Negócios

Atacarejos são a bola da vez, mas ele prefere supermercados — e criou aí um negócio bilionário

Sétima maior rede supermercadista do Rio Grande do Sul, a Asun projeta faturamento de R$ 1,5 bilhão neste ano

Antonio Ortiz, da Asun: Nós somos muito bons em supermercados, temos o espírito de servir, do atendimento (Grupo Asun/Divulgação)

Antonio Ortiz, da Asun: Nós somos muito bons em supermercados, temos o espírito de servir, do atendimento (Grupo Asun/Divulgação)

Marcos Bonfim
Marcos Bonfim

Repórter de Negócios

Publicado em 28 de dezembro de 2023 às 08h12.

Última atualização em 17 de janeiro de 2024 às 14h35.

O setor supermercadista transita por modelos diversos e cada um, a seu instante, vira a estrela. Hipermercados, mercadinhos de vizinhança, mercados autônomos, e-commerce e, no momento, o atacarejo, o modelo escolhido para lidar com a realidade dura de um consumidor com o bolso mais vazio e que tem movimentado redes como Carrefour, o Grupo Pão de Açúcar e o Grupo Koch, de Santa Catarina.

A última pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) revela 47,3% da receita total de R$ 695,7 bilhões do setor é oriunda do atacarejo. E ainda, 48,1% dos investimentos alocados ao longo de 2022 tiveram o modelo como destino.

O supermercado convencional ficou com 38,6% do faturamento e 44,4% dos investimentos. E é aqui que o grupo Asun, de Rio Grande do Sul, tem encontrado o seu negócio. O empreendimento é a sétima maior rede supermercadista do estado e faturou 1,3 bilhão de reais em 2022, 30% em relação aos números de um ano antes.

O conglomerado até atua no atacarejo com a bandeira Leve Mais Atacado — o formato responde por 20% dos resultados. Com o atacarejo, o conglomerado chegou a adquirir três lojas da rede Maxxi, do Carrefour, no Rio Grande do Sul.

Mesmo com a aposta no atacarejo, o espanhol Antonio Ortiz é taxativo sobre o modelo que persegue como ideal. Das 40 lojas distribuídas pelo litoral gaúcho, Serra, Região Metropolitana de Porto Alegre e interior, apenas seis estão no formato.

Por que o grupo não quer seguir o caminho dos concorrentes

“Nós somos muito bons em supermercados, temos o espírito de servir, do atendimento. Isso nos impede de atuar forte em atacarejo, gostamos de lojas onde conhecemos e atendemos o vizinho”, afirma o presidente do grupo.

Ao longo do tempo, a rede tem se destacado pelo mix de produtos, em setores como hortifrutti, açougue e panificação. Além disso, boa parte da receita é feita no período do verão com a ajuda dos 14 lojas do litoral. Em 2022, do valor de R$ 1,3 bilhão faturado, R$ 358 milhões - ou 28% - foram registrados na época mais quente do ano.

Ortiz também é crítico do que chama de “vestimenta pobre” do atacarejo, o que pode ser traduzido como a falta de uma roupagem que entregue experiência e serviços mais cômodos aos consumidores. E ainda da pasteurização do modelo, considerado sem identidade, e do discurso de que os atacarejos são mais baratos.

“Eles querem parecer mais baratos, mas no fundo, no fundo, não são. Eles põem ali algum boi de piranha para chamar a atenção”, diz. “Nós temos mantido uma guerra muito grande e muito forte com os atacarejos e estamos nos dando muito bem porque nós também somos agressivos em preço. Também compramos em quantidade e bastante volume”, afirma Ortiz, a segunda geração de uma história que começou em 1963.

Como o grupo Asun tem avançado no mercado

Asun é uma homenagem do pai de Ortiz à sua esposa, Asunción Romacho Garcia Ortiz, quando ele decidiu criar um pequeno armazém na garagem da casa onde moravam.

O casal chegou ao Brasil no começo dos anos 1960 com dinheiro no bolso, mas os negócios não fruíram como esperado na primeira década. Da capital gaúcha, eles partiram para a Praia do Quintão, no litoral, onde conseguiram abrir o primeiro supermercado Asun, em 1975.

“O início foi muito duro. Nós dormimos no chão do supermercado de 1975 a 1983, nós não tínhamos uma casa alugada na praia, era um caixote que era o supermercado e ali a gente comia e vivia”, diz Ortiz. A família se dividia com os três irmãos na operação, o pai dirigindo, fazendo as compras e a logística das mercadorias e Asun ficava no controle do caixa.

O retorno a Porto Alegre aconteceu oito anos depois, com a abertura de padaria e, em 1989, criaram a terceira loja, estabelecendo a base do negócio atual. Desde este período, Antonio tomou a dianteira da operação e, no final da década de 1990 após a separação dos negócios da família entre os irmãos, ele assumiu o controle do grupo tendo como única sócia apenas a esposa.

Para crescer no mercado, o grupo Asun tem estabelecido uma estratégia que mescla a construção de unidades próprias com aquisições em redes como Walmart e a sulista Bird. Nos movimentos mais recentes, além da compra das unidades do Carrefour, a Asun abriu 11 lojas entre 2021 e 2022.

Neste ano, previa mais três, número que deve ser reduzido. “Não é que a gente não queira fazer supermercado, mas é que o custo do material subiu muito”, afirma Ortiz. Ele conta que chegou a fazer 6 lojas investindo algo como R$ 15 milhões em material de construção – hoje, o valor para apenas um supermercado gira em torno de R$ 7 milhões.

Além disso, a realidade econômica, com o cenário mais incerto, levou à revisão do plano. “Nós estamos tentando colocar o maior grosso do investimento para 2024, a gente acredita que a retomada do crescimento até do Brasil vai ser no ano que vem”, diz.  Até por isso, o ritmo de crescimento deve diminuir ao longo deste ano. O valor do faturamento é estimado em 1,5 bilhão, alta de 15%.

Esta reportagem foi publicada em 14 de junho de 2023. Veja aqui o link original do texto.

Acompanhe tudo sobre:SupermercadosAbrasAtacado

Mais de Negócios

A malharia gaúcha que está produzindo 1.000 cobertores por semana — todos para doar

Com novas taxas nos EUA e na mira da União Europeia, montadoras chinesas apostam no Brasil

De funcionária fabril, ela construiu um império de US$ 7,1 bilhões com telas de celular para a Apple

Os motivos que levaram a Polishop a pedir recuperação judicial com dívidas de R$ 352 milhões

Mais na Exame