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De onde vêm o dinheiro e as armas do Talibã?

Derrubado em 2001 pelas tropas americanas, o grupo extremista volta ao poder após ganhar novos territórios no Afeganistão nos últimos meses

Guerrilheiro do Talibã durante patrulha nas ruas de Cabul, no Afeganistão.  (WAKIL KOHSAR/AFP/Getty Images)

Guerrilheiro do Talibã durante patrulha nas ruas de Cabul, no Afeganistão. (WAKIL KOHSAR/AFP/Getty Images)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 16 de agosto de 2021 às 17h48.

Última atualização em 16 de agosto de 2021 às 19h31.

Após duas decadas de conflito, o Talibã voltou a tomar o poder em Cabul, capital do Afeganistão, neste domingo (15). O grupo extremista declarou o país um "emirado islâmico", baseado principalmente na Lei Islâmica. Milhares de pessoas tentaram deixar o país após a fuga do presidente Ashraf Ghani.

Derrubado em 2001 pelas tropas americanas, o Talibã volta ao poder após ganhar novos territórios nos últimos meses, após o fim da permanência americana no país. Agora, o Afeganistão passou a ser controlado pelo grupo islâmico em suas principais cidades e na maior parte do território nacional. Mas de onde vem o dinheiro e as armas do grupo?

O que é o Talibã?

Na língua pashtun, Talibã significa estudante. Em 1994, ex-guerrilheros pashtuns -- o maior grupo étnico do Afeganistão--, que participaram da expulsão de forças soviéticas com o apoio dos EUA e do Paquistão, formaram um grupo. Fundado por Mohammad Omar, o grupo extremista prometia restaurar a paz e segurança no país, baseado na instauração Lei Islâmica.

Quando tomaram o poder na década de 1990, fizeram com que o Afeganistão se transformasse em uma espécie de emirado islâmico, onde as regras seriam baseadas na leitura que o Talibã fazia do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos. De acordo com esta leitura, as mulheres seriam impedidas de sair de casa sem a companhia de um homem, o uso da burca seria obrigatório além de serem proibidas de estudar e trabalhar.

O grupo teve uma participação direta no atentado contra as Torres Gêmeas do World Trade Center em 11 de setembro de 2001. O Talibã protegeu o líder da Al-Qaeda, Osama bin-Laden, além de outros integrantes. Como consequência, as tropas americanas invadiram o Afeganistão em 2001, colocando fim ao governo extremistra no país.

Após o fim do governo Talibã no Afeganistão, o grupo se refugiou em uma região que faz fronteira com o Paquistão, um dos poucos países que reconhecia o governo Talibã como legítimo. A permanência militar dos Estados Unidos no Afeganistão também fez com que o sentimento anticolonialista ficasse mais forte. Ao longo dos anos, o Talibã foi ganhan do espaço, através de um recrutamento de guerrilheiros. Agora, o grupo extremista quer recuperar o que perdeu após a intervenção dos EUA na região.

Como o Talibã é financiado?

O Afeganistão é o maior exportador de ópio do mundo e é a fonte da maior parte do dinheiro do grupo islâmico.

Cesar Gudes, chefe do escritório de Cabul do Escritório de Drogas e Crime da ONU (UNODC), disse à Reuters: “O Talibã conta com o comércio de ópio afegão como uma de suas principais fontes de renda. Mais produção traz medicamentos com um preço mais barato e mais atraente e, portanto, uma acessibilidade mais ampla.”

O Talibã já havia proibido o cultivo de papoula em 2000, mas acredita-se que tenha suavizado sua postura consideravelmente após uma reação dos fazendeiros rurais. A partir da papoula, quando ainda verde, obtém-se um suco leitoso, o ópio. Quando seco este suco passa a se chamar pó de ópio.

Especialistas acreditam que o grupo, junto com as autoridades públicas, está envolvido com o tráfico de drogas há muito tempo, mas há uma disputa sobre quanto dinheiro o grupo realmente ganha com isso.

Entre 2002 e 2017, os Estados Unidos gastaram 8,6 bilhões de dólares para diminuir o tráfico de drogas no Afeganistão, segundo o governo americano, aparentemente sem sucesso.

Um relatório confidencial compilado pela OTAN e posteriormente publicado pela Radio Free Europe, mostrou que o grupo também recebe dinheiro da mineração, do setor imobiliário e de benfeitores regionais não identificados.

O relatório já advertia: “A menos que uma ação global seja tomada, o Talibã continuará sendo uma organização extremamente rica, com um fluxo de financiamento autossustentável e apoio externo de países regionais."

Nas regiões do país que são controladas pelo Talibã, existe também um modelo de tributação, conhecido como ‘ushr’. Um relatório da ONU, divulgado em setembro de 2012, afirmou que se tratava de um imposto de 10% sobre a colheita e um imposto de 2,5% sobre a riqueza.

De onde vem as armas?

À medida que o Talibã reforçava a presença no país, o grupo extremista roubava armas que foram dadas ao exército e às forças policiais dos EUA.

Os grupos também possuem armas e equipamentos doados por grupos ou estados que, de alguma forma, simpatizam com sua causa, segundo informações do The Independent.

Os EUA já haviam acusado a Rússia de apoiar e fornecer armas ao Talibã em 2018. Em uma entrevista à BBC, o general John Nicholson afirmou que armas estavam sendo contrabandeadas pela fronteira do país vizinho Tajiquistão. A Rússia e o Talibã negaram as acusações feitas pelos EUA.

Quando os soldados americanos começaram a se retirar do Afeganistão neste ano, o exército afegão quase parou de lutar e, à medida que a ofensiva do Talibã se intensificou, milhares de soldados entregaram suas armas sem grande resistência.

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