionais. De lá para cá, o mercado consolidou-se e evoluiu numa velocidade rara de se ver em outros setores. Os smartphones dobráveis têm tudo para repetir esse movimento nos próximos anos. Eles chegaram para ficar.

Mario Sousa é diretor sênior de produto e planejamento estratégico da divisão de dispositivos móveis da Samsung Brasil.