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Agricultores franceses fazem segunda semana de protestos contra acordo UE-Mercosul

Além dos produtores, o setor industrial tem se posicionado contra a tratativa

Produtores franceses mobilizaram tratores em frente à prefeitura de Charleville-Mézières, na França, e em subprefeituras locais contra o acordo Mercosul e UE (Coordination Rurale/Divulgação)
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 25 de novembro de 2024 às 16h18.

Última atualização em 25 de novembro de 2024 às 16h19.

Pela segunda semana consecutiva, agricultores franceses realizam protestos em diferentes regiões do país contra o acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul. As informações são do jornal Le Monde e da agência Associated France Press (AFP), divulgadas nesta segunda-feira, 25.

Segundo os veículos, os produtores chegaram a 'construir' ummuro simbólico diante da prefeitura de Ardennes, região conhecida por produzir carne de cavalo, leite e cereais, como forma de demonstrar o distanciamento entre os agricultores e o governo.

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Na cidade de Arras, conhecida pela produção de grãos, cereais e cerveja, cerca de 100 agricultores se reuniram em frente à prefeitura. Utilizando tratores, eles despejaram palha, pneus e esterco em protesto contra os problemas de renda enfrentados por metade dos agricultores da região, segundo líderes sindicais.

Hoje, na rodovia A20, que conecta Toulouse a Paris, os produtores bloquearam parcialmente o trânsito, direcionando os protestos contra caminhões frigoríficos.

Em Avermes, membros da Coordenação Rural bloquearam o acesso a um centro de abastecimento de produtos frescos da rede Leclerc, despejando resíduos e pendurando manequins em árvores como forma de protesto.

Em Haute-Savoie, agricultores bloquearam plataformas logísticas em duas cidades com tratores, sem interromper o tráfego, demonstrando organização estratégica.

Os protestos também refletem os desafios enfrentados pelo setor agrícola em 2023, incluindo perdas em colheitas de cereais, o impacto da febre catarral ovina e dificuldades financeiras agravadas por regulamentações rígidas e preços baixos, que comprometem a sustentabilidade das atividades agrícolas.

De acordo com o ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Carlos Fávaro, o acordo do Mercosul com a União Europeia deve ser assinado no próximo dia 6 de dezembro.

Carrefour na França

Na semana passada, o presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores (FNSEA), Arnaud Rousseau, representante da maior entidade do setor na França, declarou que a FNSEA rejeita “o aspecto agrícola” do acordo, “como está redigido atualmente”. Rousseau, entretanto, não esclareceu se a posição poderia mudar com eventuais alterações no texto.

Ele reconheceu que “outros setores da atividade econômica podem ter interesses ofensivos” no tratado, mas destacou que, no lado agrícola, isso não acontece, já que, segundo ele, “hoje, a agricultura é a contrapartida, aquela que perde na França e na Europa”.

Além dos sindicatos, o setor industrial tem se posicionado contra a medida. Na quarta-feira, 20, o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, afirmou que a rede francesa suspenderia as compras de carnes de países do Mercosul. Em seguida, o grupo varejista francês Les Mousquetaires também declarou boicote à carne do bloco sul-americano.

A fala de Bompard gerou uma reação em cadeia no agronegócio brasileiro. Desde a última sexta-feira, frigoríficos brasileiros suspenderam as vendas de carne para toda a rede Carrefour no Brasil, incluindo as marcas Sam's Club e Atacadão, que também fazem parte do conglomerado francês.

Hoje, o CEO do grupo francês Tereos, Olivier Leducq, manifestou-se contrário à aprovação do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. A empresa, que fabrica o açúcar Guarani vendido no Brasil, é a segunda maior produtora do insumo no país.

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