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Brasil tem que 'criar cidades resilientes', diz Marina Silva após inundações

Ministra do Meio Ambiente analisa a situação do Rio Grande do Sul, após acompanhar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em duas visitas às áreas afetadas

Marina Silva, ministra do Meio Ambiente (Audiovisual/ PR/Divulgação)

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AFP
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Agência de notícias

Publicado em 15 de maio de 2024 às 18h54.

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As inundações históricas das últimas semanas no Sul mostram a necessidade de "criar cidades resilientes" no país diante das mudanças climáticas, para as quais o mundo não está preparado, disse nesta terça-feira, 14, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em entrevista à AFP.

A calamidade no Rio Grande do Sul já deixou cerca de 150 mortos e mais de uma centena de desaparecidos, e 617 mil pessoas tiveram que deixar suas casas. A tragédia também causou danos materiais colossais à economia da região.

Marina, 66, conversou com a AFP em Brasília, após acompanhar dias atrás o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em duas visitas às áreas afetadas.

Pergunta: Como você reagiu à tragédia?

Resposta: "Do ponto de vista ambiental, é triste e, ao mesmo tempo, assustador. Durante tantas décadas a gente ouvia as indicações da ciência, os ícones do bom senso, dizendo que isso iria acontecer. Chegou o tempo em que a gente vê isso acontecendo em três dimensões: na forma de enchentes aterradoras, ondas de calor e momentos de grandes secas.

Do ponto de vista político, deveria ser alavancador de mudanças estruturantes. Se não for tomada essa decisão de mitigar, adaptar e transformar o modelo de desenvolvimento que se tem no Brasil e no mundo [...] a gente não vai dar conta de fazer a transição para o fim do combustível fóssil, que é a principal causa de tudo isso que está acontecendo, no tempo necessário para que não se cause, cada vez mais, prejuízos cada vez maiores para a vida e o equilíbrio do planeta."

P: O presidente Lula reconheceu que o país não estava preparado.

R: "O Brasil é parte desse mundo que não está preparado, porque há mais de 30 anos se diz que o problema é o uso do combustível fóssil, do desmatamento, e, infelizmente, não fizemos o dever de casa como humanidade."

P: Houve falhas na prevenção?

R: "Porto Alegre tinha um sistema de drenagem, bombeamento de água, mas, infelizmente, não havia uma manutenção adequada, e quando foi necessário ativá-lo, ele não teve como responder."

P: Que lição o Brasil tira?

R: "O que estamos fazendo não é suficiente. A lição que eu tiro é a de que nós vamos ter, além de mitigar, que nos adaptar, porque as mudanças climáticas já chegaram. Criar cidades que sejam resilientes, ter planos para fazer o gerenciamento do risco, não apenas do desastre.

É necessária toda uma mobilização da sociedade para evitar, inclusive, o risco do negacionismo, que causa um prejuízo enorme para as ações [frente às mudanças climáticas]. Tudo isso tem a ver com uma visão negacionista que paralisou políticas durante quatro anos [de 2019 a 2022, durante a presidência de Jair Bolsonaro, ndr]."

P: O quão vulnerável é o país?

R: "Existem 1942 municípios vulneráveis, não na mesma intensidade. As políticas públicas, em alguns casos, significam ter uma infraestrutura resiliente, fazer remoção de população, criar sistemas agrícolas que sejam mais regenerativos, recuperar a mata ciliar na margem dos rios...

Deve-se revisar as flexibilizações que foram feitas na legislação, como uma lei no Congresso que dá poder aos prefeitos para diminuir as restrições em relação à construção nas encostas e próximo à margem dos rios, lagos e córregos."

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