Avião Solar Impulse se prepara para decolar durante o seu voo inaugural no Aeroporto de Payerne, na Suíça (Charles Ellena/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 25 de setembro de 2014 às 17h42.
Genebra - Dois pilotos suíços planejam voar em um avião movido a energia solar ao redor da Terra, testando a resistência humana e as fronteiras de uma tecnologia que os aviadores dizem que não está nem perto de atingir seu potencial industrial pleno.
Bertrand Piccard e André Borschberg se revezarão pilotando um avião ultraleve com capacidade para uma pessoa chamado Solar Impulse, que é do tamanho de um jumbo 747 da Boeing, mas com o peso de um carro familiar.
Após atravessar os EUA e concluir um voo noturno, os aviadores agora estão treinando para aguentar voar sem parar durante cinco dias e noites para se prepararem para atravessar o oceano em uma cabine minúscula, viajando a até 27.000 pés de altura e a cerca de 72 quilômetros por hora.
Entre as empresas patrocinadoras estão a fabricante suíça de relógios Omega e a Schindler Holding AG, que esperam que o projeto de US$ 160 milhões dê um impulso às energias renováveis e à conservação de eletricidade na indústria.
A Schindler está desenvolvendo elevadores movidos a energia solar.
“Este é o primeiro avião com autonomia ilimitada: não há limite em termos de tempo de voo”, disse Borschberg, 61, no hangar do Solar Impulse em Payerne, Suíça. “Como nós temos apenas um piloto a bordo, a questão principal é, como fazer com que o piloto também seja sustentável?”.
Em março os pilotos decolarão para sua jornada de 33.600 quilômetros saindo do Golfo Pérsico, dirigindo-se para o leste para cruzar a Índia, a China e os EUA antes de retornarem via Europa ou África.
Cochilos
Nos voos mais curtos, que duram cerca de 24 horas, os pilotos terão que avançar sem dormir. Nos trechos mais longos, eles poderão tirar cochilos de 20 minutos a cada três ou quatro horas, mas apenas quando o avião estiver voando sobre áreas não povoadas.
A viagem como um todo terá a duração de cerca de 25 dias de voo, que se estenderão por vários meses. A cabine é despressurizada, por isso o piloto utiliza uma máscara de oxigênio.
“Hoje, no mundo, metade da energia que usamos é desperdiçada em tecnologias antigas, motores antigos, lâmpadas antigas, casas mal isoladas, aquecedores elétricos que funcionam mal e coisas do tipo”, disse Piccard, 56.
“O que o Solar Impulse mostra é que existem soluções, que elas podem ser lucrativas e gerar empregos. É assim que você pode motivar as pessoas. De repente aparecem empresas dizendo que é preciso fazer negócios”.
A Bayer AG ajudou a desenvolver compostos de fibra de carbono para reduzir o peso do avião.
A fabricante alemã de produtos químicos também desenvolveu uma espuma de isolamento artificial que protege as baterias das temperaturas de menos de 40 graus centígrados negativos. O isolamento está começando a ser usado em geladeiras e congeladores.
Treinamento de ioga
O avião tem mais de 17.000 células solares fabricadas pela SunPower Corp., da Total SA. Elas estão impressas em uma película de resina à prova d'água produzida pela fabricante belga de produtos químicos Solvay SA.
Essa resina é mais fina que o papel e serve como a pele das asas.
Ambos os pilotos passaram por simulações de voos de 72 horas e têm cinco meses para ampliar esse total para cinco dias.
Para evitar incidentes durante os cochilos, o Solar Impulse atualizou um novo avião com um sistema que alerta o aviador se ele começa a se desviar do trajeto.
Recorrendo a um iogue indiano e a uma clínica médica suíça em busca de conselhos, os pilotos desenvolveram um regime de ioga, exercícios de respiração e auto-hipnose para manter suas capacidades intactas.
“Esperamos que mais pessoas se juntem a nós”, disse Piccard. “Nossa meta não é revolucionar a aviação. Nossa meta é revolucionar a mente das pessoas em relação às tecnologias limpas”.