Kim Jong-un, da Coreia do Norte: para o país, tal movimento demonstraria a intenção de Seul de melhorar as relações com Pyongyang (KCNA/KNS//AFP)
Filipe Serrano
Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 05h00.
Última atualização em 3 de agosto de 2018 às 08h18.
O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, tenta usar os Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang para dialogar com a Coreia do Norte e reduzir o risco de uma guerra. Mas, para especialistas, a visão é otimista. A escalada militar da Coreia do Norte deverá ser retomada depois da Olimpíada.
A opinião é de Scott A. Snyder, do centro de pesquisa Council of Foreign Relations, nos Estados Unidos, e um dos maiores estudiosos em política externa coreana. Recentemente, ele lançou o livro South Korea at the Crossroads (“A Coreia do Sul na encruzilhada”, numa tradução livre).
Como interpretar a recente reaproximação entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte?
No que diz respeito à Olimpíada de Inverno, o diálogo entre as Coreias proporciona uma apólice de seguro contra o risco de perturbação durante os Jogos. Ajuda a convencer o resto do mundo que a Olimpíada vai ser segura. Mas há também um risco, porque a Coreia do Norte parece usar o evento para fortalecer sua identidade e a legitimidade do regime. Até agora, não vi nada capaz de provocar um impacto duradouro para reduzir a possibilidade de conflito militar.
Há alguma possibilidade de essas conversas levarem a uma negociação sobre as armas nucleares?
Seria ótimo, mas não. Os norte-coreanos publicamente reiteraram que nenhum país deve se preocupar com o programa nuclear, com exceção dos Estados Unidos. A Coreia do Norte quer usar o programa nuclear para levar vantagem e forçar os Estados Unidos a uma relação diferente. Possivelmente, num cenário em que ela é aceita como uma potência nuclear.
Qual é a chance de isso ocorrer?
É muito difícil para os Estados Unidos aceitarem que a Coreia do Norte é uma potência nuclear. Primeiro, ela quebrou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares em 2003. Há um elemento de ilegalidade. Segundo, porque o poder é concentrado numa pessoa só. É um sistema totalitário. Sejam quais forem os controles que existem num país como o Paquistão, que também detém uma bomba nuclear, eles não estão nem presentes na Coreia do Norte.