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Após El Niño, chance de La Niña neste ano deixa produtores rurais em alerta sobre clima

Órgão dos EUA vê 65% de chance de ocorrer fenômeno, que reduz chuvas no Sul

O órgão de monitoramento do clima dos EUA estima chance de 65% de haver La Niña entre agosto e outubro de 2024 (Leandro Fonseca/Exame)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 6 de fevereiro de 2024 às 07h38.

Depois de um ano marcado pelo El Niño , que provocou seca no Norte e temporais frequentes no Sul do país, afetando a produção agrícola em várias regiões do Brasil, produtores estão em alerta agora para o fenômeno La Niña. A possibilidade de este ocorrer no segundo semestre deste ano é cada vez maior, segundo a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, pela sigla em inglês).

O órgão de monitoramento do clima dos EUA estima chance de 65% de haver La Niña entre agosto e outubro de 2024.

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Em períodos de La Niña, em média, chove menos no Sul e mais no Norte e Nordeste do Brasil. No Sudeste e Centro-Oeste, há chances de períodos frios e chuvosos.

O meteorologista Willians Bini, da Climatempo, diz que não há razões para alarmismo no momento. Mas admite que o Sul precisa ficar atento a um retorno do La Niña:

— O excesso de chuva (de hoje) no Sul do Brasil deixa de ser algo real, e pelo contrário, já tem um risco de chuvas irregulares. Isso para o agro no Sul passa a ser uma informação extremamente relevante, pelo possível déficit hídrico em algumas áreas.

No Sul, a falta de chuvas entre agosto e outubro é uma grande dor de cabeça para os produtores, principalmente os do Rio Grande do Sul, que iniciam o plantio de soja no fim de setembro.

O La Niña esteve ativo de 2020 até março de 2023 e causou secas históricas no Sul do Brasil.

— O milho e a soja sofrem com a seca, mas como é o primeiro ano de um possível La Niña, tende a ser uma interferência branda — afirma Desirée Brandt, meteorologista da Nottus.

Ela não descarta, porém, que a seca severa se repita caso o fenômeno continue ativo em 2025.

Alívio no Norte e Nordeste

Essa é uma possibilidade que produtores gaúchos, como Everton Behrenz, não gostam nem de ouvir. As estiagens provocadas pelo La Niña nas safras 2021/22 e 2022/23 deixaram más lembranças para Behrenz, que produz grãos em Tiradentes do Sul, no noroeste do estado.

Em 400 hectares, dos quais 25% são área própria e o resto é arrendado, ele chegou a ter perdas de até 90% na colheita de soja e milho naquelas duas temporadas em decorrência da falta de chuvas.

— Costumamos colher cerca de 60 sacas de soja por hectare. Com a seca, as melhores áreas renderam 20 sacas por hectare. Em algumas, foram apenas 5 sacas por hectare — lembra Behrenz.

Atento à provável ocorrência do fenômeno este ano, ele diz que é preciso investir em adubação e controle de pragas, mas ressalta que não é hora de gastar com novos equipamentos ou terras.

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O produtor Ronaldo Brandalise, que planta soja em 340 hectares, distribuídos entre os municípios gaúchos de Quatro Irmãos, Erebango e Estação, diz que o ideal seria ter irrigação para enfrentar o La Niña:

— Como nossas áreas não são propícias para isso, vamos buscar fazer bastante palhada, calagem, investir em agricultura de precisão, para que as plantas não sofram com estiagem — afirma ele, que teve perdas de até 50% na safra 2022/23 por causa da seca.

No Sudeste e Centro-Oeste, não há risco de faltar chuva durante a safra, mas as precipitações podem demorar um pouco mais. Segundo Bini, da Climatempo, pode ser que, em vez de setembro, as chuvas comecem em outubro.

Já Desirée, da Nottus, chama atenção para a possibilidade de doenças nas lavouras, pois o La Niña aumenta as chances de invernadas (períodos frios e chuvosos em pleno verão) na época da colheita:

— As chuvas favorecem o surgimento de doenças fúngicas — diz a meteorologista.

Mas, se causa preocupação no Sul, o La Niña pode ser benéfico para o Nordeste e Norte, que sofreram com secas severas no último ano.

No Nordeste, o “La Niña trabalha junto com o Oceano Atlântico”, diz a meteorologista. A chuva só acontece mesmo se o oceano estiver aquecido nas áreas costeiras. Hoje, os modelos de longo prazo indicam atraso nas chuvas no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), mas que devem ser bem distribuídas quando chegarem.

- São condições favoráveis. O La Niña pode garantir um fôlego a mais para a próxima safra com chuvas mais bem distribuídas no Matopiba - diz Bini.

Na Região Norte, que não teve período de cheias em 2023, a expectativa é de volta à normalidade com o fim do El Niño. Segundo Desirée, o verão vai se encerrar ainda com os níveis dos rios baixos, mas a tendência é que as chuvas voltem à normalidade na região.

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