Mundo

Foto na floresta, muvuca na Paulista e crítica a acordo: como foi a visita de Macron ao Brasil

Presidente da França ficou por três dias no país e assinou mais de 20 termos de cooperação, embora tenha descartado endossar o atual acordo UE-Mercosul

Lula e Macron: como foi a visita do presidente francês ao Brasil? (Ludovic Marin/AFP)

Lula e Macron: como foi a visita do presidente francês ao Brasil? (Ludovic Marin/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 29 de março de 2024 às 15h03.

Última atualização em 30 de março de 2024 às 09h56.

A visita do presidente Emmanuel Macron ao Brasil nesta semana ficou marcada pelas fotos dele na floresta, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em clima amigável, mas também por mais uma crítica dura do líder francês ao acordo do Mercosul.

Macron começou a viagem por Belém, na terça. Logo de cara, foi a uma área de floresta ao lado do presidente Lula, onde os dois posaram para fotos. As cenas dos dois sorridentes, de camisas brancas em meio ao verde, levaram a internet a fazer piadas e comparar as cenas com um ensaio de pré-casamento.

Ao final da viagem, Macron entrou na brincadeira e postou uma montagem com a foto dos dois ao clima de La La Land. "Algumas pessoas compararam as imagens da minha visita ao Brasil com as de um casamento, e eu digo a elas: foi um casamento! A França ama o Brasil e o Brasil ama a França!", postou, na rede social X.

O clima de lua-de-mel, no entanto, não amoleceu o coração de Macron em relação ao acordo entre União Europeia e Mercosul. O presidente francês manteve firme sua postura de negar o tratado como ele está.

"Este acordo não pode ser defendido, porque foi negociado há 20 anos. A vida diplomática, dos negócios, não pode se basear em uma regra antiga. O acordo precisa ser refeito", disse, na Fiesp, em São Paulo.

"Deixemos de lado as lições de 20 anos atrás e vamos criar um novo acordo, um acordo comercial responsável, que tenha o desenvolvimento, a biodiversidade e o clima no centro, com cláusulas que tenham reciprocidade e mais exigências de todas as partes", prosseguiu.

Como exemplos, Macron citou empresas de cimento da França que reduziram seus níveis de poluição e teriam de competir com fábricas de outros países que não adotaram essas ações e poderiam vender seus produtos na Europa por preços menores. Segundo ele, os agricultores do país enfrentariam a mesma dificuldade.

Pouco antes do discurso, Macron se reuniu com empresários brasileiros, especialmente do setor da indústria, que defendem o acordo entre os blocos como uma forma de ampliar as exportações brasileiras, especialmente de produtos com maior nível técnico.

O Mercosul, bloco comercial que reúne o Brasil e mais países da América do Sul, negocia há 20 anos um acordo com a União Europeia para facilitar a venda de produtos entre os dois lados. O acordo esteve perto de ser fechado em 2023, mas a França é uma das principais resistências.

Em fevereiro, o Ministério das Relações Exteriores do Paraguai (atual presidente do Mercosul) disse que as negociações estão suspensas até as eleições para o Parlamento Europeu, que ocorrem em junho.

Ao sair do evento na Fiesp, o presidente encontrou um grupo de brasileiros na calçada, que pediram fotos com ele. Macron foi até a pequena multidão, disse amar o Brasil e cumprimentou o público.

O presidente Lula disse considerar normal as críticas de Macron ao acordo, e que elas fazem parte de um processo democrático. "O acordo é negociado entre dois blocos, o Mercosul e a União Europeia, e não entre Brasil e França", disse o líder brasileiro, em entrevista coletiva ao lado do francês, em Brasília.

Neste mesmo evento, Macron e Lula assinaram mais de 20 termos de cooperação, para ampliar parcerias em áreas diversas, como engenharia espacial, produção de helicópteros, avanço da inteligência artificial e intercâmbio de professores.

Apesar de atacar o acordo, Macron fez um chamado para que mais empresas brasileiras invistam na França. "As empresas brasileiras precisam acreditar mais na França. Somos o país mais atraente da Europa. Começamos a reindustrializar o país, fizemos muitas reformas e esforços de descarbonização", disse.

O presidente francês também defendeu mais parcerias em defesa. Em Itaguaí, no Rio de Janeiro, esteve no batismo do submarino Tonelero, parte do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), fruto de uma parceria entre o Brasil e a França firmada em 2008, cujo orçamento é de cerca de R$ 40 bilhões.

"Nós temos a convicção de que podemos criar uma nova página na cooperação estratégica entre nossos países", declarou Macron, acompanhado do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva."Meu querido Lula, esse será o local da construção de alguns dos submarinos mais avançados do mundo, e o único [nuclear] do Hemisfério Sul".

A camaradagem entre Brasil e França poderá se repetir na reunião de cúpula do G20, em novembro, no Rio de Janeiro, à qual Macron deverá comparecer. No ano que vem, celebram-se os 200 anos das relações diplomáticas entre os dois países, e uma série de eventos deverão ser realizados. Serão mais oportunidades tanto para avançar em temas importantes de cooperação quanto para tirar mais fotos que chamem a atenção.

Acompanhe tudo sobre:Emmanuel MacronFrançaGoverno Lula

Mais de Mundo

EUA: Yellen pedirá a aliados europeus para atuar de modo conjunto nas sanções contra a Rússia

Julgamento de Trump entra em fase final, em meio a suspense sobre seu testemunho

Tensão entre Milei e Sánchez, primeiro-ministro da Espanha, se desdobra em crise diplomática

Tribunal em Londres autoriza Assange a apresentar recurso contra extradição para os EUA

Mais na Exame