Em carta a ministro, Carrefour pede desculpas, mas não muda postura sobre carne brasileira
Na última quarta, a rede da França anunciou que não comprará carne proveniente dos países do Mercosul
Publicado em 26 de novembro de 2024 às 09h01.
Depois de anunciar que não compraria carnes de países do Mercosul, o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, em carta divulgada pelo portal NeoFeed, ressaltou a qualidade da carne brasileira e pediu desculpas. No entanto, ele não alterou a postura sobre a carne do Brasil.
"Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito as normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas", disse Bompard
Na quarta-feira passada, 20, Bompard, em carta enviada a Arnaud Rousseau, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores (FNSEA), o principal sindicato agrícola da França, afirmou que a medida está fundamentada na “solidariedade com o mundo agrícola” e reafirmou o compromisso do Carrefour de não comercializar nenhuma proteína animal proveniente de países membros do Mercosul, como Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
A fala de Bompard gerou uma reação em cadeia no agronegócio brasileiro. Desde a última sexta-feira, 22, frigoríficos brasileiros suspenderam as vendas de carne para toda a rede Carrefour no Brasil, incluindo as marcas Sam's Club e Atacadão, que também fazem parte do conglomerado francês.
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, declarou apoio à suspensão de vendas de frigoríficos brasileiros à rede. Durante uma entrevista à Globo News, Fávaro afirmou que a decisão “mostra a soberania e o respeito à legislação brasileira”.
No final da noite de segunda-feira, 25, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a reação do governo brasileiro as declarações do CEO global do Carrefour era “justificada “. Segundo ele, a expectativa é de que a empresa se “reposicione” neste caso.
Diante disso, a alternativa para Bompard seria se retratar com o mercado brasileiro. Segundo o NeoFeed, que teve acesso à carta, o documento foi entregue pelo embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, a Fávaro, e para assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na carta, apesar do pedido de desculpa, o CEO não voltou atrás, afirmando que o Carrefour França é o 1º parceiro da agricultura francesa e que a rede compra quase todos os produtos que precisa do próprio país.
“A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais” afirmou.
A França respondeu por apenas 0,00476% das exportações de carne bovina brasileira entre janeiro e outubro deste ano, com um volume total de 165 toneladas em equivalente carcaça (TEC), medida utilizada para padronizar a pesagem da carne bovina.
No mesmo período, o Brasil exportou 3,47 milhões de toneladas de carne, sendo a União Europeia responsável por 92,41 mil toneladas. Em valor FOB, o montante alcançou US$ 445.886,57 milhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), compilados pela consultoria SAFRAS & Mercados.