ESG

Amigos do Bem levanta valor recorde em jantar de 30 anos e anuncia novo núcleo

Nas últimas três décadas, a ONG construiu quatro Cidades do Bem, com 540 casas de alvenaria, 123 cisternas e 60 poços artesianos

Alcione Albanesi, da Amigos do Bem: "Precisamos começar a consertar tudo isso para poder falar de futuro neste país" (Leandro Fonseca/Exame)

Alcione Albanesi, da Amigos do Bem: "Precisamos começar a consertar tudo isso para poder falar de futuro neste país" (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 4 de outubro de 2023 às 15h19.

Última atualização em 4 de outubro de 2023 às 15h23.

“Estamos condenados à civilização. Ou progredimos ou desaparecemos”. A frase de Euclides da Cunha, que aparece na segunda parte de “Os Sertões”, um dos maiores clássicos da literatura brasileira, é tanto uma profecia quanto um alerta. Para o sertanejo, personagem principal de seu mais aclamado livro, ela significa a invisibilidade. Há partes do Brasil que Euclides, estivesse entre nós, reconheceria dos tempos da Guerra de Canudos, tão bem retratada por ele. É um Brasil desaparecido da visão das elites política e econômica.

Nesta terça-feira, 3, essa mesma elite foi confrontada com esse Brasil invisível. E, convocada a ajudar na reversão do cenário, compareceu. Em uma casa de shows no bairro da Barra Funda, em São Paulo, mais de 3.000 empresários se reuniram para celebrar os 30 anos do Amigos do Bem, projeto criado pela também empresária Alcione Albanese, ex-controladora da FLC, uma das líderes no mercado nacional de lâmpadas no início do século, que atua em mais de 300 povoados do sertão nordestino em Pernambuco, Alagoas e no Ceará.

O encontro marcou a 12ª edição do jantar beneficente do Amigos do Bem e arrecadou R$ 38 milhões em doações. É uma arrecadação recorde na história da instituição, e reforça um crescimento na ambição de transformar. Os recursos serão usados para aquisição de terrenos e a construção de um novo núcleo no povoado de Cabelo Duro, no sertão de Pernambuco, além da manutenção do atendimento recorrente a 150 mil pessoas.

O novo núcleo, chamado de centro de transformação, atenderá 2 mil crianças, além de levar saúde, alimentos, água e moradia para milhares de famílias. A Amigos do Bem já tem quatro centros de transformação em Pernambuco, Alagoas e Ceará. Os recursos levantados no jantar ajudarão na manutenção do orçamento da organização, sempre no limite da capacidade financeira, pelos próximos dois anos. 

Desenvolvimento econômico sustentável

O que o sertão precisa, e sempre precisou, não é de um modelo de civilização, mas de desenvolvimento econômico, como o evento da Amigos do Bem deixou claro. A ideia de que educação e infraestrutura, geram desenvolvimento econômico e social é a base da atuação da ONG de Albanese. 

Fundada em 1993, a Amigos do Bem se transformou em um dos maiores projetos sociais do país. Começou levando ajuda em alimentos e brinquedos e evoluiu para um modelo que busca a transformação social, econômica e educativa de uma população que há décadas vive à margem do estado brasileiro. 

No palco do Espaço Unimed, famílias sertanejas contaram, em vídeo, a transformação que o projeto proporcionou em suas vidas. Os benefícios vão de construções de casa, água potável, geração de emprego e oportunidades aos meios para que o acesso à educação se torne uma realidade. 

Presencialmente, algumas das crianças e jovens atendidos pela ONG, afirmaram, entre performances teatrais e musicais, o que soa como uma mantra nas falas de Albanesi: precisamos de oportunidades para transformar essa realidade.

Os feitos alcançados pela empresária e pela ONG atraem a colaboração de nomes como Luiza Trajano, Presidente do Conselho de Administração Magazine Luiza; Elie Horn, fundador da Cyrela; Alexandre Costa, fundador e CEO da Cacau Show; entre outros.  

A ONG acumula números superlativos. Nas últimas três décadas, construiu quatro Cidades do Bem, com 540 casas de alvenaria, 123 cisternas e 60 poços artesianos. E, nos quatro Centros de Transformação, reúne mais de 10 mil crianças e jovens diariamente para atividades socioeducativas.

Ainda há muito a ser feito

Mas, para uma audiência formada por grandes empresários e que vivem realidades muito diferentes, Albanesi queria mostrar que, apesar dos resultados, ainda há muito a ser feito. Logo na entrada do evento, o convidado deparava com uma vila nordestina, muito singela e ainda com casas de taipa, construídas com barro e, geralmente, cobertas com palhas. 

“Nós trouxemos na cenografia um pouco do Sertão para fazer esse povoado. Seria muito bonito se tudo que vocês viram lá fossem peças de museu, mas não são. São peças que nós tiramos das casas das pessoas”, afirmou. “Nós estamos aqui hoje, mas eles estão vivendo nessas casas e nessas circunstâncias, meus amigos”.

A empresária aproveitou para convidar os empresários que se envolvam em ações para transformar a realidade do país. “Se nós não pararmos algumas coisas e começarmos a olhar para outras, nós não vamos deixar um mundo lindo, a herança que estamos construindo não será desfrutada pelas próximas gerações. Precisamos começar a consertar tudo isso para poder falar de futuro neste país”. 

Acompanhe tudo sobre:ONGsRegião Nordeste

Mais de ESG

Mais na Exame