Lavoro registra prejuízo líquido de US$ 154,6 milhões no ano fiscal de 2024
Empresa divulgou nesta quinta-feira, 31, seus dados financeiros referentes ao quarto trimestre fiscal, confirmando a percepção de alguns agentes econômicos de que o período foi desafiador
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 31 de outubro de 2024 às 21h20.
Última atualização em 31 de outubro de 2024 às 21h31.
A Lavoro, distribuidora de insumos, divulgou nesta quinta-feira, 31, os dados financeiros consolidados do ano fiscal, que vai de julho de 2023 a junho deste ano, confirmando a percepção de alguns agentes econômicos de que foi um ano desafiador — o prejuízo líquido da Lavoro cresceu 254%, alcançando US$ 154,6 milhões neste ano.
Para o CEO da empresa, Ruy Cunha, trata-se de um " cisne negro " - um conceito do mercado para definir eventos financeiros raros e imprevisíveis. Segundo ele, os responsáveis pelo resultado foram o aumento de impostos, juros mais altos no Brasil e nos EUA, além da ausência de benefícios fiscais e maiores custos financeiros.
O lucro bruto da empresa caiu 19%, totalizando US$ 268,4 milhões, enquanto as margens brutas encolheram 4,3 pontos percentuais, chegando a 14,2%. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) teve queda de 48%, fechando em US$ 38,6 milhões.
Considerando todas as operações da Lavoro, a dívida líquida encerrou o ano com R$ 924,9 milhões, enquanto só a operação brasileira foi de R$ 371,6 milhões.
A receita da Lavoro, no entanto, somou US$ 1,89 bilhão, um crescimento de 5% em relação ao mesmo período do ano passado. Em reais, a receita permaneceu estável, com o aumento da participação de mercado e do volume de vendas compensando as pressões deflacionárias nos preços dos insumos.
O desempenho da revendedora de insumos refletiu uma tendência mais ampla observada na safra 2023/24, caracterizada pela redução no ritmo de compra de insumos pelos produtores. A situação, inclusive, foi apontada pela Agrogalaxy, outra revendedora de insumos, como um dos principais fatores para o seu pedido de recuperação judicial.
"As revendas de insumos agrícolas trabalham com estoques variados: dependendo do produto, pode haver um estoque para um mês ou até para três meses, ou até um pouco mais. Uma variação forte nos preços dos insumos tende a ter um impacto direto nas margens de lucro", diz Cunha. "O agravante no Brasil foi o fato de que as revendas estavam com níveis de estoque mais altos."
Para o CEO, o fator não apenas gerou um impacto maior nas margens, mas também intensificou a competição de preços, levando a uma deterioração significativa nos valores de venda.
Com a redução das margens de lucro no agronegócio, muitos agricultores decidiram postergar a compra de insumos, aguardando condições mais favoráveis no mercado.
Principais commodities agrícolas que o Brasil exporta
Safra 2024/25
Se a safra 2023/24 foi desafiadora, a temporada 2024/25 "não deve ser simples e nem fácil", admite o CEO à EXAME. Na visão de Cunha, os preços dos insumos indicam uma tendência de estabilização, o que deve se refletir no resultado da companhia.
"Esse movimento é uma boa notícia, pois o negócio de revenda funciona com base em um markup: compra-se o insumo, aplica-se uma margem e realiza-se a venda. Com a estabilização dos preços, o cenário tende a favorecer uma melhoria nas margens do setor", acredita o executivo.
Segundo estimativas de algumas casas de análises, as margens para o produtor rural devem melhorar por causa de custos menores diante de uma safra recorde de grãos no Brasil.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o país deve alcançaruma produção de322,47 milhões de toneladas em 2024/25. Se confirmado, o número representará um aumento de 8,3%em relação à temporada anterior.
Mesmo com a perspectiva de um desempenho superior, o CEO da Lavoro afirma que a empresa enfrenta dois grandes desafios para 2025: liquidez e rentabilidade. Segundo Cunha, a menor rentabilidade do produtor gera um efeito cascata que reduz a disponibilidade de crédito e atinge, lá na ponta, as revendas.
"Dessa forma, o produtor acaba atrasando compras, alongando pagamentos e comprando menos à vista, o que traz um aperto de liquidez geral no mercado, que acredito ser temporário. Até porque a tendência natural de melhoria de margem deveria levar a uma melhora nas condições de crédito, mas hoje, a realidade é que esse é o desafio de curtíssimo prazo", afirma Cunha.