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Seu Dinheiro — A abertura de capital que não caiu bem

Confira o balanço das aberturas de capital mais recentes na bolsa e uma entrevista com Ricardo Scavazza, sócio da gestora de fundos Pátria

Loja do Burger King: sucesso da rede não é feito só de hambúrgueres - e sim de uma tecnologia que passa a servir o modelo de gestão (Germano Lüders/Site Exame)

Loja do Burger King: sucesso da rede não é feito só de hambúrgueres - e sim de uma tecnologia que passa a servir o modelo de gestão (Germano Lüders/Site Exame)

AP

Ana Paula Ragazzi

Publicado em 1 de fevereiro de 2018 às 05h19.

Última atualização em 3 de agosto de 2018 às 09h04.

ABERTURA DE CAPITAL

NÃO CAIU BEM

A disparada da bolsa em janeiro não foi suficiente para impulsionar as ações de duas novatas na bolsa. Os papéis da empresa de alimentos Camil, que abriu o capital em setembro do ano passado, caíram cerca de 20% de lá para cá; os da rede de lanchonetes Burger King desvalorizaram 10% desde dezembro, quando a companhia fez seu IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ações). Os resultados da Camil são prejudicados pela deflação dos preços dos alimentos nos últimos meses. As ações da cadeia de supermercados Carrefour Brasil também foram afetadas por isso: subiram 6% desde a abertura do capital em julho de 2017, bem menos do que a alta da bolsa no período (30%).

O problema do Burger King, segundo alguns analistas, é que seus papéis foram vendidos por um preço alto demais, 18 reais, no teto do intervalo sugerido pelos bancos que fizeram a operação (o valor mais baixo era de 14 reais). A empresa de análises Eleven Financial recomendava comprar as ações do Burger King na abertura de capital apenas se fossem vendidas por 13 reais. Na data de fechamento desta edição de EXAME custavam cerca de 16 reais. Mais três empresas registraram na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pedidos para abrir o capital: a rede de lojas de brinquedos Ri Happy, a Blau Farmacêutica e a companhia de artigos esportivos Centauro. Executivos do mercado financeiro dizem que há uma corrida para fazer as ofertas de ações até maio — a partir daí, a turbulência esperada para um ano eleitoral pode dificultar as operações.


PARA LEMBRAR

CYRELA

Entre as construtoras que já divulgaram dados operacionais do fim de 2017,a Cyrela foi a que apresentou os melhores resultados. As vendas cresceram 15% no ano passado. Do total de vendas, 45% vieram de novos lançamentos, 31% da venda de estoques de unidades em construção e 24% da venda de unidades prontas. No último trimestre de 2017, a Cyrela lançou 19 projetos, que totalizaram 1,27 bilhão de reais.


ATENÇÃO

DEBÊNTURES

A rentabilidade dos principais títulos privados de renda fixa, as debêntures, caiu 35% no fim de 2017, e o motivo não foi apenas a queda dos juros. As empresas estão pagando um prêmio menor para convencer os investidores a comprar seus papéis: no primeiro semestre, a rentabilidade média dos títulos ficou 1,1% acima do CDI; no segundo, baixou para 0,5%. As empresas puderam reduzir o prêmio porque a demanda por seus papéis está elevada: com a redução dos juros, os investidores estão buscando opções mais rentáveis do que o CDI.


CÂMBIO

A PERNADA DO EURO

Berlim: crescimento europeu impulsiona o euro | Sean Gallup/Getty Images

De outubro para cá, o euro passou de 1,15 para 1,25 dólar, uma valorização de 9%. A explicação tem a ver com razões estruturais: a Europa voltou a crescer, e o medo de uma desintegração na região por causa de movimentos políticos mais extremos deu lugar à crença numa maior unificação, em especial pela aliança franco-alemã após as eleições realizadas nos dois países em 2017. Ainda assim, para Michael Kusunoki, gestor da BNP Paribas Asset Management, cujos fundos multimercado investem em euro, a moeda já subiu demais. “Esperávamos que a moeda atingisse esse patamar atual mais para meados do ano. Acho que essa subida recente, pela rapidez, teve mais a ver com o enfraquecimento do dólar do que com os fundamentos da Europa. Se houver uma correção e a cotação cair para abaixo de 1,20 dólar, é hora de voltar a comprar”, diz Kusunoki.


BOLSA

UMA JANELA SE ABRE

Projeto na Vale: a venda de papéis pode puxar as ações para baixo | Germano Lüders

Depois da migração da Vale para o Novo Mercado, com a conversão de ações preferenciais em ordinárias, termina em fevereiro o período de restrição à venda (lock up) de cerca de 16% das ações da mineradora. Esses papéis estão nas mãos dos fundos de pensão Previ, Petros e Funcef; da Bradespar, do BNDESpar, braço de investimentos do BNDES, e do banco Mitsui. Um possível movimento de venda, em particular das fundações, pode pressionar para baixo a cotação das ações e representar uma janela de entrada com preços atrativos para novos investidores. A maioria dos analistas recomenda comprar ações da Vale em razão da expectativa de retomada da economia global e da demanda por minério de ferro, que é o principal produto da empresa.


ENTREVISTA

O fundo Pátria Pipe, da gestora Pátria, rendeu 125% em 2017, o maior retorno entre os principais fundos de ações do país, segundo o Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas. Sua estratégia é investir a maior parte do patrimônio em small caps, ações de empresas de menor porte. Ricardo Scavazza, sócio do Pátria, diz o que ainda vale a pena na bolsa.

Depois da alta recente, é melhor esperar para investir em ações?

Muitas ações ficaram caras, mas ainda há oportunidades, especialmente em small caps [empresas de menor porte do mercado]. A bolsa pode ser um ótimo investimento no longo prazo para os que souberem escolher -boas empresas.

Onde estão as melhores oportunidades?

Algumas estão no setor de construção civil. Os indicadores do conjunto das incorporadoras mostram que o mercado imobiliário começou a se recuperar. O fundo investe nas ações da Tenda, que ficou à margem da crise dos últimos anos, ajudada pelo programa Minha Casa, Minha Vida. A demanda pelos imóveis que constrói, voltados para a baixa renda, continuou sólida. Também fizemos um investimento, menor, nos papéis da incorporadora Tecnisa, apostando que a retomada do setor continuará em 2018.

E fora do setor de construção?

Um grande investimento do fundo são as ações da locadora de veículos Locamerica, que se fundiu com a Unidas no fim de 2017. Os papéis valorizaram, mas os resultados estão melhorando, então continuamos acreditando.


AÇÕES

UM NOVO CICLO DO AÇO?

Depois de dois anos de baixa, as ações das siderúrgicas estão entre os destaques de valorização da bolsa — os papéis de CSN, Gerdau e Usiminas subiram 26%, 29% e 31%, respectivamente, em três meses. A valorização se deve ao aumento dos preços do aço e à perspectiva de que isso conti-nuará graças a uma combinação que não se via há anos: as economias das principais regiões do planeta estão crescendo e os estoques do produto caíram. Na China, os estoques estão em um dos menores patamares da história. No Brasil, a demanda por aço está aumentando, puxada pela retomada da indústria automotiva. Diante disso, os analistas do banco BTG Pactual aumentaram as projeções de geração de caixa de CSN, Gerdau e Usiminas para 2018 e 2019.

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