Revista Exame

A revolução das grisalhas

A quarentena reforçou um movimento de mulheres que valorizam a idade e assumem os cabelos grisalhos

Cris Guerra: cabelos grisalhos e naturais  (Márcio Rodrigues/Reprodução)

Cris Guerra: cabelos grisalhos e naturais (Márcio Rodrigues/Reprodução)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 13 de agosto de 2020 às 05h41.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 11h50.

A pandemia de covid-19 e o distanciamento social fizeram com que as mulheres deixassem de frequentar os salões de beleza para realizar procedimentos como corte de cabelo e colorização. Com isso, ganhou espaço uma tendência que já começava a despontar: mulheres assumindo os fios grisalhos. As influenciadoras que há mais tempo falam sobre o tabu do envelhecimento e da não colorização dos cabelos alcançaram ainda mais destaque nesse cenário. Um exemplo é a escritora e palestrante Cris Guerra. Em agosto do ano passado, quando completou 49 anos, ela pôs em prática o que durante quatro anos foi apenas uma ideia. “Quando meu cabelo crescia, achava bonito o branco nascendo, mas acabava não assumindo. Aos poucos fui influenciada por outras mulheres, além de ter apoio em casa e de minha cabeleireira”, diz.

Guerra mostrou o processo da mudança em suas redes sociais. Em vez de tingir de uma cor próxima ao branco, ela esperou o cabelo crescer um pouco e, em seguida, o deixou bem curto. “No geral recebi muitos elogios, e acho que a parte importante disso foi estar me amando, com uma pele boa e muita segurança no que fazia”, afirma. Em sua conta no Instagram, com 93.000 seguidores, o vídeo do corte alcançou mais de 24.000 pessoas. A advogada e youtuber Kika Ribeiro também mostrou a transição capilar em vídeos. Um deles teve 300.000 visualizações no YouTube. Para ela, o fim do uso da tintura foi, além de um ato de amor próprio, a libertação de um ritual até então obrigatório a cada 15 dias. Segundo Ribeiro, o tempo é fundamental nesse processo. “Minha dica é não fazer a transição sem segurança”, diz.

Famosas de diferentes idades têm sido inspiração para que mais mulheres assumam os brancos. Entre as celebridades grisalhas estão Samara Felippo, Astrid Fontenelle, Cassia Kiss, Alcione, Tatá Werneck, Suzana Alves e Preta Gil ­— esta última apareceu no início de agosto nas redes sociais com parte do cabelo cor-de-rosa, depois de receber críticas por deixar os fios brancos aparecerem. Nas redes sociais, páginas como Grombre e Viva Fifty! também ressaltam a beleza, muitas vezes natural, dos grisalhos das diferentes gerações. A empresa de análise de mídia social Socialbakers atesta o crescimento do número de publicações com os termos “grisalhas” e “cabelos brancos”. Já a empresa de análise de mercado Nielsen afirma que houve uma redução na compra de tinturas para o cabelo de quase 1 milhão de domicílios no primeiro semestre de 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Apesar do crescente interesse das mulheres nos cabelos grisalhos, elas relatam dificuldade para encontrar marcas e produtos específicos para esses cuidados. Em janeiro, a L’Oréal lançou a Color Extend Graydiant, primeira linha de cuidados exclusivos para cabelos grisalhos da marca Redken, com produtos para ser usados em casa e versões para os salões. “Percebemos que, assim como aconteceu com os cachos, a revolução das grisalhas está a pleno vapor. Elas querem liberdade de escolha sem deixar de lado a vaidade e o bem-estar”, diz Rafael Lopes, diretor de ­Redken e Kérastase. “Quando lançamos os produtos, tínhamos uma previsão de vendas que rapidamente foi superada, chegando a dobrar”, afirma.

Foi também de olho nesse mercado que, em novembro de 2019, a Natura anunciou o lançamento da linha de loiros e grisalhos da marca Lumina. Os três produtos buscam promover a ação antiamarelamento, a restauração da cor e a hidratação dos fios. Os produtos têm ainda outra tendência no radar das consumidoras: são 100% veganos, vêm em frascos de plástico verde e com refil, reduzindo o impacto ambiental. “Desde 2015 a Natura vem aprofundando seus conhecimentos sobre a estrutura e as necessidades dos cabelos grisalhos. Um sistema de tratamento específico para a necessidade deles sempre esteve presente em nossos planos”, diz Isabela Massola, diretora de Cores Beauty da Natura.

Aos 56 anos, a influenciadora digital Consuelo Blocker afirma ter poucos fios grisalhos para manter. Para ela, o fato de nenhuma das marcas parceiras tê-la abordado para falar de fios brancos mostra uma falta de estratégia de comunicação de times formados por pessoas de diferentes faixas etárias. “As marcas ainda têm um vácuo na montagem das equipes internas e de influenciadoras com mais idade”, diz. Blocker percebe um movimento de interesse nos cabelos brancos ligado ao desejo de ser mais genuína. “Cada fase da vida traz algo maravilhoso. Conquistamos rugas e fios grisalhos e valorizamos quem somos, mas o mercado ainda não entendeu como participar desse discurso com propriedade”, afirma.

Acompanhe tudo sobre:CabeloMulheres

Mais de Revista Exame

Negócios em Expansão 2024: 62 empresas que cresceram na categoria 2 a 5 milhões; veja ranking

Sucesso de bilheteria: como a A24 se tornou a produtora queridinha de Hollywood

TikTok, Taylor Swift, poder feminino: conheça Jody Gerson, CEO da Universal Music Publishing Group

Do vôlei para o mundo dos negócios: a sacada do ex-atleta Tande para o empreendedorismo

Mais na Exame